João Baptista Herkenhoff, juiz de Direito aposentado, palestrante e escritor esteve à frente da Adufes em 1978, quando a entidade foi fundada. A Gestão Provisória foi logo depois substituída pela 1ª Diretoria Efetiva. Leia artigo do ex-presidente que não poderá comparecer à solenidade de Comemoração 40 anos marcada para a noite desta sexta-feira, 31/8. “Desejo que o artigo que estou mandando em separado simbolize minha presença espiritual na solenidade. Prossigamos em nossas lutas”.
“ADUFES – Associação de Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo – completou 40 anos de existência. Seria desejável a criação de entidades como a Adufes em todas as universidades do país que ainda não contem com uma associação de professores.
Criada no dia 31 de maio de 1978, a entidade surgiu em plena ditadura militar, pois a constitucionalização do país só ocorreu dez anos depois, com a Carta Magna de 1988.
Era uma época de perseguição ideológica, de incentivo às denúncias anônimas desferidas pelos chamados dedo duro.
Trata-se de um período que, psicologicamente, dá vontade de esquecer, mas que não pode ser olvidado para que não se repllique, em nosso país, o regime ditatorial.
Qual seria o professor que estaria mais guardado, ou menos vulnerável, para execer a presidência da entidade na primeira diretoria provisória – era a indagação que todos faziam.
Não seria um professor, que fosse também magistrado – foi o que os líderes logo imaginaram.
Não é que magistrado fosse muito respeitado, pois até ministros do Supremo Tribunal Federal foram compulsoriamente aposentados, naquela triste fase da vida brasileira.
Mas juiz de um Estado não muito grande, diferente do que seria o caso de um juiz de São Paulo, talvez pudesse ficar quieto, ou menos assustado, no seu canto, desde que não apoiasse a guerrilha.
Muito bem… concluiu o grupo que estava à frente da empreitada. Temos aqui na UFES um juiz que decididamente não apoia a guerrilha e que só disparou, acidentalmente, um tiro de revólver, na sua vida. O fato ocorreu quando esse professor-juiz interrogava um acusado e exibiu a arma do crime para indagar ao réu se foi com aquela arma que o crime fora cometido. A arma disparou, o acusado deu um pulo para trás assustado. O Promotor, com muita calma, recolheu o objeto, mais perigoso nas mãos de quem não é perito, do que nas mãos hábeis de um bandido.
Não preciso dizer que o professor-juiz escalado para exercer a presidência provisória, na primeira diretoria provisória, foi o autor deste artigo.
Aquela entidade modesta, fundada em 1978, é hoje filiada à entidade nacional – ANDES. Tranformou-se em sindicato.
A ADUFES tem desempenhado um papel fundamental dentro da querida UFES.
As principais bandeiras de luta da Adufes, defendidas historicamente são –
1) universidade pública, gratuita e de qualidade para todos;
2) autonomia universitária;
3) democratização do acesso à universidade;
4) contra a precarização do trabalho docente e por um projeto de carreira que valorize o professor:
5) contra as reformas neoliberais, como as da Previdência, Universitária e Trabalhista, que retiram direitos dos trabalhadores e privatizam os serviços públicos.”
João Baptista Herkenhoff é juiz de Direito aposentado (ES), palestrante e escritor.
Artigo publicado em A GAZETA (02/05/2018)