Ministro da Educação é demitido após gestão marcada por recuos

Bolsonaro demite Vélez e indica economista ligado a Olavo de carvalho e ao FMI. Essa é a segunda queda em 100 dias.

Após ter sinalizado a saída de Ricardo Vélez na semana passada durante uma entrevista, Jair Bolsonaro anunciou sua substituição no Ministério da Educação, apresentando o nome do economista Abraham Weintraub. A troca foi anunciada através de sua rede social.

Vélez protagonizou polêmicas e foi alvo de críticas em relação à sua capacidade de gestão. Em um primeiro gesto, pediu que escolas gravassem alunos entoando o hino nacional e recitando o slogan do governo. Recuou por conta da inconstitucionalidade da medida.  Outra proposta anunciada e desfeita foi o fim do monitoramento das taxas de analfabetismo no Brasil.

Um ministro incompetente e trapalhão. Colombiano naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez foi indicado pelo autodenominado “intelectual” e guru de Bolsonaro Olavo de Carvalho. A crise causada por diversas trapalhadas paralisou o MEC (Ministério da Educação). Defensor de ideias ultraconservadoras e incompetente para dirigir um dos principais ministérios do governo, Vélez anunciou recente que iria mudar os livros didáticos do país para “reescrever” a história sobre o golpe de 1964. A intenção não agradou nem mesmo a alta cúpula dos militares.

Vélez também chegou a dizer que “universidade não é para todos”; que os brasileiros parecem “canibais” quando viajam ao exterior; anunciou a suspensão da avaliação nacional do ensino fundamental. Além disso, fruto de disputas de grupos políticos no governo, foram feitas dezenas de demissões na Pasta.

Em recente participação em uma Comissão Especial na Câmara para, Vélez se viu humilhado ao ser confrontado por deputados e não saber dar informações sobre os planos para a educação no país.

Novo ministro e o mercado financeiro. Formado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo, atuou no mercado financeiro por mais de 20 anos. Weintraub foi sócio da Quest Investimentos, membro do comitê de trading da BM&F Bovespa, conselheiro da Ancord e representou o Banco Votorantim, do qual foi diretor, em encontros do Fundo Monetário Internacional.

Weintraub era secretário-executivo da Casa Civil. Segundo o Estadão, ele “afirmou que é preciso vencer o marxismo cultural nas universidades e trabalhar para que o país pare “de fazer bobagem”. Ele defende as ideias de Olavo de Carvalho, que chancelou sua indicação. O economista também é conhecido por ser “bolsonarista” e adepto de ideias ultraconservadoras de Olavo de Carvalho.

O currículo ligado ao mercado financeiro explica inclusive o posicionamento a favor da proposta de Reforma da Previdência do governo Bolsonaro. Weintraub participou da equipe de transição do atual governo e participou da elaboração das propostas da reforma, que acaba com o direito à aposentadoria dos trabalhadores e mais pobres.

“Ao que tudo indica, apesar de tirar Vélez porque a situação estava insustentável, Bolsonaro colocou no lugar outro nome que não tem conhecimento para resolver os reais problemas da educação no país e irá ficar reproduzindo falsas polêmicas sobre combate ao comunismo e outras bobeiras”, avalia a professora aposentada e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Joaninha Oliveira.

“Com Bolsonaro, os ataques à Educação, que já vinham ocorrendo em outros governos, estão sendo aprofundados, com medidas que atentam contra o espírito laico e democrático do ensino, e também que aumentam a precarização das condições de trabalho dos professores e trabalhadores do setor. As medidas de Vélez não passaram de trapalhadas porque não resolviam os reais problemas da educação. As professoras, professores e trabalhadores perceberam isso desde o início”, disse.

Para a dirigente, enquanto esse governo nomear ministros que não conhecem a realidade das escolas, a situação só vai piorar. “Não adianta medidas autoritárias e de guerra ideológica. O que a educação pública precisa é garantia de infraestrutura para as escolas, condições de trabalho dignas, valorização do magistério e ensino de qualidade”, afirmou. Ela complementa que o ministro que não entrar com essa política, tem de cair, assim como a Reforma da Previdência, que é um golpe final na educação pública.

Ainda segundo Joaninha, segue necessária a paralisação nacional da Educação prevista para este mês de abril. “Vamos à luta em defesa da educação pública e de qualidade e contra a Reforma da Previdência”, disse.

O ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio é outro que está com a corda no pescoço. Desde o ano passado, Antônio é alvo de denúncias envolvendo o esquema de candidaturas laranjas do PSL. A Polícia Federal vê indícios da participação do ministro no esquema, que tem suspeita de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Bolsonaro, contudo, segue colocando panos quentes e disse que “ainda não é caso de tomar uma decisão” sobre Marcelo Antônio.

Primeiro demitido. Gustavo Bebbiano (PSL) foi demitido da Secretária-Geral de Presidência em fevereiro, por conta de seu suposto envolvimento em um esquema de candidaturas laranjas da legenda. No caso de Bebbiano, entretanto, um dos pontos que determinaram sua saída, que contrariou a posição dos ministros militares do governo e de Rodrigo Maia, foi a divergência pública entre ele e o filho mais novo do presidente, Carlos.

*Com informações da CSP-Conlutas

Fonte: Adufes