A leitura nas entrelinhas do discurso de Jair Bolsonaro explicita política de extrema direita que atuará contra trabalhadores e povo pobre

Jair Bolsonaro (PSL), presidente de extrema direita, eleito, desferiu dois discursos durante a posse no dia 1 de janeiro, em Brasília, deixando claras as intenções de seu governo.

Além dos discursos em que defende o agronegócio, empresas mineradoras (lembram-se da Samarco que destruiu o Rio Doce e populações riberinhas?), privatizações, a violência policial, o fortalecimento da política neoliberal, a retirada de direitos dos trabalhadores, como a aposentadoria, e ataca a educação, já começou a mostrar a que veio.

Em seu decreto assinado e publicado nesta terça-feira (1º) em edição extra do “Diário Oficial da União” fixou o salário mínimo abaixo do que estava previsto no já baixo Orçamento da União para 2019. O valor vai para míseros R$ 998 neste ano. Eram R$ 954. No orçamento da União constava um aumento previsto para R$ 1.006. Em agosto de 2018, o Dieese publicava que o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 3.636,04.

Também foi publicado no Diário Oficial desta terça-feira (2) que a demarcação de terras indígenas nas mãos do Ministério da Agricultura. Ou seja, latifundiários e agronegócio receber o poder de determinar a política para o campo.

Além disso, o anúncio de que os cargos de chefia no Itamaraty poderão contar com não diplomatas desmente na prática o discurso de que colocará técnicos ao invés de aliados políticos em cargos governamentais. Isso já se pratica na indicação de militares para ministérios e representantes da Igreja Evangélica.

Assim, aos que ainda tem dúvida, afirmamos: Jair Bolsonaro (PSL) não vai governar para os trabalhadores e trabalhadoras e para o povo pobre do país.   


Observe algumas de suas frases proferidas nos discursos

Ao Congresso Nacional

Em primeiro convoca o Congresso Nacional reconhecidamente corrupto e criminoso em sua maioria para apoiar seus planos: “Aproveito este momento solene e convoco, cada um dos Congressistas, para me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa Pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade…”.

Reforça a religião do grupo presidencial, os evangélicos, e avisa que vai combater os direitos de LGBTs e mulheres: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores”.

Um claro ataque à educação que busca, além de formar para o mercado, criar seres socialmente críticos com ampla visão de realidade: “Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros: que querem boas escolas, capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a militância política”.

Vem aí forte repressão policial às lutas e ao povo pobre e negro das periferias e comunidades: “Contamos com o apoio do Congresso Nacional para dar o respaldo jurídico aos policiais para realizarem seu trabalho”.

Aqui está posto sua política de privatizações, apoio ao empresariado e sua política de trabalho desregulamentado com baixos direitos e alta produtividade. “Na economia traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência”.

No discurso de posse

Já no início deixou claro distorce a realidade e mente sobre a condução política no Brasil: “É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como Presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”, disse, como se vivêssemos um socialismo nos governos anteriores de Frente Popular, de Lula e Dilma. Longe disso, eles governaram para o capital, se apoiaram em banqueiros, grandes empresários e em políticos tradicionais e de direita, atacando a classe trabalhadora em diversos de seus direitos conquistados, assim como privatizaram dezenas de estatais.  

“Respeitando os princípios do Estado Democrático, guiados pela nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu. Vamos promover as transformações que o País precisa”. Pode passar despercebido para alguns, mas Bolsonaro desrespeita o Estado laico quando mistura Deus e ações políticas.

Mostra implicitamente que governará a favor de grandes empresas mineradoras e as terras férteis serão para o agronegócio gerenciado para latifundiários e grandes empresas internacionais: “Temos recursos minerais abundantes, terras férteis abençoadas por Deus e por um povo maravilhoso”. A esse “povo maravilhoso” que dependem desses segmentos caberá a exploração, a perseguição e morte como já vem ocorrendo contra indígenas e quilombolas, donos da terras originárias cobiçadas pelo agronegócio, contra trabalhadores rurais e contra os que são explorados nas mineradoras.
 
Uma campanha baseada em notícias falsas produzidas por empresas que receberam, somente uma delas, 12 milhões de reais que não foram declarados em campanha e compõe um ministério com boa parte de militares que de nada tem de cargos técnicos ou com representações das conservadoras bancadas evangélicas: “Fui eleito com a campanha mais barata da história. Graças a vocês conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar o nosso Brasil”. Uma falácia!

Jair Bolsonaro defende a ideologia de extrema direita. Ideologia é no que acreditamos, por isso sempre existirá: “Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade”. Jair Bolsonaro defende a ideologia de extrema direita. Ideologia é no que acreditamos, por isso sempre existirá: “Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade”.


Mesmo antes de se empossado, a família Bolsonaro já este vê envolvida num escândalo de corrupção com o repasse dos salários de assessores políticos ao motorista Fabrício José Carlos de Queiroz, que recebia dinheiro mensalmente dos assessores, depositava dinheiro para a esposa de Jair Bolsonaro e movimentou 1.236.838 entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017. Assim, a frase do atual presidente mostra que não há nada de novo no front. A ampla maioria dos políticos continua corrupta e seus partidos aliados continuarão beneficiados. “A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de verdade a toda a Nação.” Assim, outra mentira.

Reforçou a meritocracia: “usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia”, como se todos tivessem oportunidades iguais.

Não detalhou as reformas que pretende, mas deixou claro que pretende fazê-las, e a prioritária será a reforma da Previdência que acabará com a aposentadoria dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, pois já defendia na campanha: “Vamos propor e implementar as reformas necessárias.”

Teremos um aumento perseguições, prisões e de mortes de negros e negras, jovens das periferias e dos que lutam no país por direito neste país: “Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares.”

A defesa do armamento e do respaldo à violência seguem: “Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança”. Nesta fala também mostra que defenderá o grande capital contra os povos originários e contra os que lutam pelo direito à moradia quando defende o direito à propriedade.

Outra grande mentira de Bolsonaro que já travou relações prioritárias com o primeiro-ministro sanguinário de extrema-direita de Israel, que extermina palestinos, o também corrupto Benjamin Netanyahu. Assim como o governo de Donald Trump nos EUA, que expulsa e permite a morte de imigrante em seus país, assim como é um dos grandes implementadores de uma ferrenha política neoliberal. Por tanto, há sim um claro viés ideológico de extrema direita: “Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais”.

Dessa forma, não podemos nos iludir, teremos um ano de muitas lutas e necessitamos da unidade de nossa classe para defender direitos sociais e o direito à vida.

A CSP-Conlutas está disposta a organizar a luta, por meio da unidade de ação, com todos e todas que estão dispostas a defender direitos trabalhistas e previdenciários, saúde e educação pública de qualidade, moradia, reforma agrária, terras aos povos originários e outros direitos.

Fonte: CSP-Conlutas