A professora e cientista política Daniela Mussi, estudiosa da obra do intelectual Antonio Gramsci, participa de palestra na sede da Adufes – campos de Goiabeiras, em Vitória, às 18 horas. Na ocasião, será lançado o livro Antonio Gramsci e a Crítica Italiana (Editora Alameda), que contextualiza o pensamento do italiano acerca de arte e literatura. As atividades ocorrerão hoje, quarta-feira.
Qual é a principal proposta da palestra que será realizada na Adufes?
Apresentar para o público uma visão sobre o tema da literatura a partir da contribuição do italiano Antonio Gramsci, em especial dos seus escritos carcerários (Gramsci passou 11 anos preso durante o fascismo italiano). Uma visão que reúne a literatura à política e aos conflitos sociais e históricos.
Você debaterá a unidade entre as reflexões de Gramsci sobre a arte e a política?
Sim, a partir da unidade entre intelectuais e “simples”, entre dirigentes e dirigidos. Em outras palavras, a partir do conceito de hegemonia, central para entender a conexão entre arte e política.
Como se da o engajamento político, seja na produção, seja na recepção literária do autor italiano?
Os escritos de Gramsci, desde o começo de sua trajetória pública, sempre foram “engajados”. Mesmo quando estava na prisão, estudando para “passar o tempo”, de maneira “desinteressada”, seus temas e reflexões estavam orientados por um olhar engajado. Da mesma maneira, a recepção de suas ideias nunca foi “neutra”, e é motivo até hoje – depois de mais de meio século de pesquisas -, de polêmicas e novos estudos que articulam seus escritos jornalísticos, cadernos do cárcere, cartas e uma infinidade de documentos políticos e familiares.
É possível dizer que Gramsci não conduzia a teoria de forma fechada ou dogmática sobre a arte e a literatura?
Sim, não só é possível como imprescindível para entender o seu pensamento. Para Gramsci, a cultura revela sempre aspectos contraditórios das relações entre as classes e grupos sociais, sobre as quais a teoria deve se debruçar constantemente, não como dogma mas como ferramenta de interpretação e engajamento. Justamente por isso Gramsci retoma a ideia do crítico literário, não como alguém que dita dogmaticamente o que é belo ou não na literatura, mas como alguém que ao interpretar a arte ensina os demais, atua ativamente sobre a concepção de mundo popular.
A formação do gosto popular pode revelar momentos importantes de iniciativa cultural? Com seria isso?
Sim. No caso italiano – central para Gramsci – a formação do gosto popular revela justamente a ausência de contato entre literatos e o povo. Evidencia que os intelectuais italianos detinham pouca capacidade de organização sobre a massa da população, que não se interessava por eles e sequer lia o que eles escreviam. Para Gramsci, compreender as origens e momentos do gosto popular é central para compreensão da própria história de uma nação ou conjunto de nações. A operação é importante: Gramsci desloca o eixo da análise literária para o universo popular, isso não significa para ele um elogio do folclore ou das formas degradadas da cultura popular, mas sim um ponto de partida para uma crítica política da vida intelectual.
O livro que será lançado hoje, quarta-feira, é fruto de sua pesquisa de mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O que te motivou estudar Gramsci?
Desde 2008 participo de um grupo de pesquisa que tem Antonio Gramsci como grande referência temática e metodológica. Se chama “Grupo de Pesquisa Marxismo e Pensamento Político” e é coordenado pelos professores Alvaro Bianchi (Unicamp) e Rodrigo Passos (Unesp).
Ainda sobre o livro, qual é a grande surpresa reservada para os leitores nesta obra?
Talvez se surpreendam como o fato de que o livro não é dedicado aos autores ou às obras literárias, mas sim à compreensão do impacto da vida literária sobre a vida “não literária”.
Fonte: Adufes