Já em 1979, entre janeiro e fevereiro, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo ganharam atenção da mídia brasileira e estrangeira após fortes chuvas destruírem cidades inteiras desta região. Depois de mais de 30 anos da chamada “Enchente de 79”, a situação tem sido, rotineiramente, a mesma, e a tragédia de 2013 deixa um saldo de mortos e desalojados assustador. Segundo a Defesa Civil de Minas Gerais o número de mortes provocadas pelas chuvas no estado subiu, nesta quinta-feira, para 18, com cerca de 10 mil desabrigados e milhares de casas danificadas ou completamente destruídas.
Agora no Espírito Santo o número oficial de mortes divulgado subiu para 24 ( boletim da Defesa Civil em 31/12/) com cerca de 45 mil pessoas entre desabrigados e desalojados. Todas as vítimas, fatais ou prejudicadas pela falta de moradia e outras consequências que vêm com a tragédia, são de famílias pobres, de regiões mais afastadas dos grandes centros das cidades. O prefeito do município de Serra, no ES, sugeriu a necessidade de R$ 50 milhões para reerguer a cidade e auxiliar as vítimas das enchentes, e a presidente Dilma, em visita ao estado, informou a possibilidade de os moradores desabrigados resgatarem o FGTS, como medida de reparação.
Após décadas de descaso, por parte dos governos, este período continua nos trazendo grandes tragédias. Vale lembrarmos que só para construção do Mineirão o BNDES investiu R$ 400 milhões e governo de Minas mais R$ 50 milhões (Dinheiro público); Como aceitar agora que os próprios atingidos é quem devam “ajudar” a custear sua “reparação”, como sugere a Presidenta? Os recursos do FGTS deveriam ser aplicados prioritariamente em habitação para famílias de baixa renda, mas podemos ver que os índices do IBGE revelam que os barrancos que deslizam matam e desalojam estão do lado mais pobre da população.
As cidades de Afonso Claudio, Água Doce do Norte, Águia Branca, Baixo Guandu, Barra de São Francisco, Bom Jesus do Norte, Brejetuba, Cariacica, Castelo, Conceição do Castelo, Guarapari, Ibatiba, Ibiraçu, Santa Leopoldina, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Viana, Vila Velha e Vitória, são alguns dos mais de 50 municípios mais afetados. Em Água Doce do Norte, segundo dados do IBGE, o número de incidência de pobreza chega a 52, 95% no município. Em outro dos mais atingidos, Colatina, com 32,51% de incidência de pobreza, duas crianças foram encontradas mortas sob escombros após deslizamento de barranco ocorrido na terça-feira véspera de Natal.
Apesar de a chuva dar trégua, mais uma vez, o que fica é o desafio de manter atualizados os números de mortos e desabrigados e de ajudar as pessoas que sempre sofrem com mais uma tragédia anunciada.
Não há material médico para atender os atingidos. O governo federal destinou 4 toneladas de medicamentos e a primeira leva foi enviada no dia 23 de dezembro e a última nesta quarta-feira (26). Segundo o ministro da saúde, Antonio Padilha, o número de kits hospitalares deve ajudar cerca de 15 mil pessoas por um período de apenas 30 dias, muito pouco tendo em vista o tempo necessário para reerguer cidades, casas e vidas.
Para além dos fenômenos climáticos o que segue em discussão é a aplicação contínua de uma política econômica que beneficia os interesses das empreiteiras e bancos em detrimento da vida de quem trabalha, como denunciaram as manifestações de junho, que exigiram “Padrão FIFA” para saúde, educação, transporte e moradia. Todo apoio e solidariedade as famílias que nesse momento sofrem tamanha dor, consequência do descaso dos governantes.
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Fonte: CSP-Conlutas
* com atualização Adufes