Simpósio Saúde Mental destaca olhar humanizado sobre o trabalhador

Evento, que teve participação da Adufes, destacou a importância do coletivo e da humanização no trabalho.

No contexto atual em que o trabalho passa por profundo processo de mudanças, fruto da globalização, de inovações tecnológicas ou formas de gestão, e, principalmente, sofre impactos gerados pelas reformas trabalhistas e previdenciária, a temática saúde mental do trabalhador precisa ser amplamente debatida. “A cada dia, cresce no país o número de trabalhadores doentes devido às condições de trabalho. Entre os servidores públicos, por exemplo, temos altos índices de adoecimento mental, acidentes de trabalho, assédio moral, depressão e casos de suicídios”, ressaltou a socióloga Zaíra Bosco, da Coordenação de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde (MS).

Mestre em Saúde Pública, a socióloga enfatizou que, dianta de tal realidade, os trabalhadores precisam ficar atentos e vigilantes. De acordo com Zaíra, o trabalhador adoecido é visto, na maioria das vezes, com desdém pelos próprios colegas de trabalho e chefias, daí a importância de discutir e pensar coletivamente  ações preventivas.

“Talvez seja mais difícil lidar com o estigma social do que com o problema em saúde mental propriamente. Quem nunca ouviu por aí que o fulano está fazendo draminha, quando, na verdade, está com depressão ou outro agravo “invisível” aos nossos olhos insensíveis?”, questionou.

Dados. “Uma em quatro pessoas vai ter problemas de saúde mental durante a sua vida. Os números são altíssimos. É muito mais comum do que é falado”, disse.  Segundo Zaíra, as profissões mais atingidas são bancários, profissionais da educação e do transporte coletivo.

Trabalho saudável.  Para as diretoras da Adufes, Magda Castro  e Bernardete Mian, que participaram do  Simpósio, os docentes e demais trabalhadores devem ter claro que o trabalho em si pode ser prazeroso, mas a rotina marcada por excesso de atividades, metas e prazos são as principais razões para a ocorrência de adoecimentos.  “A mudança dessa realidade só será possível quando a saúde do trabalhador for de fato valorizada e entendida como prioritária”, ressaltou a professora aposentada Bernardete Miam.

Mostra de Experiências. Além de conferências, mesa redonda, oficina, a programação  contou com mostra de experiências “Saúde Mental e Trabalho”.   Durante as apresentações, os participantes do Simpósio tiraram dúvidas, fizeram desabafos e debateram sobre como o trabalho influencia na saúde. 

A professora Magda Castro, do Departamento de Enfermagem da Ufes, apresentou o resultado de  trabalho de doutoramento realizado em 2016 com um grupo de docentes do curso de enfermagem de uma universidade pública da região Sudeste do Brasil. O estudo traça um panorama sobre o exercício laboral da docência e mostra que o mesmo está permeado por sobrecarga de trabalho, excesso de responsabilidades, problemas nas relações interpessoais, repercutindo na saúde dos profissionais por meio do estresse, ansiedade, insônia, cefaleia, gastrite, entre outros.

Contudo, a professora defende a aplicação dos preceitos da Política Nacional de Humanização, do SUS, como possibilidade para a promoção de um ambiente de trabalho acolhedor e saudável.”A maioria dos docentes entrevistados destaca falta de diálogo e respeito, questões que se propagam por relações interpessoais conflituosas, ausência de autonomia e sobrecarga de atividades, o que contribuem para a não humanização no trabalho”, disse.

proif rafael gomesDe acordo com a diretora da Adufes, o estudo confirma que a humanização pode contribuir para a saúde do trabalhador quando o trabalho é considerado espaço de construção coletiva e de participação. “Não somos máquinas. O trabalho deve colaborar para um sentido à vida e não para adoecer”, concluiu, informando a importância da construção de ações coletivas em defesa do trabalho digno e saudável.

“Temos que lutar sempre por melhores condições de trabalho. Esse é um debate e uma luta que não podem ser adiados”, concluiu.

prof marluceO evento “Saúde Mental e Trabalho: precisamos falar sobre isso” foi realizado pela Rede de Formação e Pesquisa em Saúde do Trabalhador (Refopesat) nos dias 03 e 04/10, no campus de Goiabeiras, e reuniu pesquisadores, professores, representantes de sindicatos e de instituições. Contou com apoio da Adufes, SESA, Secretaria Municipal de Saúde de Vitória, Corpo de Bombeiros do ES, Diretoria de Saúde do Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo, Fundacentro e Ufes.

Fonte: Adufes