A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgou na última semana o Boletim Salariômetro desse mês que demonstra que a quantidade de negociações com data-base em agosto despencaram em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o instituto, até agora foram fechados 71 acordos, 56% a menos que os 167 concluídos em 2016.
A Fipe destaca que a Reforma Trabalhista e a baixa inflação são os motivos para a redução dos acordos (veja aqui). Ainda de acordo com a fundação, a proporção de ajustes acima da inflação – medida pelo INPC (2,1% em 12 meses encerrados em agosto) nos principais acordos de negociação coletiva – é de 73,2% em agosto. Na média do ano, os reajustes registraram ganho médio de 5,5%, mais de três pontos percentuais acima da inflação.
De acordo com coordenador do Salariômetro, Hélio Zylberstajn, avalia que a queda pode ser explicada pela inclusão nas negociações, pelos sindicatos, de cláusulas que buscam neutralizar as novas normas permitidas pelo desmonte da Legislação Trabalhista, o que ele chama de “antídoto à reforma” ou “pauta antirreforma”. “Os sindicatos estão muito receosos, e as empresas, tateando, ainda não escolheram a estratégia de negociação diante de uma nova realidade da legislação trabalhista. Esse quadro interrompe as decisões”, disse Zylberstajn, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Confira aqui o boletim.
Campanhas salariais em guerra
O boletim e a percepção do pesquisador da Fipe refletem uma avaliação que dirigentes sindicais já vinham ressaltando. Em categorias de empresas estatais, por exemplo, como Correios e Petrobras, as empresas chegaram a propor a prorrogação dos acordos coletivos fechados no ano passado até que a Reforma Trabalhista entre em vigor, o que acontecerá no dia 11 de novembro.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Vale do Paraíba (Sintect VP), Marcílio Medeiros, relata que a campanha salarial na estatal é exatamente essa. “Desde julho tentamos discutir com a direção dos Correios, que só enrolaram para abrir negociação. Agora em setembro, quando começaram as reuniões, apresentaram uma contraproposta de pauta que é só ataques”, conta.
A categoria deu início a uma greve nacional por tempo indeterminado na quinta-feira (20). “O presidente dos Correios quer acabar com nosso o Acordo Coletivo, com os direitos que são conquistas e estão um pouco acima do mínimo estabelecido na legislação e a proposta é reduzir tudo. A grande batalha é pela manutenção dos direitos. Mas os trabalhadores estão unidos e dispostos a uma forte mobilização”, disse Medeiros.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antonio de Barros, tem opinião semelhante. Os metalúrgicos, inclusive, estão em uma unidade de ação nacional, através da campanha Brasil Metalúrgico, que definiu um calendário unificado de luta na campanha salarial deste ano para impedir qualquer retirada de direitos. “No setor de autopeças, por exemplo, a patronal mostrou resistência em renovar as cláusulas da Convenção Coletiva e vieram com propostas para retirar direitos”, relata.
No dia 14 de setembro, os metalúrgicos realizaram um Dia Nacional de Lutas, Protestos e Greves. A data também foi marcada pela mobilização dos servidores públicos em defesa dos serviços públicos e contra a Reforma da Previdência.
*Com informações da CSP-Conlutas