Três ativistas pedem asilo ao Uruguai
A expedição de novos 26 mandados de prisão para manifestantes do Rio de Janeiro contrários à realização da Copa do Mundo tem chamado a atenção da sociedade brasileira por apresentar traços de medidas dignas de um estado de exceção. Enquadrados por formação de quadrilha e acusados de planejarem a explosão de bombas durante a final do mundial de futebol, esses 26 manifestantes – dos quais cinco estão presos – somam-se a mais dois militantes presos em São Paulo no início mês. Os indiciados ainda não tiveram direito de ler o processo que os acusa.
“As prisões e as denúncias apresentadas pelo MP são vazias e imprecisas e têm o objetivo de espalhar o medo e esvaziar as ações nas ruas. São suposições. Mostram claramente que o objetivo dessas é inibir as pessoas que estão protestando contra as políticas que visam à contínua espoliação do povo. Esse é o verdadeiro crime: a constante retirada de direitos da população por parte dos governantes. Estamos vivendo um Estado de exceção em pleno 2014”, comenta Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.
Marinalva ressalta que o ANDES-SN sempre esteve e está nas ruas em todas as manifestações e segue apoiando as reivindicações por moradia, saúde, educação e transporte de qualidade. “Agora, mais do nunca, reivindicamos a democracia e o direito de se manifestar pacificamente como método da classe trabalhadora”, completa a presidente do Sindicato Nacional.
Asilo político
Na manhã de segunda-feira (21), três dos militantes que são considerados foragidos da justiça foram ao Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro pedir asilo político. Eloisa Samy, advogada, afirma que os ativistas estão sendo tratados como terroristas e não tiveram nem o direito à cela especial mesmo tendo concluído o ensino superior. Ela também fez um apelo pessoal ao presidente uruguaio, José Mujica, afirmando que “ele sabe o que é a perseguição política e a repressão do estado”, remetendo-se aos anos em que o uruguaio lutou contra a ditadura em seu país.
Cena comum durante a ditadura empresarial-militar brasileira, o pedido de asilo político a outros países tornou-se uma situação rara em tempos de democracia. As autoridades uruguaias ainda não se manifestaram, porém impediram o acesso da polícia fluminense ao prédio, quando esta tentou entrar no Consulado para efetuar a prisão dos manifestantes. Caso o Uruguai negue o pedido de asilo, os ativistas serão entregues à Polícia Federal. Por algumas horas, as polícias civis e militares do Rio de Janeiro ainda cercaram o Consulado, na espera, em vão, de que os três manifestantes saíssem do prédio.
Inquérito
São desencontradas as informações sobre o inquérito policial que investiga o suposto caso de formação de quadrilha. Apesar dos militantes acusados terem acesso negado ao documento, a Rede Globo divulgou em seus veículos de comunicação partes do processo, o qual ela afirma ter duas mil páginas. Em entrevista à Mídia Ninja, uma professora apresentou um mandado de prisão destinado a um dos manifestantes, no qual constava apenas o crime de usar software não licenciado em seu computador.
*Com informações de Mídia Ninja, O Globo, Diário Liberdade e El País (Uruguai).
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