Além disso, reitor pediu desculpas por nota que “decretou” o fim da greve no site da Ufes e por falas machistas e preconceituosas proferidas por um integrante de sua administração em reunião realizada no dia 16 de abril
O Comando de Greve Local Docente da Ufes participou de uma reunião com o reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, nesta segunda-feira, 6 de maio. O objetivo foi retomar o diálogo com a Administração Central, debater a suspensão do calendário acadêmico, e tratar de casos de assédio durante a greve, além de diversas outras pautas locais.
Participaram da reunião, além do reitor, a presidenta da Adufes Ana Carolina Galvão, a 1ª secretária Fernanda Binatti, as/os integrantes do Comando de Greve Local Mônica Lanes e Marcos Vinícius Santos, além da vice-reitora Sonia Lopes e da chefe de gabinete da Reitoria Ana Paula Bittencourt.
A presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão, explicou a razão para o pedido de reunião com a Reitoria e não com a Comissão de Interlocução entre a Administração Central e o Comando de Greve Docente da Ufes. Ela descreveu para o reitor a forma como o comando de greve foi tratado, em especial mulheres e estudantes.
Durante a primeira reunião da Comissão, realizada em 16 de abril, foram proferidas ofensas machistas, falas antissindicais e expressões de preconceito de classe contra integrantes do movimento grevista. Um representante da Reitoria tentou colocar as/os estudantes presentes contra as/os professoras/es, afirmando que sindicato nunca se preocupou com alunas/os, que ele nunca viu greve beneficiar discentes, e que a gestão não estava ali para brincar de casinha, o que foi repelido pelas docentes, três mulheres, que participavam da reunião. Além disso, ele afirmou que as/os estudantes que fazem greve são os que não são ocupados e que são manipulados por docentes.
O teor machista e antissindical do que foi dito foi apontado, assim como o evidente elitismo e preconceito de classe, uma vez que as/os estudantes que optaram pela paralisação são trabalhadoras/es e/ou atuantes em estágios e atividades diversas dentro da Ufes e têm o direito de deliberar sobre as melhores ações para a conquista de seus direitos. Ana Carolina Galvão chamou a atenção para a tentativa de criminalização da luta dos segmentos, acrescentando que comunicados posteriores da Ufes tentaram responsabilizar o movimento por decisões que não eram de sua responsabilidade. Por essas razões, a presidenta da Adufes manifestou a posição do Comando de Greve Local, sobre a impossibilidade de dar andamento às tratativas com a Administração Central com pessoas com este perfil.
Pedido de desculpas e mudanças na comissão
O reitor Eustáquio de Castro afirmou que o comportamento relatado, ocorrido durante a reunião da Comissão, não está de acordo com as diretrizes da gestão e pediu desculpas pelo ocorrido, sinalizando a apuração sobre as falas proferidas durante o encontro e que vai avaliar a substituição de membros da comissão que representam a Reitoria.
Além disso, ele tomou a iniciativa de mencionar uma nota publicada pela Ufes em que a universidade “decretava” o fim da greve, informando que as atividades voltariam ao normal. Ele também se desculpou por isso e reconheceu que a nota era inadequada.
A presidenta Ana Carolina Galvão explicou que toda essa situação fez as conversas retrocederem. Ela lembrou que, logo no início da reunião da Comissão, representantes da Reitoria citaram a Lei de Greve, iniciando uma conversa jurídica que não estava combinada. Além disso, a reunião tinha como pauta o funcionamento dos serviços essenciais na Ufes. Entretanto, os representantes da Administração Central mostraram resistência para informar quais eram esses serviços, insistindo que tudo era essencial. Posteriormente, informaram uma lista dos serviços que precisam ser mantidos e destacaram alguns itens prioritários que, rapidamente, foram avaliados pelo movimento grevista.
Suspensão do Calendário
Diante disso, Ana Carolina apresentou os pontos que precisam voltar a ser tratados, mas que não avançaram no cenário da Comissão. O primeiro deles foi a suspensão do Calendário Acadêmico. O Comando de Greve defende essa posição. No entanto, isso depende de uma deliberação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). A Administração Central continua resistente a essa ideia. Algumas universidades já suspenderam seus calendários, uma ação discricionária, beneficiando estudantes que hoje têm aula com professores que não aderiram à greve e depois terão aulas de reposição. Além disso, a suspensão reduziria os casos de assédio advindos de chefias de departamentos, centros e até mesmo de pró-reitorias.
Mônica Lanes, integrante do Comando de Greve, alertou para a situação das/dos estudantes que podem perder atividades avaliativas e que é preciso pensar como garantir que tenham direito à avaliação e reposição de aulas posteriormente, especialmente naqueles cursos que deliberaram por greve estudantil. A chefe de gabinete da Reitoria, Ana Paula Bittencourt, concordou com a importância de analisar essa situação que hoje está sem resposta.
O Comando de Greve relembrou que solicitou uma contraproposta à suspensão do calendário na reunião de 16 de abril, o que não ocorreu. O reitor disse que a questão deve ser levada ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e a presidenta da Adufes informou que o pedido já estava sendo encaminhado. Ana Carolina também solicitou que não haja peças jurídicas ameaçadoras que intimidem a comunidade universitária como ocorreu com a suspensão do calendário durante a pandemia.
O reitor se comprometeu a conversar sobre a suspensão do calendário na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e com outras/os reitoras/es, para a compreensão da operacionalidade administrativa e jurídica desta possível ação.
Judicialização
O reitor reafirmou o direito de greve e que a Administração Central da Ufes não tem intenção de judicializá-la, entendendo a importância, segundo ele, das pautas reivindicadas e que têm convergência com diversas demandas de interesse da Universidade, como a recomposição dos orçamentos das instituições. Sobre a notificação extrajudicial emitida pela Ufes, entendida como um primeiro passo para a judicialização, Eustáquio de Castro argumentou que o documento foi protocolar.
Assédio
A professora Mônica Lanes explicou que são inúmeros os casos de possíveis assédios relatados. A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), por exemplo, pressiona professoras/es em greve para que apresentem relatórios e cumpram prazos. Além disso, há chefias convocando reuniões, pedindo relatório de atividades que não serão realizadas, listas de quem está em greve e quem não está, e outras práticas assediosas que não podem ser naturalizadas.
O reitor informou que o assédio é um problema que infelizmente está presente na Ufes e que está sendo criada uma câmara de mediação de conflitos com o objetivo de agilizar a apuração e resolução de casos como esses. Além disso, informou que estão trabalhando em protocolos que hoje não existem para que as chefias tenham orientações bem definidas sobre como proceder nas mais diversas situações, como no caso de uma greve, por exemplo.
Além dos encaminhamentos apontados pelo reitor nas pautas do calendário, da Comissão e do assédio, outras solicitações foram registradas pela vice-reitora Sônia Lopes para retorno posterior e são as seguintes:
- registro das reuniões;
- providências sobre o prazo para avaliação de relatório parcial de Iniciação Científica (PRPPG);
- envio de comunicação oficial informando às chefias que elas não podem pedir listas de grevistas;
- emissão de portaria de recomposição do “GT Reparação”;
- resolução com urgência do direito à licença capacitação das docentes EBTTs (Criarte);
- orientação sobre o registro de ponto EBTT na greve;
- listagem completa de Plano Anual de Atividades Docentes (Paad) e Relatório Anual de Atividades Docentes (Rada) em toda a universidade, bem como de professoras/es voluntárias/os.
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