Professora ferida durante protesto na ALES defende desmilitarização da PM

 

Depois de passar por uma pequena cirurgia para retirada de pele queimada na perna direita, a docente se recupera dos ferimentos em casa. Moradora em Vila Velha, ela vai entrar com ação contra o Estado pelas agressões sofridas. 

Estudante de mestrado em Educação Física na Ufes, a professora coordenadora da rede municipal de Vila Velha Maria Cecília de Souza foi uma das vítimas da brutal repressão da PM durante a votação do projeto que pedia o fim do pedágio da Terceira Ponte, na última segunda-feira, 15, na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, em Vitória. 

Ela foi atingida por um projétil (que pode ser de bala de borracha e ou cápsula de spray intacta) nas escadarias do legislativo.  “Estava na fila aguardando para entrar no Legislativo para acompanhar a sessão de votação. De repente, as portas foram fechadas e os seguranças disseram que não entraria mais ninguém”, conta a professora.

Segundo Maria Cecília de Souza, as pessoas ainda tentaram argumentar que aquela Casa é do povo e que estavam ali de forma pacífica, apenas para assistir a sessão.  “De repente saiu um monte de PMs lá de dentro e em fileira começaram a gritar ‘vaza’, ‘vaza’. Desci, então, a escadaria e foi aí que senti uma dor tremenda”, lembra. Sem condições de andar direito, a professora foi amparada por um rapaz e levada para o ponto de ônibus mais próximo.

Vídeo registrou o momento que a professora foi atinigida. Veja:

 

Atendimento médico. A docente recebeu os primeiros socorros no Corpo de Bombeiros, sendo depois encaminhada para um hospital na Capital.   O médico, segundo ela, não encontrou resíduos de estilhaços ou pólvora na ferida, mas o local foi suturado.  Ela teve ainda que se submeter a uma pequena cirurgia para remoção da pele queimada na região atingida. 

Sem poder andar, a professora só deve voltar ao trabalho em 15 dias. Muito abalada, ela diz que a polícia agiu de forma cruel. “Eu não esperava esse tipo de violência. Fui atingida pelas costas, enquanto descia as escadas”, afirma.

Luta popular. Vítima da repressão policial, a professora defende a não utilização de armas por parte da polícia.  E, ainda, diz que a luta popular precisa ser ampliada e que os espaços de participação do povo serem respeitados. “A rua é nossa. A Assembleia Legislativa é do povo. Toda essa repressão do Estado é uma tentativa de nos silenciar, mas a população não pode se amedrontar e mais do que nunca é hora de lutar pelos seus direitos”, ensina.

Maria Cecília afirma que tem participado de todas as manifestações de rua e, como os demais, quer o fim definitivo da cobrança do pedágio da Terceira Ponte.  “A auditoria para rever os valores cobrados pela Rodosol é uma grande manobra política para por panos quentes nesse contrato”, diz, afirmando em seguida que a iniciativa não deixa de ser uma vitória dos movimento das ruas, mas uma vitória parcial e temporária.

Desmilitarização das polícias. Revoltada com a truculência na repressão indiscriminada e gratuita a manifestantes nos protestos ocorridos na Grande Vitória, Maria Cecília defende a desmilitarização das polícias e a discussão sobre o papel dessa instituição num Estado democrático.

“Já é tempo da sociedade pedir a desmilitarização das polícias e o fim do BME (Batalhão de Missões Especiais). Não estamos vivendo nenhuma ação de guerra, então para que BME?”, questiona, lembrando em seguida que os protestos são pacíficos e totalmente legítimos.

A professora acredita que o treinamento militar é que desencadeia ações excessivamente violentas por parte das polícias.  “O cidadão que está andando na rua, que está se manifestando, ou mesmo o cidadão que eventualmente está cometendo um crime, não é um inimigo. É um cidadão que têm direitos e esses direitos tem de ser respeitados”, lembra.

O debate em torno da não utilização de armamento policial no país não é novo. Herança da época da ditadura no país (1964-1985), a Polícia Militar surgiu como solução a partir da extinção da Força Pública e da Guarda Civil. Após o golpe de 1964, o novo governo abandonou a ideia da criação de uma polícia civil e única e implantou o modelo militar. Hoje, quase todo o policiamento urbano no Brasil, é feito por polícias militares ligadas aos governos de cada estado, e o país segue sendo o único no mundo a ter uma polícia militar que atua fora dos quartéis.

Fonte: Adufes