Comunidade acadêmica do Ifes divulga nota contra aulas não presenciais durante a pandemia
Assinada por várias entidades e movimentos sociais, a nota de repúdio conta com o apoio da Adufes. Linkar nota
O documento que circula em sites e redes sociais critica a implantação das atividades curriculares não presenciais no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). A medida tomada pela Reitoria foi aprovada em reunião virtual do Conselho Superior no dia 6/5. De acordo com a Resolução do Ifes (linkar), que tem atualmente 22 campi em funcionamento, cada unidade deve decidir os meios adequados para que as aulas possam ser desenvolvidas. No estado, o primeiro campus a implementar aulas remotas foi o do município de Cariacica, em 11/5.
Para o estudante Felipe Gaspar, do curso de Sistema de Informação de Cachoeiro, sul do Estado, a reitoria desconsidera uma série de questões complexas que precisam ser debatidas de forma democrática. “A implementação das aulas não presenciais ignora a realidade dos estudantes, acentua a desigualdade e precariza o ensino público”, disse, complementando ainda que a decisão exclui os estudantes que não têm acesso à internet, sobretudo os do interior do ES.
Felipe destacou que faz parte da grade curricular dos cursos do Ifes atividades em laboratórios. O documento aprovado pela reitoria do Instituto não leva em conta a importância das aulas práticas para estudantes secundaristas, de cursos técnicos e tecnológicos. “A iniciação científica e o uso dos laboratórios são essenciais para que os estudantes sejam introduzidos na pesquisa e no desenvolvimento tecnológico. E essa prática só poder ser feita de forma presencial e com o auxilio de um professor”, defendeu.
Em nota, os movimentos criticam a medida apontada pela reitoria como única alternativa ante ao contexto de pandemia. A nota destaca que a medida é “respaldada numa pesquisa que não chegou à metade do contingente estudantil, tendo em vista que dos 22 mil estudantes, apenas 9 mil participaram do levantamento”, e coloca seguinte questionamento: “como iriam os alunos sem acesso à internet responder um formulário online?”.O texto se contrapõem à argumentação da reitoria de que os estudantes aceitavam ter aulas não presenciais.
O diretor do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Carlos Firmino, apontou que a alteração do cotidiano durante a pandemia inviabiliza a qualidade das aulas e da educação. “Temos alunos e professores com filhos ou idosos para cuidar, que não têm quarto com privacidade para estudar ou simplesmente não têm computador”, destacou Carlos. Além disso, as pessoas estão assustadas e com medo do aumento do número de mortes no país. “Não há clima para estudar”.
O Sinsasefe Ifes, uma das entidades signatárias da nota de repúdio, mostrou-se preocupado com a realização das aulas a distância durante a pandemia. “O Direito à Educação pública e gratuita previstos na Constituição de 1988 está sendo negligenciado. Continuaremos pressionando a reitoria para que a medida seja revogada”, defendeu Carlos.
A nota dos movimentos sociais e sindicais contra a adoção as aulas não presenciais menciona “diversos fatores que fragilizam a proposta em curso: falta de capacitação dos professores e pouca experiência na realização de aulas à distância; instabilidade do sistema Q-Acadêmico e complexidade do AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle); inexistência de políticas concretas para a garantia, tanto da manutenção da qualidade no processo de ensino-aprendizagem, quanto do acesso do conteúdo pelos alunos que não possuem internet e computador ou smartphones para atender à necessidade de seus estudos; a necessidade de apoio pedagógico, atendimentos e monitorias”, descreve o documento que conta com várias assinaturas.
A presidenta da Adufes, professora Ana Carolina Galvão, que participou da elaboração das “Ponderações sobre o ensino escolar em tempos de quarentena: carta às professoras e professores brasileiros”, reafirmou que “nossa posição como trabalhadores da educação é clara: a educação à distância não substitui a educação presencial!”.
Para ela, é inegável que a pandemia afeta o processo de ensino aprendizagem escolar, mas o EaD não é a única saída para as escolas das redes municipais, estadual, para o Ifes e Ufes. “É preciso reconhecer a realidade que está colocada, e a excepcionalidade daquilo que estamos vivendo”. De acordo com a carta, “em se assumindo as perdas como um fato posto, cabe perguntar se o recurso a atividades não presenciais pode sanar ou minimizar tal prejuízo, e o que cabe à escola, como instituição social, diante desse cenário”. Link da carta
Fórum de Gestão Pedagógica critica adoção da educação não presencial no Ifes. O Fórum de Gestão Pedagógica (FGP) denunciou, por meio de nota, o fato de que a construção do documento aprovado pelo Conselho Superior do Ifes não contou com participação do FGP. O Fórum destaca, ainda, a falta de inclusão da comunidade acadêmica em todas as esferas, ou seja, pais ou responsáveis, discentes, técnico- administrativos e docentes.
“Chamamos a atenção do Conselho Superior que a construção do documento validando as Atividades Não Presenciais não teve em nenhum momento a consulta do Fórum de Gestão Pedagógica (FGP) ou a participação de representante do mesmo compondo a comissão, contrariando uns dos princípios básicos previsto em nosso PDI da construção democrática e coletiva dos documentos institucionais”, relata a notaO Fórum de Gestão Pedagógica também expressa sua preocupação com o irreparável dano no processo de escolarização dos estudantes do Ifes, mediante a realização de práticas escolares não presenciais que poderá aprofundar o distanciamento psicossocial, material e econômico entre as classes sociais de nosso Estado. “O cenário é de uma crise sanitária e que é de responsabilidade do Ifes propiciar práticas de educação que colaborem com a promoção da vida e não com a afirmação de práticas reprodutoras da lógica conteudista, produtivista e individualista”, finaliza a nota. (Linkar pdf).
#IFEScontraoEAD (linkar abaixo-assinado). Um abaixo-assinado criado por estudantes do Ifes de Vila Velha, em um perfil do Instagram, cobra a suspensão das atividades não presenciais. Segundo o estudante Eduardo Segundo, que cursa Biotecnologia no campus de Vila Velha, o movimento #IFEScontraoEAD foi criado para pressionar a instituição a rever a resolução. “Não somos contra a Educação a Distância (EaD), uma modalidade de ensino que deve ser feita com seriedade e planejamento e não dá forma que o Ifes propôs”, pontuou.
A coleta virtual conta com quase 4 mil assinaturas, além do apoio de entidades representativas nacionais como a União Nacional dos Estudantes (Une) e de centros acadêmicos e grêmios estudantis. O movimento também promete acionar o Ministério Público Federal para tentar barrar a iniciativa. O Instituto Federal do Espírito Santo oferece curso de ensino médio, graduação, técnicos a mestrados e possui aproximadamente 36 mil alunos em campi da Grande Vitória e interior do Estado.
#AdiaoEnem. Foi divulgado na noite dessa terça, 19, no portal do Ministério da Educação(MEC, o Enem será adiado “de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais”, de acordo com decisão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e do Ministério da Educação (MEC).
A decisão ocorre depois de o governo enfrentar questionamentos judicias cobrando o adiamento da prova por causa dos efeitos da pandemia da Covid-19, que levaram escolas a suspender as aulas presenciais. O debate sobre o adiamento da prova chegou ao Congresso na terça-feira (19), o Senado aprovou projeto que adia Enem, e o texto seguiu para avaliação da Câmara dos Deputados.
Os estudantes do Ifes também exigem o adiamento do Enem. Para Eduardo Segundo, aplicar as provas em novembro seria injusto com os candidatos mais pobres, que têm enfrentado dificuldades no acesso ao ensino remoto. “Os estudantes de escolas públicas, devido à pandemia do novo coronavírus, lidam com diversos obstáculos, desde a falta de computadores até o acesso à internet. Também lidam com problemas para tirar dúvidas com os professores”.
Desconsiderando o contexto de pandemia e as condições subjetivas e materiais das alunas e alunos brasileiros, conforme pronunciamento recente do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, as datas do Enem ainda estão mantidas para o mês de novembro.