Nós, da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), decidimos nos posicionar coletiva e publicamente, a respeito das eleições presidenciais de 2022, pelo voto em Lula para presidente e em Casagrande, para o governo do ES, com o objetivo de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo nas urnas.
Reafirmando nosso papel de contribuir com o conjunto de entidades de organização dos trabalhadores no processo de construção de um programa autônomo de e para nossa classe e sem ilusões a respeito dos limites do projeto conciliatório que Lula e Casagrande representam, posicionamo-nos pelo voto nesses candidatos diante da temeridade das candidaturas de Bolsonaro e Manato, que desprezam o povo brasileiro e espírito-santense e escarnecem dos pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito, na medida em que explicitamente renegam direitos humanos e princípios constitucionais, e incitam ao ódio e a muitas formas de violência, naturalizando e banalizando mortes, torturas, violações, perseguições, preconceitos, exclusões, desigualdades.
Registramos que o discurso e a sistemática de campanha de Jair Bolsonaro têm-se revelado incompatíveis com os princípios e mecanismos democráticos, pois valem-se de notícias falsas, cultuam o obscurantismo e o negacionismo científico, esquivam-se do debate aberto e franco, manipulam a opinião pública fazendo mau uso de dados estatísticos, lançam mão de estratégias de apelo emocional de natureza moralista, fogem da abordagem racional e devidamente embasada e justificada sobre as grandes questões da vida pública.
Esta declaração não consiste, pois, em alinhamento a partidos e nem em uma adesão irrestrita ao projeto representado pela chapa Lula para a presidência e Casagrande para o governo do ES. Trata-se principalmente de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, como ademais definiu o Congresso do ANDES-Sindicato Nacional, e de unir nossos esforços em torno de uma agenda de diálogo sobre o país que queremos construir. A despeito de nossas diferentes posições ideológicas, trata-se de defendermos o direito à dignidade da vida humana, o direito à liberdade de pensamento, manifestação e ação política, o direito a existir em um país em que as instituições civis e os Poderes – esses que, embora historicamente insuficientes, constituem entraves mínimos que impedem a neutralização total de nossa classe – têm sido submetidos a um processo de erosão, que concorre contra sua independência e atuação.
A conjuntura exige de nós o compromisso com a luta para reverter medidas destrutivas que têm sido impostas às trabalhadoras e aos trabalhadores brasileiras/os. O caos instalado, sobretudo a partir de 2018, com a eleição de Bolsonaro, tem como pilares o ultraliberalismo econômico, o fundamentalismo religioso e o neofascismo político, em tudo contrários àquilo que, como trabalhadoras e trabalhadores, defendemos – e é por isso que não podemos nos silenciar diante do avanço da extrema direita, declaradamente representada pelas candidaturas de Bolsonaro e Manato.
Ampliar votos em Lula e Casagrande, neste momento, sobretudo dialogando com eleitores que se abstiveram, votaram nulo ou em outros candidatos no 1º turno, é a única forma de deter projetos autoritários que, reiteradamente, ofendem a dignidade humana, gabam-se de seu racismo, sua misoginia e homofobia, avançam sem pejo na destruição do meio ambiente e no extermínio dos povos indígenas e das comunidades quilombolas; apoiam grupos de extermínio, agudizando nossa condição de dependência e subdesenvolvimento.
Por essas razões, chamamos o conjunto das professoras e dos professores da Universidade Federal do Espírito Santo a rejeitar Bolsonaro e Manato, representantes da extrema-direita, que visam a agravar ainda mais o retrocesso das conquistas da classe trabalhadora, além de permitir o avanço de posturas anti-povo que afetarão diretamente as universidades públicas – haja vista tais candidatos serem declaradamente favoráveis às privatizações, à redução das políticas de cotas e de permanência, à expansão irrestrita da educação à distância, à perseguição e ao cerceamento de tendências pedagógicas progressistas e críticas e ameaçarem, entre outras coisas, o fim de toda e qualquer forma de ativismo: o que, decerto, inclui as nossas lutas por educação pública, laica, gratuita e de qualidade. Diante dos cortes, contingenciamento e desqualificação sistemática do serviço público – e, de modo especial, da universidade – vivenciados nesses quatros anos, não há dúvidas de que a continuidade do governo Bolsonaro significará a destruição completa da universidade pública, da ciência e da tecnologia no Brasil.
A assembleia da Adufes salienta que com este posicionamento não deixará de manter-se atenta, vigilante, autônoma e independente de governos e partidos, mas ressalta que a excepcional gravidade da situação nos exige posicionamento contundente para impedir a expansão da barbárie. Assim, independente de nossas convicções e preferências de voto no 1° turno, agora o voto que defendemos, quase à maneira de um plebiscito entre a democracia e o fascismo, é Lula presidente e Casagrande governador, para que possamos continuar nossas lutas, inclusive a luta sindical.
A assembleia da Adufes manifesta-se, desta forma, em coerência com a história de nossa seção sindical e trajetória de 44 anos, em que sempre esteve ao lado das demandas da sociedade e contra os ataques autoritários e antidemocráticos.
Não aos retrocessos, ao fascismo, ao ódio! Seguimos com coragem e esperança. Em defesa da classe trabalhadora!
Adufes