“Nosso adoecimento é real e compromete não só o nosso exercício profissional, mas também a nossa existência”, alerta docente na pesquisa feita pela Adufes

Respostas das professoras e dos professores foram mantidos em sigilo.

A pesquisa “Percepções Sobre o Trabalho/Ensino Remoto e Saúde na Pandemia” apontam o aprofundamento do adoecimento psíquico e físico da categoria, que vem acumulando tarefas que envolvem ensino, pesquisa e extensão e diversas atividades administrativas sem o necessário amparo por parte da Administração Central.  De acordo com os resultados, 72% das/os docentes apresentaram problemas ergonômicos; 63% indicaram fadiga mental e 45% sinalizaram adoecimento psíquico; 95,38% das/os docentes afirmaram que a infraestrutura utilizada foi providenciada por elas/es mesmas/os, evidenciando o desamparo por parte da Ufes.

Antes mesmo do resultado da pesquisa proposta pela Comissão de Acompanhamento do Ensino Remoto da Adufes, em 2020, o sindicato já vinha buscando junto à reitoria melhores condições de trabalho e de ensino. Foram inúmeras tentativas de diálogo e aproximação da Administração, seja por meio de reuniões e também por meio de ofícios. Em maio deste ano, com as/os profissionais exauridas/os, a categoria aprovou em assembleia a proposta apresentada pela diretoria, que solicitava modificações nas resoluções nº 08/2021 e 22/2021, ambas do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). As normativas tratam, respectivamente, sobre o calendário acadêmico e a carga horária didático-aula. As/os docentes reivindicam revisão dos intervalos de recesso para, no mínimo, 30 dias entre cada período letivo e adequação da normativa 22, uma vez que ela se refere a encargos semestrais.

Ainda sobre as demandas da categoria, o sindicato protocolou ofício solicitando o ressarcimento com despesas que vão desde a infraestrutura até os equipamentos adequados para o desenvolvimento das atividades laborais. “Estamos arcando com todo custo do trabalho remoto. Não formos consultados pela Ufes se necessitávamos de alguma ajuda”, disse um docente. Assim, a pauta de luta contempla o cumprimento da Resolução nº 20/2021, segundo a qual “A Administração Central, por meio de seus Centros de Ensino, deverá disponibilizar toda a infraestrutura necessária ao/à docente para a oferta das aulas síncronas e assíncronas, seja no formato Earte ou híbrido”.

Face às circunstâncias da mudança forçada de local para o exercício das atividades docentes, aplica-se ao caso o art. 53 da Lei 8.112/90, sendo obrigação da Ufes fornecer todas as condições de trabalho para suas/seus servidoras/es. A solicitação de ressarcimento aguarda parecer do Conselho Universitário (CUn).

Exaustão. Depoimentos das/os docentes indicam que o acúmulo de tarefas tem levado centenas à exaustão, no momento mais grave que atravessa a humanidade nos últimos 100 anos: a pandemia da Covid-19. Neste contexto, as/os gestoras/es da universidade a todo custo tentam forjar um “novo normal”. “Sinto que há uma tentativa de naturalizar a transposição de tudo o que fazemos no presencial para o home office. E isso é impossível”, disse docente, que destacou também a ausência de suporte psicossocial por parte da universidade.

Outro ponto criticado pela categoria é a falta de transparência nas decisões da universidade. A Reitoria diz estar aberta ao debate, mas na prática não está. Um exemplo é que apesar de existência das Res. nº 52/2016 do CUn e nº 37/2016 do Cepe que garantem que sejam transmitidas as sessões dos Conselhos Superiores para a comunidade acadêmica, até hoje o espaço democrático não foi efetivado. O que se vê perpetuar é uma condução burocrática por parte da reitoria, que fragiliza e desgasta cada vez mais a relação com as/os servidoras/es e estudantes. A Adufes não abre mão dessa pauta por entender que ela é legítima.

Perfil. Entre as/os 642 entrevistadas/os, 67% possuem filhas/os. Outro dado importante é que 71% das/os respondentes disseram que as atividades domésticas aumentaram durante a pandemia, dificultando as atividades profissionais; 84% das/os participantes afirmaram que o trabalho remoto intensificou as atividades. “Tenho ficado angustiada com as exigências dos colegiados para a oferta de disciplinas, como se o semestre fosse normal/presencial”, cita a docente, salientando as dificuldades enfrentadas.

Sobre a rotina diária de trabalho, 48% informaram que trabalham diariamente, em média de 8h a 10 horas; 30% estão trabalhando mais de 10 horas diariamente e 20% trabalham diariamente, em média até 8 horas. Outro dado se refere aos casos de assédio moral, 8% (52 docentes em números absolutos) afirmaram que durante o trabalho remoto estão sofrendo esse tipo de assédio, como: pressão, chantagem, exposição, desqualificação, intimidação, ameaça e/ou outros em uma relação hierárquica e 4% (29 docentes em números absolutos) preferem não dizer.

Os variados pontos abordados pela pesquisa mostraram que a categoria está exausta, trabalhando jornadas excessivas, utilizando medicamentos para conter sintomas de adoecimento. Revelou ainda que as/os professoras/es consideram o trabalho frustrante e que avaliam não ter recebido formação adequada/suficiente para o desenvolvimento das atividades. “A Adufes segue na defesa intransigente de medidas de segurança e com a sensibilidade que o momento exige. A Ufes precisa ter empatia e compromisso ético político e não se esquivar de suas responsabilidades”, afirma a presidenta da entidade, Ana Carolina Galvão.

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