Mexicanos seguem nas ruas cobrando justiça, após 2 anos do massacre de Ayotzinapa

Mexicanos seguem nas ruas cobrando justiça, após 2 anos do massacre de Ayotzinapa.

Em 26 de setembro de 2014, 80 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa sofreram um ataque de policiais e paramilitares, na cidade de Iguala, estado de Guerrero, no México. O massacre resultou em 3 mortos, 43 desaparecidos e dezenas de feridos e detidos. A violência e o desaparecimento dos jovens culminou em uma onda de protesto no país e se espalhou por países latino-americanos e até mesmo na Europa. As mães dos estudantes desaparecidos exigem que “se foram pegos vivos, que o Estado os devolvam vivos”. A população culpa o governo mexicano de Peña Nieto, e desde então exige sua renúncia.

Desde quinta-feira (22), a população mexicana realizou diversas manifestações pelo país para cobrar justiça por esses desaparecimentos e também pela onda de crimes contra estudantes, professores, trabalhadores rurais, sindicalistas e jornalistas que vem acontecendo México. Nessa segunda, realizaram uma grande marcha no centro da capital, Cidade do México. 

“43 por Ayotzinapa, entre milhares de mortos e desaparecidos forçados nestes últimos dois anos. Gritamos pelas mortes de Juárez, por Atenco, por Ayotzinapa, pelo 2 de outubro de 1968, por Cherán, pelos presos políticos, por Tlataya, por Acteal, por San fernando, pelos jornalistas assassinados, por Aguas Blancas…Exigindo justiça e esclarecimento dos fatos. Castigo aos culpados. E que saia o presidente Peña!”, reafirmaram os manifestantes, em marcha na capital do país.


Frente às pressões nacionais e internacionais o governo de Peña Nieto lançou, em janeiro de 2015, o que denominou como a “verdade histórica” do caso Iguala. O titular da Procuradoria Geral da República, (PGR), Jesús Murillo Karam, afirmou que o “caso estava encerrado”. Com aparentes provas e delações, as investigações oficiais davam como resultado que os 43 estudantes tinham sido assassinados, incinerados na lixeira de Cocula e jogados no rio por integrantes do Cartel Guerreros Unidos, confundidos com integrantes do cartel rival.

Contudo, familiares das vítimas afirmam a falta de veracidade deste relato. Apoiado no trabalho realizado pelo Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), os familiares têm mantido o rechaço às tentativas do governo mexicano de dar por encerrado o caso. O informe de 608 páginas apresentado, em abril deste ano, pelos pesquisadores do GIEI, assegura que as autoridades não têm seguido as principais linhas de investigação, têm manipulado as evidências e obstruído possíveis avanços, além de proteger oficiais que aparentemente participaram dos desaparecimentos e denunciam que a justiça tem receios em avançar sobre os mandantes dos crimes.

Numa trama que envolve oficiais de segurança do alto escalão, ligações com o narcotráfico, impunidade estrutural e repressão à sociedade civil organizada, o caso representa uma bandeira de luta mundial contra a violação de direitos humanos no México.

“Junto aos especialistas e o povo na rua, temos aprendido a não deixar-nos enganar, a não deixar-nos cooptar pelo governo. Isso nos tem permitido manter unidade, e continuar a investigação (…). A sociedade diz que nós somos um exemplo. A gente acha que o povo é o exemplo, que se mantém firme, resistindo”, disse ao Brasil de Fato, Melitón Ortega Carlos, pai de Mauricio, um dos 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa.

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*Com informações do Brasil de Fato e imagens e informação do Mídia Ninja

Fonte: ANDES-SN