PM na Ufes pode desencadear aumento de violência nos campi

O debate foi o último deste ano de uma série realizada pelo coletivo PM na Ufes, NÃO! que discutiram a PM na sociedade e no ambiente universitário.

O tema “Gestão de segurança universitária no Brasil” foi problematizado pelos professores Rodrigo Ricupero (Adusp), Emerson Nascimento (Ufal) e professor Antônio Carlos Moraes (Conselho Ensino, Pesquisa e Extensão/Ufes). A atividade contou com mediação do presidente da Adufes, José Antônio da Rocha Pinto.

Durante todo o evento, no dia 29/11, na sede da Adufes, um grupo de estudantes ligados a Chapa Opção/Diretório Central Estudantes, favoráveis a presença irrestrita da PM na Ufes, fizeram várias provocações aos palestrantes, ao presidente da Adufes e aos participantes do debate. Inclusive gravaram as apresentações com ameaças de que “tudo iria parar na rede” (internet).

O convênio assinado pelo Reitor, Reinado Centoducatte, e a Secretaria Segurança Pública do ES/SESP – permitindo a atuação de PMs da reserva (aposentados) para cuidar da segurança dos campi – foi considerado um risco para comunidade universitária.  Segundo o presidente da Associação dos Docentes da USP/Adusp Rodrigo Ricupero, a redução do número de guardas universitários e o aumento da presença da PM coincidiu com mais casos de violência na Universidade Estadual de São Paulo.

“Os campi universitários devem ser ambientes de liberdade, propícios ao ensino, à reflexão e à livre expressão do pensamento. Tudo isso torna incompatível com a presença de contingentes da Polícia Militar (PM)”, disse, destacando que na USP, a PM atua desde de 2011. Ricupero lembrou, ainda, que a própria instituição Polícia Militar, é hoje objeto de grande questionamento na sociedade, dado o elevado número de assassinatos cometidas. Na avaliação de Rodrigo, a polícia no campus serve para reprimir e espionar os movimentos sociais. “Já tivemos caso de abordagem feita pela PM contra um servidor que estava afixando cartazes”.

Política de segurança cidadã e preventiva.  O professor Emerson Nascimento, do GT de Segurança da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Coordenador do Observatório de Prevenção à Violência, reforça que a PM não irá resolver a questão de segurança. “A militarização nas universidades gera clima de medo e cenas de desrespeito, como já vem acontecendo na USP. O que precisamos é de gerar espaços de sociabilidade, cidadania e política de prevenção. Não queremos mais repressão e violência”, sugeriu o professor que também faz parte do Laboratório de Estudos de Segurança Pública de Alagoas. O docente salienta, no entanto, que a PM deve adentrar ao espaço universitário quando todas as outras opções de diálogo realizadas pela guarda federal e pela segurança privada, forem esgotadas.

Emerson apontou que é necessário aprofundar o debate sobre violência, segurança e analisar experiências de outras universidades. “Não existe sustentação no discurso de que a PM tem que estar nos campi universitários. Por isso, precisamos criar espaços permanentes de debates e nos debruçarmos empiricamente sobre o assunto”, salientou o professor que já vem pesquisando na Ufal alternativas de segurança para a universidade, e frisou que não é possível falar deste tema baseado no senso comum.

Autonomia Universitária. Antônio Carlos Moraes, que faz parte do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, criticou o caráter autoritário e conservador da decisão da Ufes. “O reitor Reinaldo Centoducatte não garantiu o amplo diálogo com a comunidade acadêmica, tampouco deliberou o assunto nos Conselhos Superiores”. Este processo mostra o caráter vertical de uma Administração que prescinde da interlocução com a comunidade diretamente envolvida no cotidiano da universidade. E ainda, fere a autonomia universitária.

Com essa decisão, lembrou Antônio, apenas reforça a solução fácil e rasa colocada pela grande mídia. Para ele, é urgente mobilizar toda a comunidade universitária para discutir a violência dentro e fora da Ufes, buscar os fundamentos do problema, encontrar soluções que façam avançar na democracia.

No debate “Gestão de segurança universitária no Brasil” foi discutido a forma de atuação da Polícia Militar nos espaços universitários, o modo repressivo como já vem funcionando na USP, a incompatibilidade entre os modelos da PM X Universidade e refletiu ainda proposições para a gestão de segurança que se respeite as multiplicidades de pensamentos e manifestações nos campi. 

Fim do contrato com terceirizados. Um vigilante que atua há alguns anos na Ufes e é do Sindicato dos Vigilantes terceirizados (Sindseg/GV/ES), disse que não esperava perder o emprego. “O reitor usou a justificativa dos cortes de verbas que está sofrendo à universidade para demitir os trabalhadores terceirizados. Pegou todo mundo de surpresa”, expôs. Ele questionou, todavia, que se o contrato com os vigilantes está sendo oneroso para a Ufes, porque contratar Policiais Militares aposentados? “De onde a universidade, que disse estar sem dinheiro, vai tirar recurso para pagar os PMs e comprar os armamentos?”, perguntou indignado.  

Reitor da Ufes ignora pedido de reunião. O presidente da Adufes, José Antônio da Rocha Pinto, informou aos participantes que a Adufes solicitou pedido de reunião conjunta à Administração Central da Universidade em 30 de outubro e reiterado no último 21/11, e até o momento sem sinal de resposta. “Que o reitor atenda a nossa solicitação e dialogue com a comunidade universitária e os vigilantes terceirizados”, exigiu. 

Logo que foi assinado o convênio entre administração e Polícia MIlitar, diversas entidades se manifestaram de forma contrária à decisão do reitor Reinaldo Centoducatte. Desde então, o coletivo PM na Ufes NÃO tem realizado debates sobre o tema. Em todas as atividades, a comunidade acadêmica se demonstrou contraria ao convênio assinado.

Participaram do debate professores, alunos, servidores da guarda federal, representantes de diversas chapas do DCE, Sintufes, sargentos, gerente de Segurança e Logística da Ufes e movimentos sociais.

Fonte: Adufes