Nota da Adufes sobre postura da Sedu em episódio de charge sobre Bolsonaro

Tomamos conhecimento pela imprensa local e por redes sociais que “o Governo do ES vai investigar dever de casa com charge contra Bolsonaro, feita por um professor de Artes da EEEF Prefeito Feu Rosa, em Manguinhos”.

O enunciado do exercício, após explicar que o cartum é “uma história em quadrinhos curta […] que critica situações do cotidiano”, solicita que o aluno identifique a crítica feita num cartum apresentado – cuja fonte não é claramente indicada no exercício – em que um dos personagens diz “’pro Brasil vencer o Corona, primeiro vai ter que vencer outro vírus tão mortal: O Bolsonaro”, a que o outro personagem responde: “Imediatamente.” A questão da atividade proposta pelo professor é: “Como o Corona está influenciando sua vida e a vida de sua família?”

A mãe da aluna denunciou uma tentativa de doutrinação, apoiada por parlamentares que denunciaram o fato nas suas redes A SEDU, em nota oficial, enfatizou que o exercício não segue as orientações da Secretaria nem da equipe pedagógica da escola e abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias em que o caso ocorreu.

Frente a tais fatos, a Diretoria da Adufes vem pontuar as seguintes considerações:

O professor propõe aos alunos que identifiquem a crítica feita no cartum  e comentem como o Corona está influenciando a sua vida e de sua família. Assim, a atividade  solicita que o aluno exerça sua capacidade de análise, que desenvolva sua linguagem, que expresse livre e democraticamente, sua opinião sobre o cartum e, inclusive,  sobre a crítica que ele faz. O exercício não direciona nem induz os alunos a concordar ou não com as falas dos personagens, mas sim, estimula-os a se expressarem e a se posicionarem frente a essas falas, relacionando-as com a própria experiência de como estão vivendo o seu cotidiano face à pandemia. 

Várias redes de ensino da Grande Vitória costumam ter convênios com os jornais do ES, nos quais os alunos leem, discutem e analisam matérias diversas nas atividades das várias disciplinas. Portanto, o uso de jornais no cotidiano da escola é estimulado pelas redes de ensino..

Cabe destacar também que o professor está plenamente amparado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação , quando estabelece , no seu artigo 3º, que  o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios, dentre outros: II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; VII – valorização do profissional da educação escolar; X – valorização da experiência extra-escolar; e  XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Frente aos fatos, manifestamos nosso estranhamento pelo fato de o exercício ter sido retirado da plataforma oficial rapidamente, além da abertura de um processo de sindicância pela SEDU para apurar as circunstâncias. Também repudiamos a postura de parlamentares que deram ao fato um caráter de doutrinação.

Reafirmamos que os profissionais da educação pública têm o direito e o dever  de ajudar seus alunos a exercitar, em qualquer das áreas do conhecimento, a capacidade de análise crítica, a livre expressão e posicionamento frente aos vários fatos sociais e, neste caso, especificamente, frente à pandemia que a todos está envolvendo de forma avassaladora e a quaisquer outros fatos que são diariamente publicizados, debatidos e analisados pelos veículos de comunicação e que  tocam, de formas muitas vezes, extremamente duras, as famílias dos nossos alunos e alunas da rede pública.

Fone: Adufes