Marcha da Consciência Negra reafirma resistência e homenageia Marielle e Mestre Moa em Vitória


O 20 de novembro foi de luta, luto e de protesto. Centenas de militantes foram as ruas do Centro da capital nessa terça-feira, denunciar mais uma vez o racismo, o genocídio da juventude e reivindicar um projeto político que promova a inclusão, educação, saúde, lazer e cultura

“O povo negro unido marcha contra o genocídio, contra o racismo. A gente sabe que o povo negro é a principal vítima do Estado”, gritou a coordenadora Fórum Estadual de Juventude Negra do Espírito Santo (FEJUNES) dando início a XI marcha estadual contra o extermínio da juventude negra. Diversas lideranças e ativistas se revezaram ao microfone do carro de som que seguia atrás da manifestação. Eles denunciaram retrocessos e ataques a direitos da população, e as reformas genocidas dos governos federal e estadual, principalmente contra os negros e pobres.

A concentração ocorreu em frente à Casa Porto de Artes Plásticas, onde coletivamente houve a marcha camisetas adufesprodução de cartazes e pintura de faixas para a atividade.  Em pouco tempo já se faziam presentes centenas de ativistas sociais negros e negras e apoiadores da causa.

Com o lema, “Do luto à luta, o genocídio tem cor e endereço”, o grupo saiu em marcha pela Avenida Jerônimo Monteiro. Representantes de diversos movimentos que encontram eco na pauta da negritude estiveram presentes. Nos discursos, nos corpos e nos cartazes, muitas homenagens para os que morreram lutando, como Marielle Franco e Mestre Moa do Katendê e também foram lembrados vários jovens,  entre els os irmãos Ruan e Damião, assassinados no Morro da Piedade, na capital do Espírito Santo.

 “Setenta por cento das pessoas que morrem no Brasil são negras e especialmente jovens”, disse Lula Rocha, coordenador do Círculo Palmarino-ES. Ele lembrou que o relatório intitulado ‘Mapa da Violência 2017’ revela outro dado assustador: “o país conseguiu diminuir as mortes de pessoas brancas, enquanto a de negras aumentou. Somos o 5º estado do país no índice de homicídios”.

Lula denunciou ainda a falta de investimentos do executivo estadual.  “O governo até hoje não adotou o sistema de cotas para negros nos concursos públicos. Temos apenas algumas prefeituras e a defensoria pública que contam com reserva de vaga. Isso é um absurdo em um  estado em que 57 % de sua população é negra”.

Gilmar Ferreira, militante e ex-coordenador do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) criticou a política de construção de presídios e o fechamento de escolas por parte do governo Paulo Hartung. De acordo com Gilmar, a população carcerária do ES é de 22 mil pessoas, sendo que 70 % é negra. “E é alto o número de presos que nunca foram julgados. Temos um governo apenas para uma pequena parcela da população, enquanto o que prevalece para a maioria é um estado armado”, denunciou.

A atividade, organizada pelo Fórum Estadual de Juventude Negra do Espírito Santo (FEJUNES) e que contou com apoio da Adufes, foi guiada por uma batucada de tambores, 

Em frente às escadarias do Palácio Anchieta, os que participavam foram convidados a realizar uma intervenção. Deitados no asfalto, corpos de jovens foram contornados por tinta branca e, depois, surgiam nomes de pessoas assassinadas. Marielle Franco, e vários outros.  Por fim, os corpos ficaram marcados no asfalto e a denúncia foi realizada. marcha chao marielle

A professora da Ufes, Silvia Neves Salazar, fez questão de acompanhar o ato até o final.  “Importante estarmos em todas as atividades.  O processo de educação perpassa o debate de classe, raça e gênero e temos que estar nas ruas ajudando a denunciar esse genocídio da população negra no estado e no país”, comentou.

Além da denúncia do genocídio da população negra, o movimento reivindicou, através de faixas, cartazes, bandeiras e gritos, a reparação histórica e humanitária ao povo negro.

marcha mae criancaA marcha do dia 20 de novembro, o chamado Dia da Consciência Negra, faz referência a um dos heróis da luta e da resistência negra: Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de novembro de 1695.

Segundo a coordenadora do Fejunes, Crislayne Zeferina, além da Marcha, outras atividades políticas, culturais e educativas estarão ocorrendo ao longo do mês, inclusive em escolas da Grande Vitória. “A parceria do Fejunes e escolas conflui para o respeito à Lei nº 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas”, informou.

Fonte: Adufes