*Por Junia Zaidan
Chegaram dizendo que amputariam, necessariamente, nossos braços e pernas, dentro de alguns dias. Era para nosso próprio bem, diziam, leveza e rapidez para o corpo. Ao assombro e choradeira iniciais sucederam solidariedade e engajamento para evitar a múltipla mutilação. A campanha de conscientização sobre a imprescindibilidade dos membros revelou ser de tal modo vasta a gama de situações de seu uso, que defendê-los beirava o enfadonho culto da obviedade. Mas mantivemo-nos na luta.
Chegado o dia do procedimento, informaram-nos sobre uma alteração nos planos. Procederiam ao corte de apenas três dos quatro membros e poupariam nossa mão direita, sob a condição de pagarmos uma simbólica e irrisória quantia mensal. O alívio foi geral e a cirurgia, um sucesso.
*Junia Zaidan – é Linguista e tradutora, professora do Departamento de Línguas e Letras (CCHN/Ufes). Mãe do Igor. E também de Bento & Capitu.
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