Levantamento aponta sobrecarga de trabalho e esforço para atender às exigências da Capes
A Adufes encaminhou algumas perguntas para os coordenadores e coordenadoras dos programas de pós-graduação (PPGs) da Ufes. Por meio dessa iniciativa, buscou-se obter informações sobre o funcionamento dos programas durante a pandemia da Covid-19. O sindicato obteve respostas de 21 programas, o que corresponde a 30 cursos, entre mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado, que totalizam mais de 400 professores pesquisadores. As respostas obtidas equivalem a 30% dos 94 cursos de pós-graduação existentes na universidade.
Entre aqueles que disponibilizaram as informações, nove programas de pesquisa contam com mestrado e doutorado, quatro são programas de mestrado profissional e oito são cursos de mestrado acadêmico. Segundo a presidenta da Associação, Ana Carolina Galvão, o levantamento foi feito pelo fato de a Adufes reconhecer que, juntamente com o ensino e a extensão, a pesquisa é um dos elementos fundamentais da universidade. Diante disso, segundo ela, é preciso verificar como os PPGs estão atuando durante a pandemia.
Uma das perguntas feitas pela Adufes aos programas foi sobre os prazos de qualificação de dissertações e teses. Quanto a isso, 71% responderam que estão mantendo; 14% afirmaram que flexibilizaram; 10% relataram que não realizavam habitualmente esse tipo de avaliação e 5% informaram que cancelaram por tempo indeterminado.
Outra pergunta feita pela Adufes foi sobre as defesas de dissertações e teses. Nesse caso, 81% mantiveram essa atividade regularmente, 4% cancelaram, 5% ainda não agendaram as defesas por terem prazo de realização até os meses de julho e agosto; 5% flexibilizaram os prazos e um programa informou que não tem defesas a realizar por estar em processo de desativação.
Por meio da pesquisa feita pela Adufes, os PPGs também apontaram outras atividades que estão desenvolvendo neste período de pandemia. A maioria dos programas realiza reuniões de colegiado; orientações de pesquisas de mestrado, doutorado e iniciação científica; orientações de trabalhos de disciplinas por meio de web-reunião; experimentos de campo imprescindíveis para o andamento das pesquisas; manutenção de laboratórios, projetos de publicação, elaboração e submissão de artigos; entre outras atividades remotas.
“Percebe-se que docentes, discentes e técnico administrativos têm vivenciado uma sobrecarga de trabalho que se acentua com as incertezas, receios e as condições psicológicas adversas geradas pela crise sanitária”, diz Ana Carolina. O docente do Programa de Pós-Graduação em Artes e conselheiro da Adufes pelo Centro de Artes, Gaspar Paz, destaca que o foco dos programas em garantir condições mínimas para pesquisas e projetos é para atender às expectativas de avaliação da Capes, buscando manter bolsas e recurso do programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP).
“É angustiante constatar que em tempos de uma crise sem precedentes como a atual, preceitos meritocráticos e produtivistas ainda figurem nos programas. É preciso promover uma mudança vigorosa de rumos e ações, pois não podemos nos resignar a atitudes discriminatórias entre áreas e campos de saberes, nem tampouco adotar consciente ou inadvertidamente formas de competitividade acadêmica”, diz Gaspar Paz.
PRPPG fere resoluções do Conselho Universitário
Nesse cenário de pandemia, percebe-se que a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) vem se posicionando com independência em relação às próprias normativas da universidade. Na reunião da Câmara de Pós-Graduação, realizada em primeiro de abril, ficou definido que a decisão sobre a manutenção das aulas, bem como sobre o formato a ser adotado, deve ser tomada por cada programa, considerando suas especificidades e levando em consideração a concordância dos docentes e discentes em relação ao formato proposto.
Essa decisão fere a Resolução do Conselho Universitário, que regulamenta a reorganização das atividades da Ufes como medida de prevenção à Covid-19. Além disso, a PRPPG já enviou ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) uma proposta de Resolução que busca disciplinar as atividades de pós-graduação durante a pandemia. Essa iniciativa revela intenções de aplicação de atividades de ensino remoto, mesmo antes de a matéria ser debatida pelas comissões dos Centros de Ensino, que foram chamados a se manifestar até a última sexta, 26.
“Os PPGs possuem laboratórios melhor equipados, dependências de pesquisa adaptadas e atendem um número mais reduzido de estudantes-pesquisadores que os cursos de graduação. Além disso, algumas pesquisas já são motivadoras de colaborações público-privadas. Esses aspectos, somados em um momento de crise sanitária e política, podem ser a pedra de toque tanto para os incentivadores do EaD e do Future-se, quanto para os conglomerados privados que atuam no campo da tecnologia e da educação e que se beneficiariam caso essas propostas fossem implementadas. Essa é uma das grandes provações enfrentadas hoje, não apenas pela Ufes, mas pelas universidades públicas brasileiras de uma forma geral”, finaliza Gaspar Paz.
Fonte: Adufes