Três meses sem respostas: quem matou Marielle e Anderson?

Há três meses, a brutal execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Pedro chocou o país e levou milhares de pessoas às ruas, que se indignaram pela evidente motivação política do crime. Ainda assim, até hoje governos e a polícia não deram respostas às perguntas: quem matou Marielle e por quê?

Sob a alegação de que as investigações precisam seguir em sigilo, as autoridades não fornecem qualquer informação e não há qualquer indício mais forte de que a polícia está próxima de solucionar o caso.

Segundo informações divulgadas pela imprensa, a Delegacia de Homicídios da Capital segue considerando o viés político para tentar chegar à motivação do crime. A mais recente investigação da polícia é sobre Domingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio).

A polícia quer saber se há alguma ligação do conselheiro afastado com a testemunha-chave do caso, que procurou a Polícia Federal para apontar o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando de Araújo, o Orlando Curicica, como interessados na morte de Marielle.

Essa testemunha foi levada até os delegados por um agente federal. Os investigadores querem saber se o intermediário foi o policial federal aposentado Gilberto Ribeiro, indicado para cargo no TCE por Brazão. O conselheiro confirmou que Gilberto era seu funcionário na Corte, mas disse que não há ligações com a testemunha.

O general interventor da Segurança do Rio, Walter Braga Netto, afirmou recentemente durante uma em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro que as investigações da morte de Marielle e Anderson estão na fase de “busca de provas”.

Uma busca que até agora se arrasta sem apontar qualquer solução iminente

Sob intervenção, mortes pela polícia aumentam. Enquanto isso, a intervenção federal/militar no Rio de Janeiro, que era firmemente criticada e combativa por Marielle, segue sem reduzir os indicadores de violência na cidade, suposto motivo pelo qual foi determinada pelo governo Temer.

Em quatro meses de intervenção, os resultados até agora são inexistentes. Segundo dados divulgados pela Folha, ao se comparar os dados de março, abril e maio com os mesmos meses de 2017, o indicador de letalidade violenta, que reúne homicídio doloso, auto de resistência, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, alcançou 1.766 ocorrências no período, um aumento de 29 casos (1,7%) em relação às 1.737 mortes violentas de março a maio de 2017.

Já o indicador de autos de resistência, que identifica mortes em decorrência de confrontos com policiais, teve alta mais significativa – de 300 no trimestre encerrado em maio do ano passado para 344 neste ano, aumento de 14,7%.

O indicador de homicídios dolosos (intencionais) permaneceu estável de março a maio deste ano, frente a igual período do ano passado. Foram 1.357 ocorrências no período, contra 1.359 no trimestre equivalente de 2017.

“O fato é que a situação de violência no Rio de Janeiro tem a ver com os desmandos e incompetência de sucessivos governos que faliram o estado. Medidas como essa intervenção são palco apenas para os governos corruptos de Temer, Pezão e Crivella fazerem média com a população, enquanto seguem saqueando os cofres públicos e mantendo as condições que transformaram os serviços públicos um caos. As consequências dessa intervenção são sentidas pelo povo pobre, que viu aumentar ainda mais a repressão e a criminalização nas favelas e periferias”, avalia a integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Rita de Souza.

“Só a luta dos trabalhadores e do povo pobre pode pressionar os governos a solucionarem esse caso e garantir punição aos que mataram e mandaram matar Marielle e Anderson, bem como por fim à intervenção no Rio de Janeiro que só serve para aumentar o genocídio do povo negro e pobre. A luta de Marielle vai prosseguir em todas as nossas lutas”, defendeu Rita.

Fonte: CSP Conlutas