Ufes não está preparada para o ensino híbrido, diz coordenadora do Lagebes

Instituição planeja implantar o ensino híbrido, uma mescla de aulas presenciais e conteúdo online, a partir de 1º de fevereiro de 2021, quando deve se iniciar o segundo semestre letivo especial. Retorno às salas de aula pode agravar transmissão da Covid-19 e desigualdades

A movimentação da Reitoria da Ufes em torno da retomada das atividades presenciais e online é vista com preocupação pela comunidade acadêmica, especialmente em relação ao ensino híbrido.

Mesmo que seja feita em esquema de revezamento e com limites de pessoas no ambiente, tal possibilidade nem deveria estar sendo aventada”, enfatiza a doutora em Educação e coordenadora do Laboratório de Gestão da Educação Básica do Espírito Santo (Lagebes), Gilda Cardoso, ressaltando que universidade é lugar em que se faz ciência, devendo, portanto, ser a primeira a respeitar a vida.

Para a professora, os riscos de estudantes, docentes, técnicos administrativos serem contaminados pelo vírus são inúmeros bem como o de transmitir a doença aos familiares.  Ela explica que o formato híbrido pressupõe que as atividades irão atender às/aos estudantes das duas formas simultâneas – presencial e remota -, exigindo investimentos em infraestrutura administrativa, tecnológica e pedagógica. Portanto, afirma Gilda, qualquer tentativa de retorno presencial é irresponsável, mesmo em revezamento. A Ufes, aponta a pesquisadora, sequer garantiu as condições necessárias ao Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário e Emergencial (Earte).

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Ensino híbrido mais excludente do que o Earte. “Os estudantes e docentes com comorbidades como diabetes, obesidade, hipertensão, tuberculose, entre outros casos de risco de agravamento, como vão poder provar porque não poderão estar na universidade? A Ufes vai exigir atestado, fazer perícia? Não é tão simples assim”, salienta Gilda, mencionando ainda as condições dos prédios com salas sem ventilação e pouco espaço para a distância entre as pessoas. O retorno na forma hibrida vai exigir, segundo ela, investimento na infraestrutura, como reforço no serviço de limpeza, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para estudantes e servidores, insumos (álcool em gel e sabonetes líquidos) e de equipamentos (dispensers de parede ou de chão), além de obras na rede física, com atenção redobrada aos banheiros, salas e laboratório.

Na parte administrativa, ela cita planejamento adequado para definir dias e modo de revezamento das/os estudantes, medição de temperatura da comunidade acadêmica, além de fornecimento e controle do uso de máscara de proteção e álcool gel.  Outro ponto essencial é a garantia de condições de trabalho das/os docentes que vão precisar de equipamentos de proteção e técnicos em sala de aula para dar o suporte necessário para garantir a qualidade das aulas para quem está em sala e quem está acompanhando as atividades à distância.

Para a professora, a Universidade deveria se preocupar em efetivamente avaliar o Earte, que está sendo ofertado de maneira precária. “Penso que se seguramos até agora, mesmo nos custando muito, temos que ter cautela e paciência. Vamos ter aí pelo menos duas vacinas à disposição até o ano que vem”, pondera Gilda, lembrando que os riscos de contaminação e morte pela doença ainda são grandes. Mesmo com protocolos de segurança, os registros de infecção por coronavírus nas unidades de ensino têm ocasionado a suspensão das aulas em instituições no Espírito Santo. Esta semana, municípios que entraram na classificação de risco moderado tiveram as aulas presenciais suspensas.

Fonte: Adufes

 

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