Por: Ana Carolina Galvão*
Já circula nos nossos e-mails e listas de mensagens desde ontem, 26/08, o documento “DIRETRIZES GERAIS DE MIGRAÇÃO PARA A FASE 3 DO PLANO DE CONTINGÊNCIA DA UFES”, enviado pela reitoria acompanhado do OF. CIRC. Nº. 011/2021/CG/UFES dirigido a Pró-reitoras/es, SEAVIN, STI e diretores de centro. Apenas. Diz o ofício que “O objetivo deste documento [as diretrizes] é apresentar um conjunto de informações capazes de orientar os encaminhamentos administrativos relacionados à uma possível migração da fase 2 para a fase 3 do Plano de Contingência da UFES”.
Por que esse documento não está divulgado nos canais de comunicação da universidade? Por que a reitoria, depois de elaborar esse documento, não se dirige à toda comunidade universitária? Hoje em dia, essas coisas correm como rastilho de pólvora. Fica feio para a reitoria. Parece que estão tentando esconder as coisas ou decidir fazendo de conta que há democracia. Qual o problema de dialogar amplamente com a comunidade universitária? Medo de não prevalecer o que a reitoria quer fazer? Eu posso estar equivocada em minhas perguntas. Mas a maneira como procede a reitoria me abre a possibilidade de fazer essas interpretações.
Receber essas diretrizes depois de a imprensa capixaba pautar o avanço de fase é, no mínimo, estranho. Soubemos das intenções da reitoria de aprovar logo a fase 3 para “agir com antecedência” e de um possível agendamento de sessão do Conselho Universitário para dia 31 de agosto, pela imprensa! Nada foi enviado pelo Portal do Servidor e nem está na página da Ufes.
Há uma reunião agendada com o Conselho Departamental do Centro de Educação (o reitor tem ido a todos os conselhos). Assim, eu pergunto, em relação às/aos que estarão presentes nesta reunião que vai “discutir” essas diretrizes:
– os representantes do Centro de Educação no Cepe, que me representam, vão fazer quais perguntas?
– a chefia de meu departamento, que me representa, vai fazer quais observações?
– a representante do meu departamento no “Grupo de Trabalho para planejamento acadêmico e administrativo para avanço à fase 3 do Plano de Contingência”, que me representa, vai levantar quais pontos de discussão?
– a coordenadora do colegiado de curso para o qual eu leciono, que me representa, vai destacar o quê?
– o coordenador do Programa de Pós-graduação ao qual pertenço e que me representa, vai apontar quais limites e possibilidades?
– o representante dos Núcleos e Laboratórios do Centro de Educação, que me representa, enquanto integrante de um Núcleo, vai salientar quais aspectos?
– a representante do CEI Criarte, que possui um Conselho Deliberativo do qual faço parte representando o CE, vai fazer quais colocações?
Esse documento das diretrizes é novo, não foi discutido em todas essas instâncias que listei. Eu não tenho direito a voz? Minhas/meus representantes receberam quais subsídios para se manifestar? Não adianta dizer que depois do Conselho Departamental isso será apresentado a todas/os.
No Centro de Educação, as decisões têm sido tomadas em diálogo com a comunidade por meio dos fóruns. Mas, agora, por exemplo, Nós (todas/os) não podemos participar. Por que não? Vejam, minha crítica não é ao Centro de Educação, mas a esse método da reitoria, que só dialoga com as “cabeças”. Nosso diretor, membro do Conselho Universitário, já tem uma posição aprovada no Fórum do Centro de Educação, contrária ao ensino híbrido. Mas, e essas diretrizes? Nós vamos discutir quando? E com quem? E qual será o efeito da discussão? Ou não haverá discussão e apenas repasse de informe? Nós temos, de fato, algum poder de intervenção?
Eu li as diretrizes. Tenho elogios, críticas, perguntas. Quando eu poderei fazê-las? Minhas ponderações serão consideradas ou apenas “registradas”?
Como professora do Centro de Educação, que tem insistido que representação não é cheque em branco, me sinto excluída do processo democrático. Com isso, não estou dizendo que não confio nas/os nossas/os representantes. O fato é que como estamos sendo impedidos de efetivamente participar do processo, uma grande riqueza de opiniões, propostas e reflexões, está interditada.
Sérgio Buarque de Hollanda, em uma entrevista publicada em 1976, intitulada “A democracia é difícil”, quando perguntado se sua afirmação de nunca ter havido democracia no Brasil significava que as camadas populares jamais participaram do jogo político, afirma: “No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico, mas em certos momentos, de repente, pode irromper brutalmente”.
Estaríamos nós adormecidos e conformados com as decisões de poucos sobre muitos?
*Ana Carolina Galvão – Servidora pública, docente da Ufes e que quer ter o direito de participar democraticamente das decisões da universidade
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