“O agronegócio está levando os brasileiros à morte”


O alerta foi feito por uma docente da UFRJ durante Encontro do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA),  em Vitória.

Mais de 400 camponeses e camponesas do Movimento de Pequenos/as Agricultores/as (MPA) do estado estão reunidos no VI Encontro Estadual do Movimento.  O evento prossegue até amanhã (quinta-feira,02), no Centro Sindical dos Bancários (rua Dom João Bosco, próximo ao Colégio Salesiano), em Vitória.  O Encontro  também faz parte do processo de preparação ao I Congresso Nacional do MPA que será realizado nos dias 12 a 16 de outubro deste ano em São Bernardo do Campo, São Paulo.

Durante a abertura do evento, ocorrida nessa quarta-feira, 30, os participantes debateram a conjuntura nacional  e a situação do campesinato diante do momento político atual do país. “Estamos consciente da nossa tarefa história de organizar politicamente a classe camponesa, mas também de apresentar alternativas para a sociedade”, ressaltou Valmir José Noventa, da coordenação estadual do movimento.

Valmir fez questão de lembrar a todos que o campesinato já provou que é capaz de produzir em quantidade e qualidade para alimentar toda a nação brasileira. “É claro que para isso teremos que ter políticas estruturantes para o desenvolvimento desse setor. Hoje, os pequenos e médios agricultores produzem 70% dos alimentos consumidos no país, respondem por 77% da mão de obra no campo, e detêm o maior número de propriedades rurais”.

Na opinião de Valmir, o Brasil precisa urgentemente fortalecer a agricultura camponesa como estratégia para a construção de outro modelo de produção de alimentos, baseado no respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores do campo e da cidade.  “A produção de alimentos saudáveis afirma um elo entre o campo e a cidade, que precisa ser fortalecido por articulações populares, mas também com políticas públicas do estado”, finalizou.

Análise de conjuntura.  O painel que debateu o momento político atual no Brasil e a situação do campesinato/alimento contou com dois palestrantes, os professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauro Luís Iasi e Leile Teixeira. Em sua explanação, o cientista político e educador popular Mauro Iasi falou do ajuste fiscal e dos efeitos desastrosos das medidas para a classe trabalhadora.

professor reduzidaMauro Iasi, que foi presidente da Associação dos Docentes da UFRJ (AdUFRJ), entre 2011 e 2013, lembrou que a proposta de ajuste fiscal trava o país diante da possibilidade de uma nova fase de desenvolvimento e da construção de uma nova estratégia política. “O que temos é um ajuste desigual, com cortes de verbas, aumento das taxas de juros e dos financiamentos agrícola da safra. O governo dá R$ 198 bilhões para o agronegócio, oferece perdão das dívidas de empresas, então é um ajuste desigual”, destacou.

Citou como exemplo, ainda, o Pronatec, programa para qualificação técnica e profissional, que perdeu quase 2/3 dos seus recursos.  “Quase 94% da verba do Pronatec foi destinada ao Sistema S, temos cortes brutais na educação, na saúde, mas em compensação a verba do Fies dobrou para as universidades privadas. Então, é um ajuste por endereço”, completou.

A professora Leile Teixeira também enxerga nas políticas do governo várias contradições e problemas, principalmente na desproporção entre os recursos repassados à pequena agricultura e ao agronegócio. Para a docente, o agronegócio é uma violência contra a população que vive no campo, contra o solo, às aguas, e ao ser humano.

professora 1200 jpeg“Temos uma produção em grande escala, baseada em transgênicos, adubos químicos, agrotóxicos e que mata. Esse é o modelo que está levando  a população à morte”, destacou.  A docente apresentou dados de um estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) que revelou um quadro preocupante: um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos.

E isso sem contar os alimentos processados, que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados e, portanto, também cheios de substâncias químicas. De acordo com a professora, a lógica do agronegócio está centrada praticamente em quatro produtos básicos. “Tudo que estamos comendo é milho e soja e um pouco de arroz e trigo na composição dos alimentos. Uma alimentação que deveria ter 50 a 100 componentes está reduzida a quatro.Isso é dramático porque esse milho é transgênico”, ressaltou.

Imitação. A professora Leile lembrou nossa alimentação está muito afastada das leis da Natureza. Os alimentos processados (industrializados) por serem vazios em nutrientes e conterem aditivos químicos fazem mal à saúde. Para a docente, os alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, são uma alternativa para uma vida  saudável.  Ela apresentou dados da Abrasco que mostram que os agrotóxicos causam alergias, câncer e até mesmo atingem a vida, inclusive, na gestação. 

Veja galeria de fotos do VI Encontro Estadual do MPA

Fonte : Adufes