Um mês sem retratação pública: a misoginia institucionalizada que naturaliza acusar professoras doutoras em greve de estarem “brincando de casinha”

Há exatamente um mês (16 de abril de 2024), em uma reunião com representantes da Administração Central da Universidade, três mulheres, docentes doutoras, que representavam o Comando Local de Greve (CLG) foram acusadas por um pró-reitor de estarem “brincando de casinha” no movimento grevista. Passadas algumas semanas, no dia 13 de maio, o mesmo pró-reitor avançou com seu carro na direção de outras mulheres do CLG, fez ameaças verbais a uma professora e a filmou sem autorização.

As falas e ações causam indignação, mas não surpreendem, pois revelam a misoginia sabidamente presente no cotidiano das mulheres dentro e fora da universidade. Na Ufes, os casos de assédio (moral e sexual) se multiplicam, seja por intimidação individual, ou em espaços mais amplos, como reuniões de departamento ou de conselhos.

Poucas mulheres ocupam posições de poder na Universidade e, quando as alcançam, precisam enfrentar comentários sexistas, boicotes, minorização de suas falas e silenciamentos. Vale ressaltar que a Ufes nunca teve uma mulher ocupando o cargo de reitora e jamais construiu um protocolo de combate ao assédio, perpetuando as opressões no dia a dia da instituição.

Enquanto isso, as mulheres que, segundo o pró-reitor, estão “brincando de casinha” seguem firmes na luta pela recomposição do orçamento das universidades e dos salários corroídos pela inflação dos últimos anos, por concursos para a redução da defasagem dos quadros de docentes e técnicos-administrativos, pela revogação de medidas e contrarreformas que retiraram direitos da classe trabalhadora, entre outras inúmeras pautas.

O movimento grevista é feito por docentes que, em assembleia legítima da categoria, decidiram por ampla maioria parar suas atividades e dedicar todo seu tempo e sua energia à luta para que a universidade não seja destruída ou tomada pela privatização e pelos interesses do capital.

Há um mês, nós do Comando de Greve Docente, composto majoritariamente por mulheres, estamos no aguardo de uma retratação pública pela forma como fomos tratadas e deslegitimadas na mencionada reunião. Ao invés disso, o que tivemos foi mais violência e agressividade contra mulheres.

É importante lembrar que a participação na vida pública é condição para que as velhas estruturas institucionais, historicamente sustentadas também pelo machismo, sejam superadas. Eis o registro histórico e a cobrança que reafirmam o lugar de onde nunca saímos: das ruas, das marchas e das lutas que denunciam tudo e todos aqueles que só se sustentam roubando de nós a nossa integridade.

Adufes