Reitor Paulo Vargas responde à Procuradoria e revela encaminhamentos não discutidos com a comunidade acadêmica

Adufes imediatamente protocolou pedido de explicações à Administração Central

Docentes, técnicos e estudantes foram surpreendidos na noite de segunda, 8, quando começou a circular a resposta do Reitor da Ufes à Procuradoria, que questionava a Ufes sobre adesão a modelos de aulas online.

A Procuradoria foi acionada por um estudante que apresenta solicitação de que “a Ufes adote o EAD no ensino a Pandemia do [sic] Covid-19” . Em resposta, a Reitoria enviou o Ofício nº. 178/2020/GR/UFES, no qual explicita uma série de decisões tomadas para que as aulas online sejam praticadas.

Assim que teve conhecimento do caso, a Adufes encaminhou o Ofício 26/Adufes/2020. “Pela vida acima dos lucros, por educação pública, laica, de qualidade, socialmente referenciada, estatal e presencial, foi com apreensão e indignação que a Associação dos Docentes da Ufes recebeu o Ofício nº. 178/2020/GR/UFES. Assim, esperamos que as questões elencadas neste documento sejam respondidas com a mesma responsabilidade e honestidade observadas no encaminhamento feito à Procuradoria Federal”.

Solicitação à Procuradoria. O pedido feito pela/o estudante tem dois aspectos que merecem destaque. O primeiro é a afirmação de que “todas as universidades estão ofertando o ensino EaD”. Segundo o Monitoramento feito pelo Ministério da Educação, entre 69 universidades federais, apenas oito aderiram a um modelo denominado no site de “TIC/Remotas”. Outras seis estão com “aulas parciais”, o que eventualmente pode representar a adesão a atividades online. Cinquenta e cinco universidades estão com “aulas suspensas”, sendo que, entre elas, a grande maioria está com calendário suspenso. “O Reitor não disse uma palavra sobre isso e perdeu uma excelente oportunidade de defender nossa instituição”, afirma Ana Carolina Galvão, presidenta da Adufes.

O segundo ponto levantado no pedido do estudante é o alegado  prejuízo ao calendário ao não se oferecerem aulas online . “Esse foi o motivo de fazermos a campanha de suspensão do calendário. Já sabíamos que o esforço pela manutenção do calendário tinha relação com as aulas virtuais”, destacou Ana. 

A professora Ana Claudia Meira, do Centro de Ciências Agrárias e  Engenharias (CCAE/Alegre), desaprovou a tentativa da universidade de manter a ideia de “normalidade” à situação excepcional do momento. “Diante da pandemia, nada vai seguir seu tempo normal. Suspender o calendário acadêmico era suspender essa pressão pelo tempo que “parece obrigar” a UFES adotar a EaD a qualquer preço. Não podemos aceitar ameaças. A universidade é autônoma”.

Para a conselheira, todas as atividades da Ufes deveriam seguir na direção de proteger a saúde de toda a população, além de incentivar que pesquisadores e docentes voltem seus conhecimentos e capacidades para o combate à Covid-19. “Isso sim é que deve ser prioridade”, frisa Ana Claudia.

Desrespeito à comunidade acadêmica. De todos os centros de ensino surgiram manifestações de indignação com a forma como está sendo feita a condução das decisões na Ufes. Na avaliação de da presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão, já no debate sobre a suspensão do calendário a Reitoria não se mostrou verdadeiramente disposta a dialogar e agora está bem explicada a motivação.

Foram mais de sessenta dias sem convocar o CEPE, e quando ocorreu a sessão, o debate foi encaminhado para os Centros de Ensino. O tempo para a discussão foi de apenas 8 dias. “Fora isso, as Pró-reitorias produziram pareceres aterrorizantes e a Reitoria lançou, no ponto culminante dos debates, a manifestação da Procuradoria, que ameaçava descabidamente a comunidade acadêmica”, diz Ana.

O que mais revoltou todas/os foi a solicitação da própria Ufes  de que os centros de ensino se manifestem em 30 dias (até 25 de junho) a respeito dos planos de contingência e biossegurança. Na publicação da universidade está dito que “A intenção é que toda a comunidade seja envolvida na construção de soluções que possam ser adotadas pela Universidade enquanto as atividades presenciais estiverem suspensas e depois da retomada dessas atividades, mesmo que ainda não haja uma data prevista”.

“É um contrassesso que essa resposta à Procuradoria já indique detalhes de encaminhamentos que, em tese, ainda estão numa etapa de discussão”, destaca a presidenta da Adufes. Ana ressalta que documento enviado à Reitoria pela Adufes faz uma série de questionamentos importantes, tais como:  “qual a finalidade de comissões locais nas unidades? Qual a responsabilidade da Reitoria com os trabalhos que as comissões vem desenvolvendo com empenho e seriedade, se mesmo antes de findar o prazo de suposta discussão, as definições já foram tomadas?”

Professoras/es se manifestam. Docentes de diferentes Centros Acadêmicos se posicionaram em relação à resposta do Reitor à Procuradoria. Com medo de perseguições, algumas professoras e professores pediram à reportagem para que seus nomes não fossem divulgados, o que mostra que o assédio moral é uma realidade no cotidiano da categoria. Vejam o que elas e eles pensam:

  • “Soluções não institucionais e individualistas, com aulas baseadas em webcam & powerpoint, não substituem aulas presenciais”, o que é um alerta para os encaminhamentos feitos apressadamente pela Reitoria (professor Celso Alberto Saibel Santos, do Centro Tecnológico).
  • “Implantar o ensino superior à distância na Ufes, sem debate com toda a comunidade acadêmica, é uma decisão autoritária, que ignora as condições de grande parcela de nossos alunos e desconsidera a complexidade das relações pedagógicas (Elizabete Bassani, Centro de Educação).
  • “Sem que a direção central da universidade diga o que concebe e propõe com o termo “estudo à distância”, não temos condições para debater os efeitos que os Planos de Contingência e Biossegurança terão para a formação dos nossos estudantes. Se somos informados que a Ufes está aderindo ao “estudo à distância” por outras vias que não através de uma comunicação oficial, qual o sentido de fazer uma consulta à comunidade acadêmica?” (Jorge Luis G. dos Santos, CCHN).
  • “Diante da resposta do Reitor à Procuradoria Federal somos desrespeitados em nosso papel docente. Enquanto outras Universidades dialogam com suas bases, na Ufes somos submetidos a uma decisão imposta autoritariamente” (docente anônimo do  CCS)
  • “Foi com grande surpresa e indignação que recebi o ofício da Reitoria. Tal atitude desconsidera as discussões dos Colegiados e Departamentos que indicaram a necessidade de amplo debate para o retorno das atividades, tendo em vista a importância de se garantir acesso e ensino de qualidade e formação continuada dos professores para o desenvolvimento de suas ações” (anônimo, CCAE).

Ufes do medo. O sindicato tem recebido várias manifestações e comentários privados, nos quais docentes pedem para não serem identificados “Isso é um sinal de que a Ufes tem sido administrada com mão de ferro e burocracia, sem qualquer tipo de diálogo com a comunidade acadêmica. Estamos convivendo com muita cobrança, muita pressão, e as professoras e professores temem represálias profissionais e pessoais”, conclui a presidenta da Adufes.

Fonte: Adufes