Adufes realiza lives no centenário de Paulo Freire: primeira da série terá Luíza Erundina como convidada

Evento acontece no dia 16 de julho, às 19 horas, e também tratará da conjuntura atual, simbolizando resistência frente aos ataques bolsonaristas ao conhecimento e a Paulo Freire, símbolo de uma educação libertadora

A Adufes promove, a partir de julho, uma série de lives chamada “Conversas sobre Paulo Freire: Comemoração do Centenário do Patrono da Educação Brasileira”. A primeira live, “Educação Transformadora e Conjuntura Atual”, acontece no dia 16 de julho, uma sexta-feira, às 19 horas, com Luíza Erundina, deputada federal (Psol), e ex-prefeita de São Paulo que teve Paulo Freire como seu secretário de Educação. Erundina também é autora da lei que, em 2012, deu o título de Patrono da Educação Brasileira a ele. A transmissão será realizada no YouTube e no Facebook da Adufes.

Serão realizadas, ainda, outras duas lives: 23 de agosto, às 17 horas, com Edna Oliveira (Ufes), Maria Margarida Machado (UFG), e Maria Luiza Pinho Pereira (UnB); e 29 de setembro, às 17 horas, com Dermeval Saviani (Unicamp).

Comemorar o centenário de Paulo Freire, nascido em 19 de setembro de 1921, torna-se imperativo no Brasil de 2021. Falar de sua obra, do seu legado e das ideias que sobrevivem à sua partida, é um ato de resistência aos ataques diretos e já há muito tempo não disfarçados de setores reacionários da sociedade que são avessos a uma educação libertadora. O bolsonarismo – com todo o seu negacionismo e investidas contra a ciência, enxergando no conhecimento um inimigo a ser combatido – é hoje uma das expressões mais violentas das classes dominantes do Brasil. Nada mais urgente do que falar sobre o que eles não querem nem ouvir dizer.

De acordo com a presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão, professora do Centro de Educação (CE) da Ufes, não foi à toa que o Ministério da Educação de Jair Bolsonaro tentou tirar o título de patrono da Educação de Paulo Freire. “É uma referência a ser combatida por esse governo. Além do que Paulo Freire representou para a história da Educação no Brasil, falar dele é combater as ideias de retrocesso do governo Bolsonaro. E ele foi secretário de Educação da Erundina em São Paulo. A presença dela nessa primeira live é também simbólica. Ela foi a primeira mulher prefeita da capital paulista, de esquerda, tudo isso no final da década de 80.  Até hoje, em São Paulo, os professores da rede falam de Paulo Freire como o secretário que fez a carreira da categoria. Demorou mais de décadas para que as políticas de arroxo posteriores atingissem os salários dos professores da rede municipal de lá”.

Ana Carolina Galvão ressalta, ainda, que a live, além de tratar do centenário de Paulo Freire, vai tocar na conjuntura atual e nos ataques e desafios que a Educação e outros setores, assim como todo o conjunto da sociedade brasileira, enfrentam na atualidade.

Paulo Freire

A vida e a obra de Paulo Freire são marcadas por seu posicionamento em defesa dos setores mais oprimidos da sociedade. Ele nasceu em Recife, Pernambuco, em 1921, onde, desde cedo, observou as dificuldades de sobrevivência dessas pessoas. Para Freire, era preciso que houvesse uma transformação da sociedade para que ela se tornasse menos autoritária, discriminatória e desigual.

Paulo Freire ficou conhecido como um educador voltado para as questões do povo, seja nas salas da Universidade do Recife, seja nas primeiras experiências de alfabetização de adultos, como ocorreu em Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963.

A convite do governo de João Goulart, pouco antes do Golpe Militar de 1964, Freire coordenou, no Brasil, o Programa Nacional de Alfabetização. O objetivo era aplicar a metodologia de alfabetização criada por ele e atingir cinco milhões de adultos, que passariam a ser eleitores.

Ditadura

A partir daí fica mais evidente o tipo de incômodo que Freire causava nas classes dominantes da época, e também nos militares aos quais elas estavam aliadas, assim como nos setores conservadores de hoje, também detentores do poder econômico e que se aliam com o bolsonarismo e, novamente, aos militares. O “Método Paulo Freire” não trata apenas de alfabetizar, mas também de levar as pessoas a perceberem as injustiças que as oprimem e a necessidade de buscar mudanças, por meio de sua própria organização. A “ameaça” que essas pessoas representariam fez com que o Programa fosse extinto pela Ditadura Militar em abril de 1964, menos de três meses após ter sido oficializado. Freire foi acusado de subverter a ordem instituída e, depois de preso, teve que sair do país, seguindo o caminho do exílio no Chile.

No país vizinho, trabalhou como assessor do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e do Ministério da Educação chileno, desenvolvendo, assim, programas educativos para adultos. Também foi no Chile que Freire escreveu sua principal obra: Pedagogia do Oprimido.

Depois de 16 anos de exílio, Paulo Freire voltou ao Brasil, em 1980. Lecionou em importantes universidades como Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Em 1989, Paulo Freire assumiu a secretaria de Educação do município de São Paulo. Seu mandato teve como marca a recuperação salarial dos professores, a revisão curricular e a implantação de programas de alfabetização de jovens e adultos.

Paulo Freire ganhou vários prêmios, em todo o mundo, como reconhecimento da relevância de seus trabalhos na área da Educação. Em abril de 1997, lançou seu último livro, “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa”, e em maio do mesmo ano, vítima de um infarto do miocárdio, faleceu. Em 2012, por meio da Lei 12.612, de 13 de abril de 2012, de autoria da deputada federal Luíza Erundina, Paulo Freire foi declarado Patrono da Educação Brasileira.

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