A tarde do terceiro dia do 43º Congresso do Andes-SN, realizado em Vitória entre os dias 27 e 31 de janeiro, teve início com uma manifestação de professoras/es em defesa da visibilidade trans, pelo fim do racismo e em favor da educação indígenas. As pautas foram unificadas para a mobilização, que partiu da tenda do evento em frente ao Teatro Universitário, no Campus da Ufes em Goiabeiras, seguiu para a reitoria da Ufes, onde aconteceu ato com as pautas do grupo, e entrou no Teatro Universitário momentos antes do início da Plenária.
Entre as/os docentes que participaram do ato, estavam as professoras Jeffa Moreira Santana, vice-presidenta da Adufes e única travesti e negra docente na Ufes, e Jacyara Paiva, docente e militante negra que sofreu processo de exoneração pela universidade que foi mantida no cargo após ampla mobilização da Adufes, Movimento Negro, da comunidade acadêmica e demais movimentos sindicais e sociais e parecer jurídico emitido pela Advocacia-Geral da União (AGU). As/os manifestantes protestaram por uma universidade e uma sociedade sem racismo e sem transfobia.
O grupo ainda manifestou apoio aos movimentos de Belém (Pará), que se manifestam há duas semanas em reação à lei estadual 10.820/2024, aprovada em dezembro e sancionada pelo governador Helder Barbalho (MDB). A legislação ameaça programas de ensino voltados às comunidades rurais, ribeirinhas, quilombolas e indígenas.
Após a chegada do grupo de manifestantes ao Teatro Universitário, houve uma leitura coletiva de carta do Coletivo de Negras e Negros do ANDES-SN, onde as pautas foram detalhas.
Confira a íntegra da carta:
O coletivo de Negras e Negros do ANDES-SN, nosso quilombo no seio do sindicato nacional, mais uma vez vem através deste ato dialogar com o conjunto de nossa categoria para num movimento de solidariedade, luta e resistência do combate ao racismo dentro e fora do nosso sindicato e das universidades, institutos e CEFET’s.
Nosso coletivo, em conjunto com parte do ANDES-SN, tem realizado avanços na luta antirracista. Este coletivo, assim como o sindicato, teve importante participação na vitória da Companheira Jacyara Paiva (ADUFES), Jacyara FICA, povo negro FICA!
A luta contra os racismos, presentes em nossa sociedade, é a luta por uma sociedade justa e equânime a partir da diversidade, entendemos que a superação do capitalismo e do fascismo não ocorre sem o fim do racismo, assim como todas as formas de opressão.
Neste congresso apresentamos o TA e a TR 31: O ANDES-SN NA LUTA POR UMA CARREIRA EQUÂNIME E DIVERSA NAS UNIVERSIDADES E INSTITUTOS. Para nós, é uma TR histórica, pois nasce do coletivo de Negros e Negras. Neste documento expressamos nossas dificuldades e preocupações com a construção da presença negra nas universidades brasileiras não só como estudantes e não só como docentes, mas como membros ativos da comunidade acadêmica. Presença essa não só pensante e colaborativa com temas sobre racismo, mas com toda a produção de ciência, ensino e extensão reconhecendo a, negada e invisibilizada, contribuição do povo negro em diáspora para construção do nosso país.
Outro importante ponto deste documento é a relevância a ser dada em nossa luta sindical sobre a necessidade de reparação em vagas perdidas pelo contínuo descumprimento da Lei 12.990/2014. O privilégio da branquitude permitiu, por 10 anos, que universidades e institutos pudessem burlar uma lei federal impunemente. Desta forma, não basta o compromisso deste sindicato com a fiscalização e denúncia do descumprimento, mas é imperativo na centralidade da luta a reparação das vagas perdidas JÁ!
Acreditamos que a campanha “Sou docente Antirracista” tem um importante papel neste sentido, mas é necessário o comprometimento de todas as seções sindicais na sua execução, meses após o seu início vemos a pouca mobilização neste sentido com seções que nem sequer fizeram localmente o lançamento da campanha. E, mais que isso, precisamos caminhar para termos não só docentes, mas também universidades antirracistas, onde as denúncias de racismo possam ser de fato encaminhadas e rendam frutos.
Por último cabe destacar que precisamos combater o racismo na estrutura de nosso sindicato praticando o discurso que propagamos, para isso conclamamos as forças políticas que compõem este sindicato a que na formação das chapas que concorrerão nas próximas eleições haja composição baseada na proporcionalidade da diversidade da população brasileira com 56,9% de pretes, pardes e indígenes, levando em conta a já regulamentada paridade de gênero. Sem ações concretas não há combate ao racismo, no movimento negro sabemos: “Nada sobre nós sem nós”. Este sindicato precisa se renovar no seu discurso e movimentos. Neste sentido, este coletivo provoca todas as tendências e correntes políticas que compõem este sindicato a refletir sobre sua composição e as motivações que levaram a atual situação. Com uma reflexão honesta compreenderão como o racismo na estrutura de nossa sociedade é excludente e cruel, esta crueldade continua até mesmo no modelo atual de nosso sindicato, onde a proposição do grupo de negras e negros organizados depende da aprovação de uma maioria branca, no maior país negro fora da África e de território originalmente indígena.
Acreditamos que esta luta é o começo e que juntas, juntos e juntes podemos contribuir para um futuro sem opressões sistemáticas oriundas do fascismo, racismo, LGBTQAN+, capacitismos, gordofobia, misoginia e aporofobia.
Nosso Quilombo repete “POVO NEGRO, UNIDO, POVO NEGRO FORTE, QUE NÃO TEME A LUTA, QUE NÃO TEME A MORTE”
Adufes