Professoras falam sobre a participação da mulher na vida pública e sindical


O  8 de Março, dia Internacional da Mulher, convida-nos a uma reflexão sobre as mulheres na política, na vida pública, nos sindicatos e movimentos populares. Por que ainda somos tão poucas em diversas instâncias políticas, se somos a maioria da população brasileira? Confira abaixo reflexões de três professoras de diferentes campi da Ufes – Maruípe, Alegre e Goiabeiras – sobre essa questão
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Ana Heckert –  Professora do Departamento de Psicologia

A participação das mulheres em cargos da estrutura universitária ainda é algo recente em nosso país, fruto de uma sociedade patriarcal, machista, racista. E na direção do movimento sindical também se constitui como um desafio e vem se ampliando como expressão da luta das mulheres.

A gestão atual da Adufes é constituída em sua maioria por mulheres e o Conselho de Representantes também. Ainda não temos a maioria de mulheres negras no CR e na direção da entidade, o que nos mostra a necessidade de pautarmos o debate de ações efetivas nas cotas dos concursos de docentes, além do debate cotidiano do racismo institucional que retira nossas colegas negras destes espaços cotidianos de participação e decisão. Há outros tantos desafios que podemos nomear.

Lidamos com relações machistas em que os homens acham que precisam e podem nos ensinar a melhor forma de conduzir as reuniões, a gestão do sindicato, a luta política, por exemplo. A violência contra as mulheres na universidade muitas vezes sequer é percebida como tal. Os lugares nos palanques, nas mesas de negociação, nos microfones, no carro de som, nas falas das assembleias, ainda estão atravessados pelas relações de gênero e de raça no movimento sindical.

E para que esta participação se amplie e se expanda temos que criar condições para tal, dialogando com nossas colegas da base que ainda não participam diretamente da direção do sindicato. Por isso, reafirmo a importância da nossa participação e deste debate, porque os mecanismos usados para desqualificar nossas proposições, nossas análises, nossa ação política, não são menos intensos porque estamos em um ambiente universitário.

Rita de Cássia Duarte Lima – Professora aposentada/Professora voluntária do Programa Pós-Graduação em Saúde Coletiva

A mulher é o alicerce de vários setores da sociedade, da família, inclusive dos setores produtivos. Nós, mulheres, temos desempenhado papel fundamental no universo acadêmico, seja na pesquisa científica, extensão e graduação. Graças às lutas promovidas, temos conseguido aumentar o nosso espaço nas estruturas sociais, abandonando a figura de mera dona de casa e assumindo postos de trabalho e cargos importantes. Ainda há muita desigualdade, e essa é uma luta constante e persistente.

Por isso a importância de estarmos nas ruas neste 8 de março. É um dia importante para reafirmarmos a luta em defesa dos direitos femininos, por mais igualdade, contra qualquer forma de discriminação e o aumento da violência e o racismo. E a nossa presença no meio sindical é super importante. A atual direção da Adufes está mostrando isso claramente. É uma direção formada em sua maioria por mulheres, mais de 70 % dos cargos são ocupados por professoras, pesquisadoras, mães, ou mulheres que não são mães, mas todas que estão batalhando por seu lugar na sociedade, no mundo do trabalho.  

Ana Cláudia Hebling Meira – Professora Departamento Medicina Veterinária CCAE (Alegre)

Se formos pensar que vivemos numa sociedade democrática, que existem homens e mulheres participando dela, então temos que levar em conta os princípios democráticos, afinal de contas as mulheres são cidadãs. Como mais da metade da população brasileira é composta por mulheres, teoricamente essa parcela deveria ocupar os espaços públicos, políticos, partidários ou sindicais, afinal de contas elas também têm projetos políticos, desejos, competências, capacidades para construir um país.

A mulher tem outro ponto de vista, que é típico do feminino, enxerga com outro olhar a realidade, se posiciona de uma outra maneira na sociedade, então ela também deve ter espaço para expressar esse outro ponto de vista, os seus projetos. E é importante construirmos relações de gênero mais igualitárias, independente desses princípios democráticos ou políticos. Termos espaços para questionamentos, de contestação do patriarcalismo, desse domínio do masculino sobre o feminino na nossa sociedade que, no meu entender, é uma relação de poder muito desigual e injusta. Precisamos estar nas ruas neste 8 de Março e em outros espaços e atividades também, porque temos muitos a contribuir com essa luta e organização.

Fonte: Adufes