Deputado que arrancou placa da Marielle persegue diretora de colégio em Petrópolis (RJ)

No último sábado (24), circulou nas redes sociais um vídeo com declarações e ameaças de Daniel Silveira contra a diretora do Colégio Estadual D. Pedro II, localizado em Petrópolis (RJ).  Silveira foi eleito deputado federal no Rio de Janeiro pelo PSL e esteve envolvido no episódio de depredação da placa de rua, fixada na Cinelândia, em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano.

O deputado eleito entrou na escola na sexta-feira (23), com o argumento que queria contribuir para “a modernização do sistema de nota, falta e presença” e, assim, “ajudar a vida dos professores”. No dia seguinte publicou um vídeo em suas redes, alegando que alguns funcionários que o receberam na escola foram retaliados pela diretora.

“Se você tem todo esse medo, diretora, que um deputado federal esteja na sua escola, ainda mais um deputado com a minha vertente conservadora, que combate a ideologia socialista comunista, isso me cheira à merda. E se me cheira à merda, eu vou fazer um favor a você, e você será uma das minhas primeiras auditadas. Vou solicitar uma auditoria na sua escola desde o princípio de sua gestão, para ver se está tudo certinho e ver se você detém a moralidade da maneira como você diz que detém”, ameaçou o deputado eleito, dizendo que a diretora teria entregue há 2 anos a chave da escola para “vagabundos da esquerda tomarem a escola e atrapalharem as aulas”.

“Eu quero que esse recado chegue muito claro para que você entenda que o marxismo cultural não será implantado nas escolas com partido. Iremos criminalizar e punir qualquer professor e diretor que esteja doutrinando adolescentes nas escolas com a ideologia socialista e comunista. Tenham a certeza, vocês não mais darão um passo sem que nós venhamos a intervir e punir vocês”, continuou.

Mariana Trotta, 1ª vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do ANDES-SN, considerou a manifestação do deputado eleito do PSL – que coloca os professores com posicionamento de esquerda como inimigos, como pessoas a serem combatidas – absurda, autoritária e totalitária. A diretora do ANDES-SN ressaltou também que o deputado ainda não foi empossado. Ou seja, não tem o papel de fiscalização que se auto atribuiu. 

“E, mesmo quando empossado, apesar desse papel fiscalizatório que o poder legislativo possui, existem limites. Essa posição de restrição à autonomia do ensino, autonomia das unidades escolares, do princípio da liberdade de ensinar e de aprender, é um absurdo, fere os direitos constitucionais, a Lei de Diretrizes e bases (LDB) e coloca uma posição muito ruim que confirma nossa caracterização de um cenário muito difícil à frente, com a extrema direita”, avaliou.

De acordo com Mariana, o Sindicato Nacional está dialogando com o Sindicato Estadual dos Professores do Estado do RJ (Sepe/RJ), que representa a categoria, para construir uma resposta política de apoio à diretora, à escola e aos professores e estudantes. “Por outro lado, também estamos pensando uma articulação jurídica, colocando o jurídico da Regional RJ do ANDES-SN à disposição para respondermos à altura essa ameaça”, concluiu.

Manifestações
Em nota, o Sepe/RJ Núcleo Petrópolis repudiou a postura e conteúdo do vídeo, reafirmando o seu compromisso com a defesa dos direitos dos profissionais da educação; do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; da autonomia profissional de docentes e gestores; da liberdade de expressão; e da educação direcionada à formação humana e ao pensamento crítico.

Além disso, o Sepe/RJ ressalta que “sem qualquer prova ou fundamento, Daniel Silveira, alega que a diretora participou das ocupações escolares no ano de 2016 e que promove algum tipo de doutrinação comunista na escola, além de ameaçá-la, afirmando que a mesma será criminalizada e punida, e que terá sua gestão auditada, sendo uma das primeiras em sua lista.” A entidade irá, através de seu Departamento Jurídico, acompanhar as medidas administrativas e judiciais cabíveis. Confira a íntegra da nota do Sepe/RJ.

A Associação Petropolitana dos Estudantes também criticou a postura de Silveira. “Diante dos fatos, fica nítido que esse sujeito não conhece quais são as responsabilidades e deveres de um deputado federal. Precisamos dizer que você não é deputado federal ainda, você precisa tomar posse e isso será feito somente ano que vem. E, quando for, verá que não possui os ‘superpoderes’”.

A APE declarou, ainda, que durante a ocupação de 2016 todas as demandas eram tratadas diretamente com representantes da Secretaria de Educação do estado. “A informação de que a diretora do colégio nos entregou a chave da escola é mentira”, afirmaram os estudantes.

*Com informações do Catraca Livre

 

Fonte: ANDES-SN