Carla Akotirene participa de Roda de Conversa com mulheres na Adufes sobre amor e auto-cuidado

Pesquisadora convidou a uma reflexão sobre um amor que não esteja preso à perspectiva ocidental, mas construído enquanto uma ética do cuidado e uma tecnologia ancestral

Carla Akotirene voltou à Adufes na quinta-feira, 5 de outubro, após falar para um auditório lotado sobre Feminismo Negro e Insteseccionalidade no dia anterior, 4/10. Neste novo encontro, uma Roda de Conversa menor, ela conversou com mulheres, em especial mulheres negras, sobre amor e auto-cuidado dentro da programação do evento “Confluências Negras – Interseccionalidade e violências: sobre resistências e caminhos coletivos de cuidado”. Akotirene é doutora em Estudos Feministas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e consultora em políticas públicas. O encontro foi realizado pela Adufes e contou com a parceria do Instituto Raízes e do Movimento Negro Unificado do Espírito Santo (MNU-ES).

Carla teve uma conversa franca com as participantes alertando para o risco que mulheres negras correm de se endurecerem diante da necessidade de parecerem fortes e combativas. Para ela, o amor não tem relação com as aparências ou com a venda de fórmulas prontas, uma perspectiva de mercadoria promovida pelo capitalismo. Nesse modelo, há corpos desejáveis e tocáveis e outros que não seriam dignos disso.

Nesta “aparência do amor”, fatores como raça e idade, entre outros, aparecem como capital simbólico retroalimentando uma série de preconceitos. Tudo isso causa uma “confusão com relação ao amor” criando um modelo em que é preciso comprar o amor do outro. Ela explicou que muitas mulheres negras aceitaram essa lógica de cuidar do outro, de se antecipar em tudo e de nunca fazer por si ou deixar que façam por elas. Um exemplo disso fica evidente nos hospitais, onde são elas majoritariamente que cuidam das pessoas internadas, sendo raro ver um homem exercendo esse cuidado.

Cumplicidade

Para Akotirene, o amor não faz parceria com aqueles que desfazem de quem ama, porque ele precisa ser cúmplice. Tecnologia ancestral, o amor se apresenta enquanto ética do cuidado possível a partir da disposição para a experiência amorosa, uma vez que é comum que mulheres negras “abandonem” antes para não serem abandonadas, se antecipando ao sofrimento que pode vir a acontecer a partir de um amor que têm medo de viver.

No dia anterior (quarta-feira, 4/10), Carla Akotirene falou para um auditório lotado na Adufes tendo como um dos focos o feminismo negro, lembrando que houve apagamento histórico das mulheres negras em uma lógica da construção de uma mulher universal a partir das mulheres brancas não racializadas. Isso fez com que as teorias feministas tenham sido construídas para as brancas, promovendo a invisibilização das mulheres negras. Um dos efeitos disso é o fato de as mulheres negras morrerem mais como vítimas de violência no Brasil, o que chama a atenção para o fato de que a categoria de gênero ocidental não dá conta da questão no país.

A Roda de Conversa foi aberta por uma apresentação musical da artista Ury Vieira. Baiana, soteropolitana, travesti, não binarie, transfeminina, Ury é bacharel em Trompa pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e desde 2020 atua como Trompista na Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES).

Clique aqui e saiba mais sobre a palestra de Carla Akotirene na Adufes do dia 4 de outubro.

Sobre Carla Akotirene

Carla Akotirene é doutora em Estudos Feministas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e consultora em políticas públicas.  Além disso, é autora dos livros “O que é interseccionalidade?”, pela Coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro, e “Ó Paí Prezada! Racismo e sexismo tomando bonde nas penitenciárias femininas de Salvador”, ambos publicados pela Editora Jandaíra. É também idealizadora da Opará Saberes, primeiro curso de extensão voltado à capacitação de candidaturas negras ao mestrado e doutorado em universidades públicas. Atualmente, Carla concentra estudos sobre feminismo negro, racismo estrutural e equidade de gênero e interseccionalidades.

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