Cruzes são fincadas nas areias da Praia da Costa como memorial e denúncia contra políticas genocidas. O município tem mais alta taxa de contaminação no estado.
As cruzes foram espalhadas na praia de Vila Velha, na manhã desse domingo (19), em homenagem às mais de 2 mil vítimas da Covid-19 no Espírito Santo. O ato foi realizado pelo Fórum Capixaba em Defesa da Vida das Trabalhadoras e Trabalhadores, composto por cerca de 50 entidades, entre centrais sindicais, movimentos populares e sindicatos – incluindo a Adufes. A manifestação também denunciou o descaso dos governos estadual e federal diante da pandemia e reivindicou abertura de diálogo com a sociedade civil organizada por parte do governo Renato Casagrande (PSB).
De acordo com carta em memória das vítimas da Covid-19 no Espírito Santo, divulgada nesse fim de semana, o novo coronavírus tem maior impacto nos bairros populares, onde o número de mortes é bem maior do que em lugares de poder aquisitivo mais elevado. O município de VilaVelha lidera em taxa de contaminação, com mais de 10 mil casos dos 70 mil que existem no estado.
Segundo dados do Governo do ES, de cada 7 capixabas contaminados pelo Covid, um é de Vila Velha. Dos 12 bairros com maior número de contaminados, 5 bairros são desse município. No dia em que o estado atingiu 2202 vidas ceifadas pela pandemia, o prefeito de Vila Velha, Max Filho (PSDB), decidiu retirar os bloqueios do calçadão. A carta que está sendo amplamente divulgada destaca que “flexibilizar o distanciamento social é uma política de morte e de morte aos mais pobres”.
Mulheres e negras/os. O Fórum Capixaba em Defesa da Vida das Trabalhadoras e Trabalhadores também aponta as violações de direitos de mulheres e negras/os, que têm se intensificado durante a pandemia. “Um demonstrativo disso é a crescente subnotificação dos casos de violência contra a mulher no ES no período de distanciamento, reflexo da falta de acesso aos mecanismos de denúncia. Reivindicamos acesso aos dados reais do nosso estado e a garantia de políticas públicas que possam atender às mulheres vítimas de violência!”, frisa nota.
Em relação as/os negras e negros, o documento também salienta que “outro inequívoco reflexo da brutal desigualdade social e racial é demonstrado através da taxa de letalidade entre a população negra, que é 18% maior do que a da branca”. O movimento cita, ainda, a pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo (NEAB-Ufes), que reafirma: 70% dos infectados são negras/os.
Para a diretora da Adufes, Junia Zaidan, que representa a Adufes junto ao Fórum, os movimentos e organizações da classe trabalhadora reivindicam ações protetivas do Estado à população e não ações que causam sua contaminação e morte. “Estamos não só reivindicando, mas também denunciando: não se trata de desresponsabilizar o governo federal e alvejar estados e municípios, como tantos desejam. Estão todos implicados, são todos responsáveis pela tragédia que estamos vivendo”, alerta.
O Fórum denuncia, uma vez mais, que o governo Bolsonaro favorece o aumento da Covid-19 por meio de ações como o veto ao uso obrigatório das máscaras no comércio, escolas e igrejas e do uso de R$ 8,6 bilhões do Fundo de Reservas Monetárias. “Ao invés de salvar vidas, esse dinheiro vai pagar dívida! Segura o dinheiro da saúde e dá trilhões para os bancos”, critica a carta assinada por vários movimentos sindicais e sociais.
O Brasil tem 79.590 mortes por coronavírus confirmadas até o início desta segunda-feira (20/7), segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das Secretarias Estaduais de Saúde.
*Fotos: Junia Zaidan
Fonte: Adufes