Debate sobre acesso, permanência e inclusão aponta para a insuficiência das políticas afirmativas existentes na Ufes

A “universidade que queremos” precisa ser, de fato, popular, respeitar seus quadros, garantir acesso e permanência para todas/os e promover um ambiente que não seja de adoecimento, entendendo a saúde de maneira integral e coletiva

A Adufes realizou nesta terça-feira, 11, o debate “A universidade que queremos: acesso, permanência e inclusão”. A mesa foi composta por Maria Helena Elpídio (CCJE/Ufes), Alexsandro Rodrigues (CE/Ufes) e Talita Prada (IFBA). A mediação foi feita pela presidenta da Adufes, Junia Zaidan.

Entre as temáticas abordadas estiveram a necessidade de articulação com os movimentos sociais, o desfinanciamento e o acirramento das disputas por recursos na universidade, a insuficiência das políticas existentes, e a importância das alianças para que as frentes de lutas não sejam tocadas apenas por pessoas que integram os grupos minorizados, público-alvo das ações necessárias para que efetivamente haja garantia de acesso, permanência e inclusão de todas e todos na universidade.

A professora do CCJE da Ufes Maria Helena Elpídio lembrou que a universidade ainda está debatendo o básico e que a instituição almejada precisa fornecer a garantia das condições para que todas/os possam estudar, sem distinção. Ela ressaltou que há uma naturalização do lugar da/o negra/o dentro da própria Ufes, em trabalhos precarizados, por meio de terceirizadas, como a limpeza e manutenção do campus, por exemplo. Essas pessoas não são vistas como integrantes da comunidade acadêmica e nem como pessoas que ocupem as salas de aula.

Para que haja mais avanços, a professora defende que é preciso se inspirar nas lutas dos movimentos sociais que possibilitaram vitórias nos últimos anos, pressionando para que corpos negros, LGBTQIAP+, com deficiência, indígenas, entre outros, estejam presentes na universidade.

Políticas insuficientes

Talita Prada, do Instituto Federal da Bahia (IFBA) apresentou uma série de números e estatísticas que demonstram a insuficiência da assistência estudantil para a garantia da permanência na universidade de estudantes que precisam desse apoio. Ela lembrou que o desfinanciamento progressivo da educação acirra a disputa pelos recursos, fazendo com que haja uma tendência de individualização e fragmentação das ações, em detrimento de soluções coletivas e mais efetivas. Isso gera grande cobrança sobre quem recebe benefícios que são insuficientes para a manutenção sequer da alimentação.

Além disso, Talita lembrou que o avanço do conservadorismo nos últimos anos no Brasil também atingiu a universidade fazendo com que pautas privatistas e de precarização, como a proposta de ampliação da Educação à Distância (EaD) ate mesmo em cursos presenciais, ganhassem força.

Alianças

A mudança desse cenário só será possível se as políticas de aliança forem efetivas. Foi o que defendeu o professor do Centro de Educação da Ufes Alexsandro Rodrigues. Ele fez um chamamento à responsabilidade de todas/os nas lutas dos grupos minorizados, como a população negra, LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, entre outras, lembrando que “não está tudo bem” e que a presença desses corpos na universidade ainda é insuficiente.

O professor frisou que há um cansaço por parte de professoras/es e estudantes que integram esses grupos e que precisam garantir suas vidas por meio do ativismo o tempo todo, tendo que enfrentar, na maior parte das vezes, a morosidade e falta de interesse político da universidade para avançar. Isso ocorreu com os banheiros inclusivos, uma luta de mais de 10 anos, período em que as pessoas trans tiveram o direito básico de usar o banheiro negado pela Ufes, causando adoecimento não apenas psíquico, mas também fisiológico.

A presidenta da Adufes, Junia Zaidan, lembrou em sua fala “da universidade que queremos”, elencando uma série de direitos básicos de trabalhadoras/es e estudantes, e da população que não consegue acessar a Ufes, que ainda não estão garantidos e pelos quais ainda é preciso lutar. Ela defendeu que ainda é preciso avançar muito para que a universidade seja de fato popular, respeitando seus quadros, garantindo o acesso e permanência de todas/os e promovendo um ambiente que não seja de adoecimento, entendendo a saúde de maneira integral e coletiva, sem individualizar e responsabilizar indivíduos por problemas que são institucionais e da coletividade.

Dabate

Junia acrescentou que o debate foi muito produtivo, com participação do público, apontando caminhos que precisam ser trilhados para que a Ufes seja, de fato, a “universidade que queremos”. Entre as pautas concretas citadas durante o evento está o descumprimento, por parte da Ufes, da Lei 12.990/2014, que reserva 20% das vagas para docentes negras e negros, e do Decreto nº 9.508/2018, que reserva às pessoas com deficiência percentual de cargos e de empregos públicos ofertados em concursos públicos e em processos seletivos.

Depois de nove anos descumprindo a lei e de muita pressão dos movimentos, em especial da Adufes, a Reitoria apresentou uma proposta sem antes dialogar com docentes que atuam na luta antirracista e anticapacitista, sem ouvir o Sindicato, sem ouvir movimentos sociais, propondo uma política a partir das percepções da branquitude que continua ocupando majoritariamente os lugares de poder na universidade. A pauta continuará recebendo toda a atenção da Adufes até que uma proposta seja construída coletivamente.

A atividade faz parte do curso “A Universidade que queremos”, promovido pelos Grupos de Trabalho Política de Formação Sindical e Política Educacional (GTPFS/GTPE), em articulação com a diretoria da Adufes.

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