TRÊS ANOS DA CARNIFICINA DO ESPÍRITO SANTO

Em fevereiro de 2017, o estado do Espírito Santo escreveu uma das páginas mais tristes e perversas de sua história: entre números oficiais ou não, lamentamos mais de 300 mortos durante a greve da Polícia Militar do ES. Ocasionada pelas queixas dos policiais relacionadas aos salários e condições de trabalho, promoveu-se uma chacina autorizada pelo aparato estatal que nada fez para que o movimento paredista terminasse imediatamente.

Lembremos que à época, o Governador Paulo Hartung ilustrou a situação comparando-a com um ‘sequestro da população’ e indo na contramão das recomendações do seu próprio exemplo, afirmou que não negociaria, deixando a população à deriva por semanas. No entanto, quais foram as consequências do ‘não pagamento do resgate’? Quem foi o povo que morreu? Quem são as pessoas que foram atingidas pela carnificina de 2017? Foram os moradores das periferias, aqueles que vivem nas comunidades humildes e que sofrem diuturnamente com a ação de um Estado cada dia mais truculenta e abusiva.

A ampliação de uma política de morte e encarceramento é fato no Espírito Santo, a exemplo da presença da Força Nacional de Segurança em Cariacica, do frequente crescimento de investimento em presídios, do encarceramento em massa da juventude pobre e preta, da dispensa de profissionais das áreas de saúde e assistência social no setor de formação e RH do IASES, do aumento do adoecimento desamparado da própria PM, que tem levado integrantes da corporação ao suicídio velado e não notificado.

O Governo do Estado tanto em 2017, quanto agora, em 2020, nada fez para reparar as famílias das vítimas pela perda de seus entes queridos. Nenhum dia de luto foi decretado pelos mortos da chacina daquele fevereiro sombrio. As políticas de austeridade de antes, como de agora, só amplificam os problemas vivenciados ao escamotear as reais dificuldades sociais, com políticas de segurança pública que vão de encontro aos preceitos fundamentais de direitos humanos. 

Nesse sentido, os sentimentos armazenados daqueles dias infelizes, de três anos atrás, não estão apenas na memória dos capixabas, estão na vida de carne e osso de cada família que perdeu seus filhos, pais, amigos e parentes. Os milhões de prejuízos materiais não se comparam a uma única vida retirada, ceifada, eliminada. TODOS são sujeitos de direitos e merecem acesso a bens, serviços, mas principalmente, humanidade. 

Só com justiça e reparação poderemos superar, sem jamais esquecer, o fantasma de fevereiro de 2017.

Vitória, 04 de fevereiro de 2020

FÓRUM CAPIXABA DE LUTAS SOCIAIS

Fonte: Adufes