O prédio ocupado por cerca de 400 pessoas, das quais 60 crianças e 30 idosos, pertence à União e está desativado há vários anos. A situação das famílias é crítica. Em solidariedade, a Adufes arrecada donativos para os sem moradia.
Em busca da casa própria, cerca de 400 pessoas, estão há quase duas semanas ocupando o prédio abandonado onde funcionava o antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), entre a Rua do Rosário e a Praça Costa Pereira, no Centro da capital. Despejadas pela justiça de uma área conhecida como “Fazendinha”, na região da Grande São Pedro, elas inicialmente acamparam na Casa do Cidadão (Vitória), onde funciona a Secretaria Municipal de Direitos Humanos.
Só saíram de lá após garantir inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), programa do governo federal de coleta de dados para identificação de famílias de baixa renda. Sem ter para onde ir, as famílias decidiram então ocupar o edifício Presidente Vargas (antigo IAPI). “Íamos ficar na rua, ao relento”, desabafa Isthela de Oliveira, despejada da “Fazendinha” e que, como os demais, decidiu ocupar o edifício Presidente Vargas (IAPI).
Casa própria. A esperança agora é garantir que o imóvel seja destinado a programa de habitação popular, devendo ser transformado em prédio residencial. O movimento começou com demarcação de terreno particular entre os bairros Grande Vitória e Universitário, situados na Grande São Pedro, no início de abril.
Depois de um pedido de reintegração de posse, as famílias foram retiradas de forma violenta do local, mas algumas ainda permanecem na parte baixa da “Fazendinha” que, segundo o movimento, pertence à prefeitura. A dona de casa Elizabeth Costa Couto, 53 anos, sonha em ter um local próprio para morar. “Tenho família grande (10 pessoas, entre filhos e netos) e sobrevivo de faxina e do programa Bolsa Família. Tenho uma vida muito sofrida”, relata.
Assim como Elizabeth, os demais se instalaram no prédio do antigo IAPI de maneira bastante improvisada. Inicialmente sem energia elétrica e água, o edifício aos poucos ganha ‘cara’ de habitável. As famílias mantém uma rotina de ocupação, limpeza e estruturação do imóvel para que ele possa atender às necessidades de moradia do grupo. Dormindo em redes e colchonetes espalhados por corredores e cômodos do edifício, as pessoas se ajeitam com poucas roupas e mantimentos. Uma cozinha improvisada e uma sala para reuniões também indicam que o local pode sim, vir a se tornar a casa que muitos esperam.
O pedreiro desempregado Ismael Oliveira garante que só agora tem conseguido dormir mais tranquilo. Com mulher e dois filhos de 6 e 3 anos, ele disse que morava de aluguel, mas teve que devolver o imóvel por falta de dinheiro. “Estou aqui por precisão mesmo. Pelo menos as crianças têm teto e comida”, disse.
Negociações. De acordo com a coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Maria Clara da Silva, a maioria das pessoas da ocupação está desempregada. “São pessoas totalmente desassistida pelo poder público. Quando chegaram aqui (IAPI) encontraram toneladas de lixo, ratos, baratas, e muito mau cheiro. De forma organizada e com ajuda de muitos cristãos conseguiram evitar a dor da rua, do desprezo, do desrespeito ao direito de serem cidadãos”, pontuou.
As negociações em torno da liberação do imóvel e da área da “Fazendinha” para as famílias prosseguem a passos lentos, apesar das mobilizações de entidades e movimentos de apoio à ocupação. Recentemente, a Justiça Federal negou o pedido de reintegração de posse do prédio, mas a União recorreu contra a decisão. “Estamos tentando vencer esta batalha junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e à Prefeitura de Vitória, mas os espaços de diálogos têm sido estreitos. Queremos que os governantes garantam a essas famílias o mínimo, que é o acesso à casa própria”, concluiu Maria Clara.
Doação. O presidente da Adufes, José Antônio da Rocha Pinto, esteve no prédio e ficou sensibilizado com a situação de penúria que estão sendo expostas as famílias pelo poder público. “Estamos solidários com o movimento de luta por moradia. Mesmo depois de reuniões com representantes da prefeitura e da União, até agora não houve uma proposta concreta para a solução do problema”, critica o professor Rocha.
As famílias necessitam de alimentos, água potável, produtos de limpeza, agasalhos, colchonetes, roupas de cama e toalhas de banho, materiais lúdicos para as crianças, além de fogões e botijas de gás. A sede do sindicato é um dos pontos de apoio para recebimento das doações. As entregas podem ser feita de segunda a sexta, de 9 às 18 horas.
Fonte: Adufes