“A terceirização desemprega”, diz Ricardo Antunes em palestra na Ufes


Ricardo Antunes, um dos principais nomes da Sociologia do Trabalho no Brasil, esteve na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) nesta terça-feira, 21, ministrando palestra sobre o projeto de terceirização em tramitação no Congresso Nacional.   Muito aplaudido durante sua exposição, Antunes criticou o governo interino de Michel Temer e os projetos de retirada de direitos, como o  PLC 30/2015 (antigo PL 4330/2004), que libera a mão de obra em diversos setores da economia, tanto no setor público quanto no privado.

O professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) fez uma explanação sobre a conjuntura global que, segundo ele, é dominada pela hegemonia do capital financeiro e pelo neoliberalismo.  De acordo com Antunes, “a terceirização é uma burla aos direitos da classe trabalhadora e representa a volta da escravidão na era moderna”, disse, afirmando que “a era é de luta da classe trabalhadora, e que, portanto, acabou o mito da conciliação”.

IMG 4938Essa fase difícil vai passar. Temos muita luta e resistência pela frente, mas não vai ser uma fase eterna”.

A frase motivadora, dita para uma plateia composta por estudantes, professores e trabalhadores técnico-administrativos da Ufes, que estão em greve desde o último dia 16, soou como estímulo para a luta. Organizado pelo Núcleo de Estudos do Trabalho – NET/UFES – a palestra do II Seminário de Estudos do Trabalho teve como tema “Século XXI: Nova Era da Precarização Estrutural do Trabalho” e foi ministrada no Auditório Manoel Vereza, no Centro de Ciências Jurídicas e Exatas (CCJE), no campus de Goiabeiras, em Vitória.

Recepcionado pelo Comando Unificado de Greve da Ufes – que integrou a mesa de abertura do evento -, o professor lembrou que a classe trabalhadora, em escala mundial, vive período de IMG 4881destruição profunda dos seus direitos sociais e do trabalho. “No Brasil isso se agrava porque acabamos de passar por uma transição política que configurou num verdadeiro golpe de estado”, avaliou, citando como medidas destrutivas, a terceirização total, a prevalência do negociado sobre o legislado e a reforma da previdência.

Escravidão. A proposta de terceirização completa, total, se aprovada, disse Antunes, será a volta da escravidão. “É uma forma de escravidão moderna, porque na verdade abre caminho para eliminar todos os direitos do trabalho, ainda que se diga que os direitos vão ser preservados. Sabemos que é nas empresas de terceirizadas onde mais os direitos são burlados. Ou seja, vamos ter uma regressão que abrirá caminho para que o trabalho assalariado no Brasil não tenha direito nenhum”, criticou.

As consequências, segundo Antunes, serão a diminuição salarial, o aumento no tempo de IMG 4935trabalho, mais acidentes e doenças ocupacionais, assédio moral, enfim, uma superexploração ainda maior do trabalhador brasileiro.  No final, deixou sua solidariedade aos docentes, técnico-administrativos e estudantes em greve na Ufes, e saudou em especial a ocupação estudantil em escolas e universidades. 

“Não podemos deixar que a universidade pública seja destruída. Vamos ter que ter paciência para esse período difícil. É hora de fortalecer a unidade e sermos solidários às ocupações dos estudantes e aos movimentos de luta”, ensinou.  

A professora do Departamento de Serviço Social da Ufes, Juliana Iglezias, integrante do Comando Unificado de Greve (CUG), agradeceu o convite feito pelo NET de integrar o seminário IMG 4910ao Calendário de Atividades do CUG. “Estamos lutando por uma universidade comprometida com os interesses da classe trabalhadora, uma universidade que tenha ensino, pesquisa e extensão. Queremos um trabalho que não nos adoeça, uma política estudantil que garanta a permanência dos estudantes em uma universidade livre de racismo, machismo e da lgbtfobia”, disse.

Fonte: Adufes