Conceição Evaristo será a primeira mulher negra a receber essa homenagem na Ufes. Sua história e trajetória incluem a defesa da democracia, a luta antirracista e o combate intransigente ao racismo e às violências em todas as esferas e dimensões institucionais da sociedade
Na próxima terça-feira, 15 de abril, às 18 horas, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) homenageará a escritora, linguista e referência da literatura brasileira contemporânea Maria da Conceição Evaristo de Brito com a outorga do título de Doutora Honoris Causa. A cerimônia será realizada no Teatro Universitário, no campus de Goiabeiras, em Vitória. A Adufes foi uma das entidades a reivindicar a homenagem desde que a ideia surgiu.
A honraria reconhece a relevância da contribuição de Conceição Evaristo para a cultura, a educação e as lutas sociais no Brasil, especialmente no campo da valorização da população negra e da produção intelectual das mulheres negras. A aprovação da concessão do título se deu por unanimidade no Conselho Universitário (CUN) da Ufes no dia 5 de setembro de 2024.
Conceição Evaristo será a primeira mulher negra a receber essa homenagem na Ufes. Sua história e trajetória incluem a defesa da democracia, a luta antirracista e o combate intransigente ao racismo e às violências em todas as esferas e dimensões institucionais da sociedade, em particular contra as mulheres negras que continuam sendo as maiores vítimas das desigualdades.
A professora aposentada do curso de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde (CCS) Rita Lima, que é da base da Adufes, integra a comissão que fomentou a homenagem e a vinda de Conceição Evaristo à Ufes para a cerimônia do dia 15. Ela explica que a produção da homenageada promove reflexões sobre novas maneiras de se ressignificar, reagir e agir no enfrentamento às desigualdades e ao racismo que historicamente estruturam a sociedade brasileira.
“Estamos realizando um sonho que começou em uma conversa informal entre professoras, durante uma assembleia da Adufes, em 2024. Propusemos à Ufes algo inédito: conceder o título de Doutora Honoris Causa a uma mulher negra — a escritora e intelectual Conceição Evaristo. Sua obra tem uma relevância imensa para a luta antirracista, para os movimentos sociais e para a valorização das mulheres negras”, explicou.
Rita acrescenta que esse reconhecimento também é simbólico. Até hoje, apenas duas mulheres receberam essa honraria na Ufes, e nenhuma delas é negra. “A homenagem à Conceição vem no mesmo mês em que a universidade cassou títulos concedidos a membros da ditadura militar, num gesto de reparação e compromisso com a memória, a verdade e a justiça. Enquanto alguns homenageados do passado representaram tempos sombrios, Conceição Evaristo representa o futuro que queremos construir: democrático, justo e plural. Sua escrita denuncia violências, propõe resistências e inspira novos caminhos”.
Momento histórico
A professora do Centro de Educação (CE), pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/Ufes) e assessora política com a comunidade acadêmica da Administração Central da Ufes, Patrícia Rufino, também destaca a importância do momento histórico no qual a decisão da Universidade está inserido.
“No momento da cassação do título de Doutor Honoris Causa de membros da ditadura, reafirmamos nosso compromisso com a educação pública de qualidade e nos inspiramos em pessoas que realmente podem fazer a diferença na vida de outras. Conceição Evaristo representa exatamente isso: essa motivação, essa universidade plural, com diversidade, racialmente inclusiva, que tem buscado, sobretudo, fortalecer as políticas raciais. Esse espaço acadêmico também é um lugar de resistência, de afirmação de identidades, que nós, pretos e pretas, pleiteamos continuamente. E um lugar de fortalecimento dos nossos jovens”, disse.
A programação da cerimônia contará com apresentações culturais inspiradas na obra da homenageada, incluindo a exposição fotográfica “E Eu, Mulher Preta?”, idealizada e curada pela produtora cultural Marilene Pereira, que retrata a força e a pluralidade da mulher negra no país. O Coral Serenata d’Favela também participará.
Na sequência, serão seguidos os ritos protocolares: a leitura dos termos indagativo e responsivo, a leitura da resolução oficial, a assinatura do termo de concessão, a entrega do diploma e o pronunciamento da homenageada.
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