Em reunião com a Reitoria da Ufes, Adufes alerta para a perversidade do Reuni Digital e reafirma luta pela educação presencial

Os cortes no orçamento das universidades, o aumento dos casos de Covid-19 na Ufes e as medidas para reduzir a circulação do vírus também estiveram na pauta e a Adufes apoiará uma campanha atitudinal da Universidade de combate e prevenção à doença

Pela segunda vez, desde o início da gestão, a diretoria da  Adufes se reuniu com a Reitoria da Ufes nesta terça-feira, 21, para debater diversas pautas de interesse da categoria e de toda a comunidade acadêmica. Entre elas estavam os cortes federais de recursos para as universidades com o bloqueio de 14,5% (posteriormente reduzido à metade deste percentual) dos recursos orçamentários deste ano, promovido pelo Governo Federal. Além disso, o Reuni Digital, lançado pelo MEC na véspera da reunião, estava na pauta, assim como a estrutura e as condições de trabalho da categoria. Grande parte dos gestores das diversas pró-reitorias, órgãos suplementares e superintendências, assim como o reitor Paulo Vargas, estiveram presentes.

A presidenta da Adufes, Junia Zaidan, que participou do encontro junto com as/os diretoras/es do Sindicato Luciana Soares e Edson Cardoso, demonstrou preocupação com a posição a ser construída pela Ufes em relação ao Reuni Digital, proposta que visa expandir vagas via Ensino a Distância (EaD) e criar uma Universidade Federal Digital, de modo a atingir metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que incluem ter 40% das matrículas no ensino superior em instituições públicas, até 2024.

Segundo o censo mais recente do Ministério da Educação, dos 8,4 milhões de estudantes de graduação matriculados em instituições de ensino superior, apenas 24,6% estudam em instituições públicas. A tentativa de chegar a 40%, como prevê o PNE, se conjuga muitas vezes com o oportunismo de ampliar as formas híbridas, remotas ou totalmente à distância. “É temerário tratar uma meta do PNE de forma dogmática, tentando atingir números a qualquer custo. O problema da educação é estrutural e, portanto, requer financiamento público para garantir a qualidade. E nós sabemos muito bem que o modelo privado no qual o Reuni Digital está baseado visa expansão quantitativa e lucro, e não qualidade”, disse Junia Zaidan.

Muito antes da pandemia, o governo Bolsonaro publicou a Portaria nº 2.117/2019, que alterava de 20% para 40% a possibilidade de carga horária de EaD em cursos presenciais de graduação. Resumindo, a intenção é adotar nas federais o modelo das faculdades particulares, beneficiando grandes grupos empresariais, que pretendem abocanhar recursos públicos oferecendo em troca uma formação aligeirada, sem garantia de docentes qualificados, que exclui a pesquisa, a extensão, o que baixa a qualidade e a natureza da experiência educacional .

“É preciso que a Ufes faça a defesa do ensino presencial. Reivindicamos que a questão seja levada à mesa de debate, para a promoção de uma ampla discussão de verdade, com mecanismos eficazes para que todas e todos, dos mais variados segmentos, possam falar, ser ouvidos e, o mais importante, que suas reivindicações sejam incorporadas à posição que a Reitoria vai construir, antes de qualquer decisão com relação ao Reuni Digital”, afirmou o diretor da Adufes Edson Cardoso, que também esteve na reunião.

Cortes

Com relação aos cortes no orçamento das universidades, inicialmente foi anunciado 14,5%, posteriormente reduzidos à metade. Durante a reunião, foram avaliados os impactos significativos na operação da Universidade, o que afetará a recuperação das condições de funcionamento presencial. Na Ufes, a medida alcançou a cifra de R$ 17.908.387, dos quais R$ 11,2 milhões se referem a custeio (manutenção e funcionamento da Universidade) e R$ 6,6 milhões a capital (investimentos em obras e equipamentos).

O Pró-reitor de Planejamento, Rogério Faleiros, informou que o bloqueio e os cortes comprometem as intervenções previstas, que incluíam o atendimento dos objetivos do Plano de Desenvolvimento Institucional PDI, os objetivos de desenvolvimento sustentáveis, a aquisição de data center, o saneamento, sinalização nos campi e a aquisição de equipamento. Diante do desmonte, a Administração Central informou que tem buscado recursos complementares, tema que a Adufes pautará em ocasião oportuna.

A Reitoria também informou que, comparado a 2015, hoje a Universidade trabalha com a metade dos recursos. Além disso, a inflação está em alta e isso tem impactado os reajustes dos contratos firmados pela Ufes com empresas terceirizadas para os mais diversos serviços, incluindo RU, limpeza, manutenção da rede elétrica, entre outros. Mesmo diante deste cenário, auxílios da Assistência Estudantil e funcionamento do Restaurante Universitário, segundo a Administração Central, estão garantidos até o final de 2022. Há uma preocupação de que não seja possível pagar todo o custeio caso os bloqueios sejam mantidos ou ampliados, uma vez que recursos de capital já foram convertidos em custeio para manter a Ufes funcionando.

A presidenta da Adufes, Junia Zaidan, considerou fundamental a decisão da Adminsitração Central de preservar os benefícios da assistência estudantil como algo prioritário e solicitou à Reitoria que construa documento com a manifestação dos Conselhos Superiores contra os cortes.  Ela avaliou a reunião como “muito produtiva”, uma vez que houve respostas de que serão dados encaminhamentos que a categoria aguardava há muito tempo, como por exemplo, a reorganização das equipes de limpeza para atender às demandas dos cursos noturnos, como reivindicaram docentes do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), em Reunião Setorial do Conselho de Representantes da Adufes, realizada em maio. Além disso, a Adufes definiu seu apoio à campanha atitudinal de prevenção e combate à Covid-19, por meio de divulgação em seus canais do material produzido pela Ufes.

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