Manifesto dos docentes da Ufes sobre as declarações de Ricardo Costa

Docentes filiados à Adufes, reunidos em assembleia geral, aprovaram a divulgação de um manifesto, no qual criticam as declarações do professor Ricardo Luiz Silveira da Costa, do Centro de Artes da Ufes, sobre um possível desbloqueio de verbas federais cortadas da educação caso a reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro seja aprovada.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o docente também menciona o programa de pós-graduação ao qual ele pertencia na Ufes, atrelando a oferta das bolsas aos índices de avaliação estabelecidos pela Capes.  O manifesto lembra que Ricardo Costa é assessor do MEC e que suas posições revelam seu alinhamento com o governo atual.

Acompanhe a íntegra do texto:

MANIFESTO DOS PROFESSORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO SOBRE AS DECLARAÇÕES DO PROFESSOR RICARDO COSTA

O professor Ricardo Luiz Silveira da Costa, do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, concedeu entrevista à Folha de S. Paulo, em matéria intitulada “O que dizem os cientistas que defendem os cortes na pesquisa do país”. Nessa oportunidade, ele afirma que o rombo da previdência é imenso e que se a reforma previdenciária vier a ser aprovada os recursos cortados da educação poderão voltar. O docente também assinala a questão das bolsas de pesquisa de pós graduação, mencionando o programa ao qual ele pertencia na UFES, atrelando a oferta das bolsas aos índices de avaliação estabelecidos pela Capes.

Em primeiro lugar é preciso ressaltar que o professor é assessor do MEC no governo Bolsonaro, o que revela seu alinhamento com o governo atual, não sendo um acaso que suas posições sejam destoantes daquelas que vimos defender.

Consideramos as colocações do professor-assessor ultrajantes e inverídicas em vários pontos.

1- É falacioso o discurso de rombo da previdência. O que existe, na verdade, é o exorbitante pagamento da chamada dívida pública, que absorve cerca da metade do orçamento federal anual e nunca foi auditada.

2- A reforma da previdência cortará na carne das camadas mais humildes enquanto empresários e banqueiros continuam recebendo perdão de suas dívidas, a exemplo do convênio que reduz R$ 40 bilhões em ICMS para o agronegócio e o aceno de Bolsonaro com o perdão de 30 bilhões de dívidas do setor com a Receita Federal.

3- O governo acena com uma possibilidade de retorno dos recursos cortados das universidades, caso a reforma seja aprovada. Nessa direção, não há nenhuma garantia em relação ao discurso proferido. Mais que isso, o que está ocorrendo é uma chantagem, que visa desmobilizar o conjunto das universidades de suas lutas que avançam vitoriosamente sobre o governo Bolsonaro.

4- A metodologia de avaliação da pós graduação, sobrelevada por Ricardo Costa, é adoecedora, desumana e meritocrática. Exemplo disso é que foram devolvidas na semana passada as bolsas dos programas com notas 6 e 7, sendo que a maior parte, portanto, permanece bloqueada. Assim, condicionar o retorno das bolsas à aprovação da reforma da previdência e aos índices de avaliação é duplamente cruel, desonesto e nefasto, posto que as universidades públicas, em seu conjunto, são responsáveis por 95% da produção científica do país e, como sabemos, esse resultado está intimamente vinculado aos programas de pós-graduação stricto sensu, não se restringindo aos programas 6 e 7.

Pelo exposto, nós, professores filiados à Associação de Docentes da UFES (Adufes), reunidos em Assembleia, repudiamos as declarações de Ricardo Costa e ressaltamos que suas afirmações NÃO REPRESENTAM nossas posições, que se alinham à defesa da classe trabalhadora, da universidade pública e contra a reforma da previdência.

Lamentamos que um professor pertencente aos quadros de uma instituição pública de ensino, com mestrado e doutorado realizados também em universidade pública, com afastamentos para qualificação em nível de pós-doutorado com ônus aos cofres públicos, não esteja ao lado do povo e da educação para todos.

Temos orgulho de nossa instituição, de fazer parte do sistema federal de educação superior e de nossa história de luta pela educação pública, laica, gratuita, de qualidade socialmente referenciada e democrática.

Não nos calaremos!

Não recuaremos!

Não aceitaremos nenhum tipo de barganha, chantagem ou “toma lá dá cá”. Essa é a prática assumida por este governo e não por nós, professores universitários.

Não permitiremos que nos confundam com aqueles que mancham a história da educação brasileira e se perfilam à tentativa de destruição do patrimônio público.

Educação, sim! Ele, não!

Assembleia da Adufes

Vitória, 27 de maio de 2019.