Observatório da Mídia criticou as prisões arbitrárias e o enfoque dado pela imprensa tradicional aos atos de vandalismo
Os integrantes do grupo de pesquisa Observatório da Mídia, sediado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), lançou uma nota, nesta quarta-feira (24), onde criticam a cobertura dos veículos de mídia tradicionais nos protestos da última semana. O texto questiona a falta de abordagem da mídia voltada aos direitos humanos dos manifestantes, que teriam sido alvo de prisões arbitrárias por parte da Polícia Militar. O grupo também criticou o enfoque exclusivo aos atos de vandalismo de prédios públicos em detrimento das agressões sofridas pelos participantes do ato.
“Por que o ser humano tem sido tratado com tanta desimportância? Pois só um pensamento de redução dos direitos humanos pode explicar as abordagens dos veículos tradicionais diante dos últimos episódios dos protestos na Grande Vitória. Podemos destacar os dias 15 e 19 de julho [data das manifestações na Assembleia Legislativa e no Centro de Vitória, respectivamente]. O que foi escolhido para ser colocado nesse espaço público ocupado pela mídia, foi exatamente a não discussão”, diz a nota.
O grupo de pesquisa destaca que o “valor notícia” – jargão jornalístico utilizado para determinar o que é ou não é notícia – escolhido pelos veículos tradicionais foi o patrimônio público danificado e não as relações humanas. “Não foi levado para o espaço público a expropriação da democracia, pela forma como os movimentos sociais estão sendo criminalizados. Todos, acontecimentos que envolvem sentimentos, seres humanos e (não) decisões políticas; não apenas vidraças, paredes e monumentos”, criticam.
No texto, os integrantes do Observatório de Mídia listam uma série de vídeos e textos postados nas redes sociais com relatos de excessos cometidos contra os manifestantes que foram presos durante a manifestação de sexta-feira (19). Eles avaliam que os veículos podem retomar o papel de mediadores sociais e não apenas de porta-vozes das versões oficiais: “Este material pode mostrar ‘um outro lado’ da cobertura oficialesca; aquilo que não foi mostrado pela imprensa à sociedade”.
Neste mesmo sentido, o movimento “Não é por 20 centavos, e por direitos”, que organiza os protestos no Estado, emitiu nota nessa segunda-feira (22), onde também critica a criminalização dos movimentos sociais. O grupo repudiou ainda os atos de violência ocorridos na repressão ao protesto de sexta-feira, que resultou na prisão de 35 pessoas – entre manifestantes e populares – que estavam nas proximidades do Palácio Anchieta. Deste total, três pessoas (dois homens e uma mulher) seguem na prisão.
O “Não é por 20” ressalta que as ações dos manifestantes de filmar o ato, portar vinagre, usar máscara ou simplesmente exercer estar na rua após o ato foram justificativas usadas pela polícia para abordar as pessoas com truculência e até prendê-las. Esses argumentos foram citados como indícios da materialidade dos supostos crimes cometidos durante o protesto, de acordo com a documentação enviada pela Polícia Civil ao Poder Judiciário. Entretanto, a fragilidade dessas provas embasou a maior parte da decisão pela soltura dos detidos.
Fonte: matéria e foto extraídas do site Século Diário.