Documento foi lido e endossado pelo Conselho Universitário nessa quinta-feira, 31
Ditadura nunca mais! Em carta, lida e endossada pelo Conselho Universitário nessa quinta-feira, 31, o diretor do Centro de Ciências Exatas e conselheiro do colegiado, Etereldes Gonçalves Júnior, chama atenção para história da ditadura militar no país, para que as atrocidades do período não sejam esquecidas e que nunca se repitam. Ele destaca ainda a militarização em curso, com um governo “protofascista e militarizado” e aponta para o grave ataque à autonomia da Ufes e da democracia na instituição, no caso da reitora eleita Ethel Maciel.
Etereldes aponta, no documento, também a situação de comemoração do período, celebrado pelos quartéis como “revolução democrática” e cita a homenagem à data aventada por um deputado estadual na Assembleia Legislativa. Ele também aponta que, após o golpe sofrido pela presidenta Dilma Rousseff “inauguramos o período de generais como ministros da defesa”.
“As tragédias deste novo período de militarização da política em que vivemos, são conhecidas por todos. Uma em especial merece nossa atenção! Este governo militarizado, feriu gravemente nossa autonomia universitária e nossa democracia interna na UFES. Não podemos normalizar e invisibilizar a violência política sofrida por uma mulher, a primeira reitora eleita pela nossa comunidade acadêmica, a professora Ethel Maciel. No dia 23 do corrente mês [março], completaram-se 2 anos desta brutal violência política que arbitrariamente suplantou a vontade da nossa comunidade”, destaca o conselheiro em um trecho do documento.
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Carta ao Conselho Universitário
Há exatos 58 anos, no dia 31 de março de 1964, o dia que durou 21 anos, iniciou-se no Brasil o sombrio período da ditadura Militar. Para que nunca esqueçamos das atrocidades deste período e para que estas nunca se repitam, a presidenta Dilma instituiu a Comissão Nacional da Verdade em 2012, cujo relatório é um documento histórico de suma importância. A UFES instituiu em 2013 a sua Comissão da Verdade, a CVufes, sob coordenação do professor Pedro Ernesto Fagundes. Há exatos 5 anos a CVufes entregou seu relatório, em forma de livro. Este documento é essencial para termos a dimensão de como a UFES se posicionou diante deste período e de como os membros da nossa comunidade sofreram com as perversidades da ditadura.
Por que é importante sempre rememorarmos e documentarmos nossos sentimentos diante das abomináveis ações da ditadura? Porque ao esquecermos, a história pode ser reescrita, reeditada e até inventada. A Assembleia Legislativa do nosso estado, de forma absurda, marcou para hoje (31/03/2022) uma sessão solene em homenagem à ditadura militar. Nas ordens do dia nos quartéis, chamam este período, 64 a 85, de revolução democrática e de marco para a democracia. Extrapolando os quartéis, neste ano a ordem do dia enaltecendo a ditadura vem do Ministério da Defesa, o que é absolutamente impróprio. Aqui é importante destacar que, após o golpe de 2016, violência política irreparável sofrida pela presidenta Dilma, inauguramos o período de generais como ministros da defesa. Precisamos cada vez mais debater sobre isso e nos posicionarmos como indivíduos e como instituição. Precisamos compreender que está havendo uma militarização descabida e perigosa, da sociedade brasileira e que é urgente colocarmos este debate na mesa. Como fruto desta militarização, hoje temos um governo protofascista militarizado.
As tragédias deste novo período de militarização da política em que vivemos, são conhecidas por todos. Uma em especial merece nossa atenção! Este governo militarizado, feriu gravemente nossa autonomia universitária e nossa democracia interna na UFES. Não podemos normalizar e invisibilizar a violência política sofrida por uma mulher, a primeira reitora eleita pela nossa comunidade acadêmica, a professora Ethel Maciel. No dia 23 do corrente mês, completaram-se 2 anos desta brutal violência política que arbitrariamente suplantou a vontade da nossa comunidade.
Procurei nas atas deste egrégio conselho uma manifestação sequer sobre a intervenção do governo federal na democracia da nossa universidade, e pasmem, há uma única menção na ata dia 29/07/21, em que os membros da lista tríplice, diferentes da Ethel, se manifestam afirmando não terem concorrido para a fatídica intervenção. Me peguei pensando, como uma comissão da verdade do futuro, que porventura analise este período que vivemos no Brasil e na UFES, irá relatar a atuação do nosso Conselho Universitário? Diante desta pergunta me senti obrigado a escrever esta carta, para que fique registrado para posteridade que não compactuamos, não nos omitimos e não nos acovardamos diante da situação adversa que enfrentamos. É preciso dizer em alto e bom som, parafraseando Ulisses Guimarães, temos ÓDIO e NOJO da ditadura. Por fim, gostaria de salientar que este egrégio conselho tem obrigação estatutária de zelar pela nossa democracia interna, pois exerce a jurisdição superior da Universidade, em matéria de política universitária.
Vitória, 31 de março de 2022,
Ass. Conselheiro Etereldes Gonçalves Júnior.
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