Adufes apoia Cirandas Infantis nas Licenciaturas em Educação do Campo e a perspectiva coletiva e popular de sua organização

Além de contribuir para a permanência de estudantes camponesas/es na Universidade, iniciativa visa inserir as crianças na luta contra as desigualdades sociais e a ocupar espaços na organização social, tendo em vista a perspectiva da coletividade

A Adufes realizou a aquisição de livros, brinquedos e diversos outros materiais específicos para crianças em apoio à Licenciatura em Educação do Campo (LedoC) no campus de Goiabeiras da Ufes, em Vitória, e no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes). Os materiais foram destinados às Cirandas Infantis, que constituem espaços de possibilidades para que as crianças participem da coletividade desde cedo.

A iniciativa visa inserir as crianças na luta contra as desigualdades sociais e, consequentemente, ensinar às/aos pequenas/os sobre a importância de conhecer e ocupar espaços na organização social, tendo em vista a perspectiva da coletividade.

No contexto das Licenciaturas em Educação do Campo da Ufes, as Cirandas desempenham um papel fundamental dentro da proposta formativa do curso, com foco na auto-organização. Seu trabalho é voltado para as crianças que acompanham as mães estudantes, proporcionando espaços pedagógicos que acolham a especificidade da infância e garantam os cuidados necessários, além de oferecer atividades diversas em direção a uma educação emancipatória.

A diretora da Adufes Luciana Soares destaca que “a perspectiva do trabalho desenvolvido pelas Cirandas busca favorecer a apropriação pelas crianças de outros valores; e o trabalho pedagógico se pauta na possibilidade de construir outra lógica social e é, certamente, revolucionário que venha apostando que desde a mais tenra idade é possível atuar nesse sentido”.

Contudo, a materialização dessa iniciativa fica por conta da própria organização dos cursos, o que apresenta desafios para sua realização, o que demanda apoios, como o que a Adufes está oferecendo. Tanto para as crianças quanto para as mães estudantes, os espaços estão limitados em termos de qualidade, tornando-se um fator a ser abordado para garantir uma estrutura mínima para sua permanência na Universidade.

Licenciatura

A Licenciatura em Educação do Campo (LedoC), curso direcionado à formação de educadores em comunidades camponesas, tem se destacado por seu enfoque especial nas realidades e necessidades das regiões rurais, valorizando a cultura e experiências das/os habitantes, como Sem Terra, meeiros, agricultores familiares, quilombolas, pescadores e indígenas.

No entanto, o desafio de manter camponesas/es na academia vai além da inclusão, especialmente para as mães estudantes que enfrentam obstáculos relacionados ao cuidado com as/os filhas/os e ao vínculo que as/os une.

Nesse contexto, as Cirandas Infantis surgem como uma prática já realizada em outras experiências formativas do campo, adaptada para a universidade. Essas cirandas funcionam também como uma política de permanência, proporcionando às mães a oportunidade de continuar o curso, pois sem esse apoio, muitas se veem obrigadas a desistir devido à impossibilidade de estudar e cuidar das crianças simultaneamente.

Educação popular

Sarah de Oliveira Lollato, professora do curso de Licenciatura em Educação do Campo e integrante do coletivo da Ciranda Infantil no Ceunes, explica que as Cirandas Infantis não se limitam apenas a ser um suporte para as mães estudantes, mas também atuam como espaços de práticas pedagógicas baseadas na educação popular e na organização coletiva. Esses ambientes acolhedores e estimulantes permitem que as crianças explorem e desenvolvam suas habilidades de forma criativa e segura, sabendo que suas mães estão por perto.

O Coletivo que realiza o processo organizativo da Ciranda Infantil no Ceunes (composto por estudantes de Educação do Campo, por meio da disciplina “Práticas de Ensino em Pedagogia da Alternância”) considera que essas iniciativas também fortalecem a relação entre a Universidade e a comunidade onde está inserida, demonstrando um compromisso com a qualidade de vida das famílias, o desenvolvimento integral das crianças e a promoção de uma educação voltada para as realidades do campo. Isso contribui significativamente para a inclusão social, cultural e educacional das famílias camponesas, considerando também a importância das questões de gênero.

A professora Sarah de Oliveira Lollato lembra que investir nesse modelo de formação e no oferecimento de cirandas infantis é uma forma de promover um desenvolvimento mais equitativo para as comunidades rurais. “Diante disso, é crucial que o poder público e as instituições educacionais apoiem e fortaleçam essas iniciativas, reconhecendo o valor inestimável da educação do campo e das cirandas infantis para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.

Acolhimento

No campus de Goiabeiras, o projeto Ciranda se destaca como um espaço fundamental para acolher crianças de 2 a 6 anos, filhos e filhas de estudantes do LedoC. Assim como no Ceunes, com o objetivo de possibilitar que as mães e pais continuem seus estudos, a Ciranda oferece materiais pedagógicos essenciais para atividades de acolhimento, cuidado e educação, com foco especial em interações e brincadeiras.

O funcionamento da Ciranda ocorre quando as/os estudantes estão presentes no campus de Goiabeiras. Sob a coordenação e acompanhamento de uma professora da LedoC, as atividades também contam com a participação de estudantes de outros cursos, principalmente da Pedagogia, conhecidos como cirandeiras e cirandeiros. Além disso, as/os professoras/es do curso também se apresentam voluntariamente para apoiar as atividades, compreendendo a importância desse espaço para a permanência das/os estudantes.

Entretanto, o Projeto Ciranda Infantil – organizado no Campus de Goiabeiras sob a coordenação da professora pesquisadora da infância, Rosali Rauta Siller, atualmente em licença de pós-doutoramento – vai além de ser apenas um local de acolhida para mães, pais e filhas/os.

Experiências coletivas

De acordo com a atual coordenadora da Ciranda Infantil em Goiabeiras, professora do Centro de Educação Silvanete Pereira dos Santos, o projeto se configura também como um espaço lúdico para todos os sujeitos em formação, constituindo-se como um ambiente propício para aprendizagens e experiências coletivas.

“Inspirada na Ciranda do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Ciranda da LedoC é mais do que um espaço físico. Ela é planejada intencionalmente como um espaço/tempo de cuidado e educação não formal. As atividades são organizadas pelas/os estudantes que compõem a comissão denominada ciranda, juntamente com a coordenação do projeto. Assim, a Ciranda se insere no contexto da auto-organização dos estudantes na Licenciatura em Educação do Campo. A auto-organização na LedoC ocorre mensalmente em diferentes instâncias, como núcleos de base, comissões e assembleia. Os núcleos de base são compostos por cada uma das turmas do curso, reunindo-se regularmente para discutir questões pedagógicas, institucionais e organizacionais essenciais. A partir dos núcleos de base, surgem as comissões responsáveis por temas como pedagogia, comunicação/formação, infraestrutura, entre outros”, explicou a professora.

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