“Movo-me na esperança enquanto luto”: um chamado para resistir já, destacam educadoras em “Andarilhagens de Paulo Freire”

Docentes chamam a atenção para uma educação crítica e que ultrapasse os muros da universidade.

Adufes realizou a transmissão intitulada “Das andarilhagens de Paulo Freire: contribuições para pensar a práxis dos movimentos populares e sindicais”. A atividade faz parte das “Conversas sobre Paulo Freire: Comemoração do Centenário do Patrono da Educação Brasileira”, iniciada no mês de julho. O terceiro e último debate ocorrerá em 29 de setembro, às 17 horas.

Participaram do encontro as professoras Edna Oliveira (Ufes), Maria Margarida Machado (UFG) e Maria Luiza Pinho Pereira (UnB). A mediação foi feita pela presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão. Na oportunidade, as docentes destacaram o pensamento de Paulo Freire numa perspectiva de análise do contexto da sociedade brasileira.

Em sua apresentação, Edna abordou a crescente desqualificação do legado de Freire por parte do governo federal, mas, em contraposição, as iniciativas que destacam a educação libertadora. “As mortes pela Covid-19 nos indignam, assim como a tentativa de desqualificar a obra de Paulo Freire”, disse, referenciando o educador que dizia: “não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero”, salientou Edna, citando Freire.

A professora recém-aposentada do Centro de Educação (CE) também lembrou das andarilhasgens do educador no Espírito Santo, quando em 1982 veio ao estado, mais tarde em 1988 e 1996. Na ocasião, ele participou do simpósio, onde foi homenageado pelo CE. “O educador nos inspirou a criar o Fórum de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que vem lutando em defesa da educação como um direito de todas e todos”.

Outra participante que também lembrou da importância de Freire para a luta em defesa da educação emancipadora foi Maria Margarida Machado, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Ela resgatou sua experiência com o referencial freiriano na década de 80, na Ceilândia (Brasília). Citou os círculos de cultura e a relação direta com a pedagogia do oprimido. “O círculo me faz pensar uma educação dialógica, na defesa de uma escola pública, gratuita e de qualidade”, disse.

Margarida chama a atenção ainda para a pauta da educação de jovens e adultos numa perspectiva relacionada ao ensino, pesquisa e extensão e o quanto isso se beneficia das andarilhagens de Freire. Ela salienta a importância dos fóruns EJA e do Portal dos Fóruns de Jovens e Adultos – Fóruns EJA Brasil. “O site é uma construção coletiva em que todos os estados vêm contribuindo com pesquisas”, informou.

A professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Maria Luiza Pinho Pereira traz em sua fala as marcas da indignação com a política genocida de Jair Bolsonaro (sem partido). Ela relembrou das andarilhagens com Freire, quando ainda estudante o encontrou na Bahia e em Recife. O educador, que era humanista, queria agir para mudar o mundo. “Foi obrigado a buscar exílio em vários países, como no Chile e no continente africano e aprendeu com guerrilheiros, por exemplo, a luta anticolonial”. De volta ao Brasil, com humildade, mas também demostrando ousadia disse querer “reaprender o país”.

Finalizando sua partição no debate, Maria Luiza salientou que Paulo Freire não apenas queria garantir o acesso às informações, mas também ao conhecimento e a partir dele, consciência política que dialogue com a soberania nacional. “É preciso discutir na universidade o capitalismo e, além disso, nosso papel ante a resistência ao governo [Bolsonaro] que exige de nós uma mudança rumo ao socialismo”, defendeu a professora, apontando ainda que a produção de conhecimento precisa dialogar com as diversas pautas de luta e subsidiar o debate fora dos muros da universidade. “É isso que ele quer de nós”, frisou.

Avaliação. Ana Heckert, professora aposentada do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) ficou emocionada com as histórias apresentadas, inclusive pelas produções do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (Neja) da Ufes. “Nosso sindicato precisa registrar essas memórias”.

Também opinou sobre a live comemorativa o técnico em educação, Lírio Guterra que elogiou a iniciativa da Adufes e lembrou dos 45 anos do Centro de Educação Infantil Criarte. “No CEI nossos filhos e filhas aprenderam muito com os métodos de Paulo Freire”, frisou. A transmissão ao vivo “Das andarilhagens de Paulo Freire: contribuições para pensar a práxis dos movimentos populares e sindicais” foi realizada no último dia 23.

(Re)veja a live “Das andarilhagens de Paulo Freire: contribuições para pensar a práxis dos movimentos populares e sindicais”

Adufes