Com o reajuste em mais de 200% das refeições cai frequência no Restaurante Universitário


O novo valor da refeição, que subiu de R$1,50 para R$ 5,00 em março, está gerando evasão dos frequentadores – a maioria estudantes de baixa renda – dos Restaurantes Universitários da Ufes (RU). Na unidade de Goiabeiras, em Vitória, o cenário chama a atenção. Até nos horários de pico, identificados entre 11h30 às 12h30, já não se vê as longas filas que chegavam a se estender até as imediações da agência do Banco do Brasil, e que sempre provocavam reclamações por parte dos usuários.

A cena hoje, no entanto, preocupa. “Em qualquer horário (almoço ou janta) você entra sem atropelos. Além disso, é muito 5,00, principalmente por uma sopa. Só janta mesmo quem tem gratuidade”, relata Isabella Mamedi, diretora de políticas educacionais e assistência estudantil da Gestão DCETodas as Vozes. Segundo Isabella, o reajuste das refeições (233%) foi abusivo. “Com certeza a evasão do RU está ocorrendo por causa desse aumento. Existe uma grande parcela de discentes que não têm renda para custear as refeições diárias de dez reais, considerando o almoço e janta”, disse.

A revisão do aumento foi uma das propostas apresentada à Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) que assume em maio a gestão do Restaurante. Até então eles eram de responsabilidade da Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan) da Ufes.  

Com o tema “Restaurante Universitário da Ufes: entre o que queremos e o que podemos”, o encontro – convocado pela própria universidade – reuniu a Proaeci e Comitê Gestor do RU, estudantes, coletivos e entidades estudantis. As reuniões ocorreram em Vitória nos dias 18 e 19, e, segundo a Proaeci, também serão realizadas nos campi do interior.

Possibilidades. “Existe sim um movimento de diminuição dos frequentadores no RU. Ainda não temos números, mas é uma queda bastante preocupante”, admitiu o Pró-reitor da Proaeci Gelson Silva Junquilho, garantindo que a universidade está buscando ‘alternativas’ para conter o abandono do restaurante. Uma proposta é dividir os estudantes usuários dos restaurantes em três grupos de renda.

“Vamos estudar a possibilidade de escalonar o preço das refeições. Um grupo pagaria R$ 3, outro R3,50 e o terceiro R$ 5, por exemplo. Mas precisamos primeiro conhecer a realidade socioeconômica de todos os frequentadores para pensar em escalonamento”, afirmou Junquilho, garantindo que cinco mil alunos cadastrados no Programa Nacional de Assistência Estudantil contam com isenção de 100% no RU.  Eles têm renda familiar de até 1,5 salários mínimo per capita.  “Esperamos ter algum indicativo para apresentar ao reitor e ao Conselho Universitário até o final de junho”, disse o pró-reitor, não descartando a realização de um mutirão para análise dos dados dos estudantes.

Pula-roleta. De acordo com o pró-reitor, houve registros ainda de estudantes pulando a roleta ou entrando pela janela para comer de graça no RU do campus de Goiabeiras. “Temos que saber os motivos disso. Há interesses distintos”, completou Junquilho, informando que tais atos têm sido denunciado à Ouvidoria da Instituição.  

“O que está acontecendo com o RU é reflexo dessa política de cortes de verbas, que sempre recai sobre a classe trabalhadora e a comunidade acadêmica”, criticou João Victor Santos, do Coletivo Negrada, que participou da atividade. Nas reuniões, convocadas pela Proaeci, além de debater sobre o orçamento, os estudantes também têm discutido propostas de melhorias para as refeições, como a volta do suco e da sobremesa retirados do cardápio desde o ano passado.

Ad Referendum. O reajuste de 233% das refeições foi aprovado Ad Referendum pelo reitor Reinaldo Centoducatte durante o período de férias, em fevereiro.   A justificativa, segundo a universidade, é que o valor de R$1,50 vinha sendo cobrado desde 1993 e o reajuste visava reduzir o déficit (R$ 9,4 milhões) entre o valor gasto (R$ 11 milhões) para manter o funcionamento do restaurante e o valor arrecadado (R$ 1,6 milhões).

Os servidores docentes e técnico-administrativos, pessoas não integrantes da comunidade universitária, mas com vínculo temporário com a Ufes e visitantes (pessoas sem qualquer tipo de vínculo) pagam R$ 9,50.

Fonte: Adufes