Adufes, Sintufes, DCE e suas bases participam de reunião com a Reitoria

Comunidade acadêmica relatou diversas dificuldades pelas quais está passando com o ensino remoto, reivindicou retorno presencial somente com vacina para todas e todos e pediu abertura de diálogo por parte da Administração Central.

Nessa quinta-feira (15) foi realizada reunião entre a Adufes, Sintufes, DCE e suas bases com a Reitoria. Na ocasião, as entidades expuseram a necessidade de vacinação em massa, falaram da realidade de cada um dos segmentos em relação ao Ensino-Aprendizagem Remoto, Temporário e Emergencial (Earte) e sobre a preocupação com a falta de discussão coletiva a respeito das modificações e melhorias da infraestrutura da universidade visando ao retorno presencial, quando houver condições sanitárias.

A presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão, apresentou alguns dados da pesquisa sobre trabalho/ensino remoto e saúde durante a pandemia, feita pelo sindicato. O estudo, que ainda será disponibilizado na íntegra, aponta que 79,14% das/os docentes estão trabalhando jornadas de 8 a 10 horas diárias (48,41%) ou de mais de 10 horas por dia (30,73%) durante a pandemia. A pesquisa mostra também a falta de apoio por parte da universidade para as tarefas laborais, já que 95,38% das/os professoras/es afirmam que a infraestrutura utilizada para trabalhar foi providenciada por elas/es mesmas/os. Além disso, 72,10% indicaram que apresentaram ou apresentam problemas ergonômicos e 45,68% indicaram adoecimento psíquico durante o trabalho remoto.

Os dados foram confirmados nas falas das/os docentes. A professora do Departamento de Psicologia, Luziane Siqueira, por exemplo, destacou que toda a comunidade acadêmica está sofrendo os efeitos da maneira como as atividades estão sendo conduzidas na universidade durante a pandemia e defendeu a elaboração de análises a partir dos dados existentes, como os apresentados pela Adufes. “Não podemos compactuar com o retorno sem que todos estejam protegidos. Nem na Ufes, nem nas escolas, nem nas ruas!”, disse.

Já a professora Rosemeire Brito, do Departamento de Educação, Política e Sociedade, avaliou que a Adufes trouxe dados concretos sobre o processo de adoecimento generalizado por causa do Earte e se disse impressionada com a fala do reitor em dizer que isso não tem relação com o ensino remoto, ignorando o que foi apresentado. “É estarrecedor que o reitor diga, simplesmente, para quem estiver doente procurar o Departamento de Atenção à Saúde, o DAS. Há uma perversidade societária nisso, que é de considerar o adoecimento mental, um problema tão grave e institucional, a partir de uma lógica de solução individual”.

O professor do Departamento de Terapia Ocupacional, Alexandre Cunha, que é membro do Conselho de Representantes da Adufes, disse que foi sua primeira participação em reuniões com a atual Reitoria. Para ele, “a impressão que ficou desta reunião é que a forma de fazer gestão pouco respeita a comunidade acadêmica e apesar de se dizer preocupada não transmite empatia neste momento em que tantas pessoas vivem situações de dificuldades econômicas, sociais e o contato com o luto por perdas de familiares, amigos e/ou colegas atinge a todos. Presenciar a Adufes divulgar dados de uma pesquisa realizada recentemente a respeito do trabalho na modalidade Earte e da saúde dos professores e a Reitoria minimizar os problemas de saúde da categoria e falar que existe o DAS para os que adoecerem ao invés de acolher a dor e sofrimento dos docentes é algo que nunca esperava ouvir de pessoas que, ainda que estejam na Reitoria, são docentes”.

Embora as pautas reivindicadas pela Adufes para a reunião fossem a Saúde mental, as Resoluções do Earte, o Calendário Acadêmico e a vacinação da população, elas não foram de fato debatidas. A Administração Central indicou que as entidades encaminhem uma proposta sobre os temas, entretanto, não informou quando essa proposta será discutida, de que forma e com quem.

“Assim que enviarmos ofício com as propostas, a Reitoria tem que marcar reunião conosco de forma breve, não dá para demorar. Temos destacado que são assuntos urgentes, que não podem ser protelados. Dizem respeito à qualidade de vida de toda a comunidade universitária”, diz Ana Carolina.

Reunião Ampliada. Quando a reunião foi solicitada pelas entidades, por meio do ofício 12, em 29 de março, a Adufes, o Sintufes e o DCE explicitaram que teria a participação das bases, sendo, portanto, uma reunião ampliada. Entretanto, o reitor Paulo Vargas questionou o fato de o sindicato ter disponibilizado o link, modificado pela Reitoria minutos antes da reunião, afirmando que não havia sido combinado anteriormente.

“Encaminhamos dias antes um link para realização da reunião. Questionei a mudança, pois ele foi trocado de última hora, impossibilitando maior participação da comunidade. A presença das bases foi combinada, dita mais de uma vez para a chefia de gabinete e está no ofício. Enviamos o link com antecedência e em nenhum momento houve questionamento em relação à utilização dele, e dissemos, inclusive, que estávamos contatando apoio para qualquer eventual problema na plataforma”, relata Ana Carolina.

A diretora da Adufes, Junia Zaidan, defendeu que uma Ufes democrática se faz com um espaço amplo de debate e que, inclusive, a Adufes tem disponibilizado desde o início da pandemia sua plataforma virtual para que esse processo de escuta seja efetivado, uma vez que nela é possível reunir virtualmente mais de mil pessoas. Entretanto, em nenhum momento houve uma demonstração de interesse por parte da Administração Central.

Vacinação. A vacinação para todas e todos deve ser pré-requisito para retorno às atividades presenciais. Portanto, o início da vacinação das/os profissionais da educação, na próxima segunda-feira (18), não deve ser encarada como um fato que possa abrir precedente para as aulas presencias, uma vez que a imunização será muito lenta diante da falta de vacinas e, também, pelo fato de que não basta imunizar somente as/os trabalhadoras/es da Ufes. Para que as pessoas possam retornar aos campi é preciso que as/os estudantes também sejam imunizadas/os, tanto quanto as/os funcionárias/os terceirizadas/os.

A Adufes explicou seu posicionamento em relação à solenidade de início da vacinação das/os trabalhadoras/es da educação, ocorrida nessa quinta-feira (15). Ana Carolina explicou que, embora a entidade tenha sido convidada para participar da atividade ocorrida no Palácio Anchieta, optou por não ir. “Tomamos essa decisão porque desconhecemos os critérios que estão sendo adotados e o pouco que sabemos não garante vacinação para outras categorias que precisam ser atendidas, como trabalhadoras/os do transporte, limpeza urbana, entregadores, supermercados, entre outros”. Além disso, Ana salientou que a imunização das/os profissionais da educação não garante igualdade nem dentro da própria realidade escolar. Ao que parece pelos dados até agora divulgados, merendeiras, porteiros e serventes só serão vacinados quando 90% dos professores, pedagogos, diretores e secretários de escola estiverem vacinados, “o que expressa a divisão social dos trabalhadores e a perversidade dessa lógica”, disse ela.

Para a professora Rosemeire Brito, a participação da Ufes precisa ser efetiva: “Parece que a Ufes aceita participar de qualquer tipo de comitê em condição de absoluta passividade. Não basta aparecer em ato, tirar fotografia, a Ufes é uma instituição que tem um peso, que tem uma importância muito grande no nosso estado”.

A presidenta da Adufes pediu que a Reitoria tome seu lugar e assuma sua responsabilidade social sobre a vacinação. “A Ufes precisa marcar posição de forma explícita, transparente, inequívoca e em alto e bom som sobre esse processo de imunização. A Adufes é pela vida, pela defesa da vacinação de todas e todos. Não vamos compactuar com propostas de calendários de vacinação que não levem em consideração todas e todos para que se pense em retorno presencial seguro. Não vamos compactuar com o início de vacinação e volta às aulas sem que haja imunização em massa, que é a única forma de controle da disseminação do vírus. Vacinar profissionais da educação, com todos os problemas de critérios ou ausência deles, para poder colocar todo mundo de volta em sala de aula deve nos causar, no mínimo, revolta e indignação”, afirmou Ana Carolina.

A Adufes, inclusive, solicitou à Reitoria, em 26 de março, o agendamento de uma reunião junto à Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). Entretanto, não houve retorno sobre esse pedido. Além disso, a reunião com a Administração Central da universidade, marcada para sete de abril, foi desmarcada na véspera pela Reitoria e remarcada para ontem, quando finalmente ocorreu. Por isso, o sindicato tomou iniciativa de marcar a reunião com a Sesa, prevista para esta quinta-feira (15), mas uma hora antes o encontro foi desmarcado pela Secretaria. “O que percebemos é que há tempo, espaço e escuta para partidos políticos apoiadores, empresários, movimentos ligados aos interesses econômicos, mas para os trabalhadores, nada. Por isso a Ufes precisa exercer seu papel de defender, como serviço público, seus princípios de igualdade, impessoalidade, bem comum e seu compromisso com a sociedade em geral”, finalizou Ana.

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