Antonieta de Barros: docente e parlamentar negra que criou o Dia da Professora e do Professor

Todos os anos, em 15 de outubro comemora-se o Dia da Professora e do Professor em todo o território brasileiro. No entanto, pouco se fala sobre a origem histórica da data, criada em 1948, que foi oficializada somente em outubro de 1963. Afinal, de quem é a autoria?

Antonieta de Barros. Esse é o nome da primeira mulher negra eleita para ocupar um cargo no Poder Legislativo, em 1934. A deputada estadual de Santa Catarina é responsável pela celebração da data que homenageia as/os professoras/es (lei estadual nº 145, de 12 de outubro de 1948). A oficialização aconteceria no país inteiro na década de 60, pelo presidente da República, João Goulart.

A parlamentar ocupou o cargo quase meio século após a abolição da escravatura e dois anos após o sufrágio, que possibilitou às mulheres direito ao voto facultativo. Num país profundamente racista, uma mulher negra ocupar uma cadeira política foi algo revolucionário. Nascida em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901, a principal bandeira de luta de Antonieta, de acordo com registros, era a educação para todos.

O analfabetismo em Santa Catarina, em 1922, época em que começou a lecionar, atingia cerca de 70% da população. Alfabetizada por jovens de uma pensão onde sua mãe trabalhava, formou-se no magistério aos 17 anos. Na ocasião, fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, com o objetivo de oferecer instrução formal e ensinar a escrita e a leitura para adultos em situação de vulnerabilidade social.

Cronista e criadora da revista “Vida Ilhoa”, Antonieta contribuiu com a imprensa e escreveu mais de mil artigos em oito veículos. Sofreu racismo e machismo, mas não desistiu de sonhar, enfrentando os homens brancos da elite oligárquica. Segundo jornais da época, as calúnias que ela sofria eram rebatidas com intelecto nos artigos assinados sob pseudônimo Maria da Ilha. A parlamentar escreveu sobre educação, os desmandos políticos, a condição feminina e o preconceito.

Antonieta ousou falar num momento em que as mulheres eram ainda mais silenciadas do que hoje. E não parou por aí, escreveu dois capítulos da Constituição catarinense, sobre Educação e Cultura e Funcionalismo, até ser destituída do cargo pelo golpe de Getúlio Vargas, em 1937.

Naquele ano, publicou o livro “Farrapos de Ideias” e os lucros da primeira edição foram doados para construção de uma escola para abrigar crianças, filhas de pais internados no leprosário Colônia Santa Tereza. Antonieta de Barros foi eleita novamente em 1947. Desde sua vitória, apenas outras 15 mulheres ocuparam uma cadeira na Assembleia de Santa Catarina, todavia, nenhuma negra, dado que persiste até os dias atuais.

Dia das/os professoras/es. Um marco para educação, a primeira lei educacional do Brasil foi sancionada por Dom Pedro I em 15 de outubro em 1827 e, anos depois, Antonieta criou o Dia do Professor em 1948. Com a data oficializada pelo presidente João Goulart, em 1963, outras medidas foram tomadas com objetivo de democratizar o acesso à educação, como a realização de concursos para o magistério.

“A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação”, escreveu Antonieta em seu livro “Farrapos de Ideias”. Com pouco mais de 70 anos de criação da data histórica, a professora, parlamentar e cronista Antonieta de Barros ainda é pouco conhecida. Seu nome precisa ser amplamente difundido entre crianças, jovens e adultos; por cada mulher que exerce o direito ao voto e disputa uma vaga nas eleições. E ainda, por cada brasileira/o que está na luta antirracista e contra o machismo.

*Com informações  El País Brasil

 

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