Adufes publica resultados da pesquisa realizada com a categoria docente

Dados revelam precariedade de condições de trabalho, intensificação das atividades, adoecimento, assédio e frustração com o Earte

No primeiro semestre de 2021 a Comissão da Adufes de Acompanhamento ao Trabalho/Ensino Remoto planejou a pesquisa “Percepções sobre o Trabalho/Ensino Remoto e saúde na Pandemia” e agora apresenta o resultado e as análises. Leia aqui 

O material é composto por uma Apresentação da Diretoria, seguida do primeiro capítulo, com informações sobre a metodologia da pesquisa e o perfil das/os participantes, contribuição da Professora Fabiola Leal, docente do CCJE.

No capítulo 2, Alexandre Cunha (CCS), Dulcinea Rosemberg (Aposentada, CCJE) e Beth Barros (CCHN) analisam o impacto do trabalho remoto na saúde docente. “Os problemas de saúde dos/as docentes vividos durante a pandemia foram muito além da COVID-19. O trabalho remoto e as aulas virtuais mudaram a forma de trabalho dos/as professores/as abruptamente, sem planejamento, sem fornecer estrutura para a sua realização e sem nenhuma discussão com a categoria, conforme revelam alguns depoimentos”, afirmam os autores.

O terceiro capítulo trata da repercussão do ensino remoto nas condições de trabalho das/os docentes. Lívia Moraes e Junia Zaidan, ambas do CCHN, assinalam que “Como instituição que tem a garantia constitucional de autonomia, a Ufes deliberadamente abriu mão de priorizar uma gestão  humanista e construir coletivamente saídas em um dos momentos mais adversos de sua história, em prol da tecnocracia, por um lado, resignada diante de um governo protofascista e, por outro, autoritária para com sua comunidade”. O resultado, é a intensificação do trabalho para 84% das/os respondentes, sendo que para 79% isso significou ultrapassar as 8 horas diárias. Além disso, 52 docentes (em números absolutos) disseram ter sofrido assédio moral e, ainda, 29 docentes não quiseram responder. “Trata-se de uma quantidade bastante substantiva”, segundo as autoras, que tomam como hipótese que “o assédio moral durante o período de ensino remoto na UFES tem relação com essa tentativa de manter, a qualquer custo, a universidade funcionando como antes da pandemia, para cumprir prazos e sob o discurso de que ‘a universidade não pode parar’”.

Ana Carolina Galvão (CE), Fernanda Binatti e Luciana Soares (ambas do CEI Criarte/CE), discutem “Aspectos pedagógicos da implantação do “ensino” remoto na Ufes” no capítulo 4 e destacam que o Earte se configurou como um “puxadinho pedagógico”, que deixa evidente para as/os docentes a baixa qualidade do “ensino” remoto. “Ao serem indagados a respeito do Earte em comparação ao ensino presencial, 77,4% das/dos respondentes consideram que a aprendizagem no Earte é pior (53,60%) ou muito pior (23,80%)”. Além disso, há um alto índice de frustração com o ensino remoto, ao mesmo tempo que as/os respondentes acreditam que a Ufes deveria custear ou garantir a oferta de equipamentos adequados à execução das atividades remotas (82,81%). “O que estamos assistindo é a desresponsabilização da Administração Central da Ufes, em todos os sentidos, que vende a ilusão do “compre o Earte e ganhe os passos para se tornar um professor bem-sucedido”, dizem as autoras.

O capítulo 5, das mesmas autoras, trata das particularidades do CEI Criarte, os desafios colocados para a Educação Infantil nesse período e as dificuldades e angústias das professoras da escola. “A sensação, segundo uma professora, é de que é necessário estar de prontidão, on line durante 24 horas. Outra acrescentou que vive um aumento significativo do stress devido ao grande volume de trabalho somado ao confinamento e à falta de respeito ao descanso”, destaca o texto.

O sexto capítulo, escrito pela presidenta da Adufes e pela Secretária-geral do sindicato, trata da gestão sindical durante a pandemia, na luta cotidiana por uma universidade democrática. As diretoras analisam 38 comentários feitos na pesquisa, sobre o sindicato e finalizam afirmando a “certeza de que a construção e fortalecimento coletivo de nossa entidade tem muitos desafios, mas também com confiança de que o comprometimento que assumimos nesse período foi amparado por nossa base e pelos princípios do programa que elegeu a atual diretoria e a certeza de que converge com as lutas encampadas pelo Andes-SN e demais espaços de luta da classe trabalhadora”.

Numa “Conclusão provisória”, a publicação se encerra assinada pela diretoria, afirmando que “Este material se quis afirmativo da luta coletiva como imperativo que se sublinha neste momento de erosão dos espaços democráticos – da qual a Ufes é apenas emblemática – em todo o país”.

Nos anexos, estão as perguntas da pesquisa (anexo A), a apresentação dos resultados completos (anexo B) e as respostas abertas dos/as docentes à última questão da pesquisa, relativas ao sindicato (anexo C).

“Estamos muito felizes em concluir essa segunda publicação sobre o trabalho remoto. Temos que aproveitar a ocasião para externar nossa gratidão à Comissão da Adufes de Acompanhamento ao Trabalho/Ensino Remoto, que está trabalhando há um ano e se empenhou nos últimos seis meses para produzir esse material”, disse a presidenta da Adufes. Ana aproveitou ainda para agradecer à toda a categoria. “Foram 642 docentes em exercício que dedicaram seu tempo para responder à pesquisa e que nos oportunizaram um resultado consistente para registrarmos a história do trabalho docente nesse período histórico avassalador. Isso é muito importante para nós”, disse.

Próximas ações. “Agora já estamos preparando o terceiro caderno, no qual vamos apresentar os resultados desmembrados por Centro de Ensino, além de discutir questões etnicorraciais, de gênero e as plataformas privadas que invadiram e dominaram as aulas remotas e demais rotinas acadêmicas, vulnerabilizando nossa autonomia em ciência e a proteção de dados sensíveis por meio do acordo firmado pelo reitor sem qualquer discussão com a comunidade”, assinala Junia Zaidan. Também estará no terceiro volume a pesquisa das/os aposentadas/os, que foi realizada no mesmo período, mas com questionário específico.

Veja também: 

Caderno Remoto na Ufes – Caderno 1 

A Ufes e o ensino remoto em tempos de pandemia 

 

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