A experiência sindical na pandemia: o fim de uma gestão e o início de um novo período*

Inicio pelo agradecimento à toda equipe da Adufes, que durante 850 dias de mandato, fizeram o sindicato acontecer. Se você passar pela Adufes para tomar um café, buscar uma agenda, resolver um problema da sua filiação, participar de uma assembleia ou qualquer outra reunião, lembre-se que em cada um desses momentos temos várias pessoas envolvidas no atendimento e elas merecem nosso profundo respeito e consideração.

Uma diretoria incomparável, ouvimos muitas vezes.

Sim, é verdade. Mas não se trata de uma singularidade de gestão.

O caso é que a diretoria “Adufes Propositiva e Plural” tomou posse em 9 de dezembro de 2019 e logo no início das atividades letivas de 2020 se deparou com a suspensão do funcionamento presencial da Ufes em virtude da pandemia da Covid-19. E foi isso que nos obrigou a lidar com demandas inigualáveis, exigindo de nós uma atuação que esperamos que não tenha que se repetir.

Esperamos que não se repita, porque adoeceu nossa categoria, avançou sobre direitos, sobre conquistas realizadas com muita luta, interditou muitas de nossas pautas sobre salário, carreira e condições de trabalho.

Mas, especialmente, esperamos que não se repita, porque a política de morte de Bolsonaro já ceifou a vida de mais de 660 mil brasileiros. Por isso, em nome das vítimas da Covid-19 e de suas famílias afetadas pela irreparável perda de seus entes queridos; em nome de todas as vítimas, não só da Covid, mas de todas as formas de violência de estado, façamos um minuto de silêncio.

Se este período foi incrivelmente difícil para toda a humanidade, não seria diferente para nossa diretoria. Todo dia tínhamos uma demanda nova, um imprevisto para resolver, um atendimento diferente para fazer. Nos empenhamos com seriedade e com compromisso com nossa categoria, a partir de nosso programa.

Destaco, pois, os princípios de nossa atuação sindical, que estão no programa que foi eleito em 2019.

(1) atuar com independência em relação à reitoria, partidos políticos, instituições religiosas e quaisquer outras instituições, entidades e segmentos.

Acreditamos em nossa rigorosidade ao cumprimento deste princípio. Não nos curvamos a nenhuma determinação partidária, religiosa ou de qualquer outra institucionalidade.

Mas isso não significou isolamento, porque ter independência não representa a ausência de diálogo, ao qual nossa diretoria esteve atenta, articulando-se com diversos movimentos sociais, sindicatos, centrais, entidades e fóruns da Ufes, em que, por meio de uma diversidade de representações, estivemos em unidade de luta em várias ocasiões.

Talvez as/os mais atentas/os tenham notado que não me referi à reitoria. De forma proposital, deixei essa menção à parte, não por menor importância. A Adufes realizou nesse período onze reuniões com a reitoria e encaminhamos cerca de setenta ofícios durante nossa gestão, com as mais diversas solicitações.

Nesse momento, é importante fazer o registro de que a decisão da comunidade acadêmica da Ufes quanto à sua Administração Central foi desrespeitada pelo governo federal.

A professora Ethel Maciel, primeira mulher eleita para dirigir a Ufes, nossa legítima reitora, eleita pela comunidade universitária e pelos conselhos superiores da universidade, não foi nomeada por Jair Bolsonaro.

Se tivesse sido nomeada, a reitora e a Adufes estariam certamente disputando posições programáticas. Mas isso não diminui a importância da Professora Ethel; o que representa ter como dirigente alguém que não se submeteu à comunidade acadêmica; o significado histórico da intervenção do governo federal que até agora já desrespeitou a decisão de mais de vinte instituições federais de ensino.

Voltando à menção aos nossos princípios, cito:

(2) responder à altura aos graves desafios políticos da conjuntura em que vivemos, pautando-nos também pelo comprometimento com a transparência administrativa e financeira.

Nossa transparência está colocada no compartilhamento de todas as informações, da maneira mais rápida e fácil de ser acessada, tanto em notícias como em documentos, como as atas, balancetes e relatórios.

Os assuntos financeiros do sindicato, com atuação direta da Tesouraria, como função executiva da diretoria, tiveram em nossa gestão o privilégio de contar com o trabalho da professora Fernanda Binatti Chiote.

Tesoureira impecável, tratou a Adufes com cuidado, respeito e transparência. E acima de tudo, mostrou, mais uma vez, que as mulheres podem e devem estar em todos os espaços e que tem sim, capacidade para SER, sem tutela, sem medo. Algumas vezes desconfiaram de nossa tesoureira. Não de sua honestidade, mas de sua capacidade. Afinal, será que mulher dá conta de mexer com números? SIM, e Fernanda mostrou isso lindamente. Porque Fernanda é mais! É mais do que capacidade de lidar com o financeiro com competência técnica. É professora da Universidade Federal do Espírito Santo, lutadora, sindicalista, mulher, mãe, filha. Uma pessoa firme, séria, compromissada e que nunca se dobrou a nenhum tipo de pressão e nunca se deixou levar por nada e nem ninguém.

A resposta à altura aos desafios políticos, mencionado neste princípio, se deu em íntima relação com o terceiro e último ponto:

(3) recuperar a proximidade com a base, promovendo formação política e construindo coletivamente a mobilização da categoria.

Para ser breve, sintetizo três pontos:

formação política se dá teórica e praticamente. Nesse período, fizemos reuniões de GT, do Conselho de Representantes, comissões, assembleias, plenárias e lives.

proximidade com a base se constrói na relação direta e permanente com professoras e professores. Por isso, foi muito importante para nós estarmos em mais de 160 reuniões departamentais, nos fóruns e conselhos dos centros e fomos recebidos na grande maioria deles.

construção coletiva de mobilização depende das articulações com os diferentes segmentos, entidades e por meio dos espaços internos da adufes, como já mencionado – GTs, Conselho de Representantes, assembleias e plenárias.

Enfatizo de nossa gestão, a Comissão de Acompanhamento ao Trabalho/Ensino Remoto, composta por dezessete docentes, pesquisadoras/es, autoras e autores dos três volumes da pesquisa realizada pela Adufes e que alcançou mais de 750 docentes, em exercício e aposentadas/os.

Por fim, não posso deixar de mencionar o Conselho de Representantes.

Com todas as vagas ocupadas, o Conselho de Representantes realizou reuniões ordinárias, extraordinárias, setoriais, se envolveu com as mais diversas atividades da Adufes, estabeleceu seu plano de ação, aprovou seu regimento interno e com tudo isso, fortaleceu nossa entidade.

A presença e participação da expressiva maioria das/os conselheiras/os nessas ações, possibilitou a aproximação da Adufes com o conjunto de docentes da Ufes e o empenho da diretoria no atendimento às especificidades de cada demanda.

Não nos parece um acaso que esse envolvimento e compromisso do Conselho de Representantes tenham dado frutos muito bem-vindos ao nosso sindicato, uma vez que cinco membros da nova diretoria estiveram atuantes no Conselho de Representantes do biênio 2019-2021.

A finalização deste mandato nos traz a alegria e a satisfação de ter feito, compartilhadamente, a melhor gestão que pudemos, com a certeza de que outras tantas ações poderiam ser realizadas. Mas é só o fim de um mandato e não da Adufes que, pelo contrário, segue para completar 44 anos de vida e, fazendo um pequeno trocadilho, segue em sua afirmação de entidade autônoma e compromissada com a classe trabalhadora.

Meus agradecimentos à diretoria “Adufes Propositiva e Plural” e ao Conselho de Representantes deste biênio e meus cumprimentos a todo o Conselho de Representantes eleito que hoje toma posse, bem como meus votos de sucesso à nova diretoria.

Peço licença para encerrar me dirigindo à nova presidenta da Adufes, minha companheira Junia Zaidan, com palavras de Ademar Bogo, doutor em filosofia e militante do MST, que termina seu texto intitulado “Convoque-se”, da seguinte forma: “assuma a sua função de comandante, porque as tarefas já estão dadas. Levante e faça da madrugada, o momento do novo amanhecer. Ânimo, força e persistência, é hora de fazer com coerência, o futuro que queremos ter”. Avante, companheira!

Nota: a foto utilizada neste texto (Sergio Cardoso) foi escolhida por trazer toda a nova diretoria, a diretoria que estava presente encerrando o mandato e a Professora Ethel Maciel.

*Adaptação do discurso proferido na cerimônia de posse da Diretoria da Adufes, gestão “Autonomia e AfirmAção”, em 7 de abril de 2022 e, portanto, encerramento da gestão “Adufes Propositiva e Plural”. As adequações foram feitas para acréscimo de alguns destaques que são importantes deixar no registro.

*Ana Carolina Galvão – Professora do Centro de Educação da Ufes, ex-presidenta da Adufes (9/12/2019 - 07/04/2022). Mandato (2019/2021) prorrogado pela Assembleia da categoria, por proposição da plenária, em 4 de agosto de 2021.  

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