Livro produzido pela Adufes sobre intervenções nas eleições para reitoras/es será lançado em Brasília

O documento foi produzido a convite do Andes-SN e o texto é de autoria do professor do Departamento de História da Ufes André Ricardo Pereira; da presidenta da Adufes, Junia Zaidan; e da ex-presidenta, Ana Carolina Galvão

O dossiê produzido pela Adufes sobre as intervenções nas eleições para reitores/as nas instituições de ensino superior federais brasileiras deu origem ao livro “A Invenção da Balbúrdia: Dossiê sobre as Intervenções de Bolsonaro nas Instituições Superiores de Ensino”, que será lançado no “Encontro das Universidades e Institutos Federais e Cefets em Luta contra as Intervenções”, nos dias 11 e 12 de maio  A pesquisa identificou 28 casos de descumprimento da vontade soberana das comunidades acadêmicas desde o início do Governo Bolsonaro. A Ufes foi vítima de uma dessas intervenções uma vez que sua reitora legitimamente eleita, Ethel Maciel, não foi nomeada.

O documento foi produzido a convite do Andes-SN e o texto é de autoria do professor do Departamento de História da Ufes André Ricardo Pereira; da presidenta da Adufes, Junia Zaidan; e da ex-presidenta, Ana Carolina Galvão.

O evento dos dias 11 e 12 de maio será realizado em Brasília e terá transmissão online, com a participação de diversos/as reitores/as eleitos e não empossados, entre eles/as Ethel Maciel. A Adufes será representada pelas/os docentes Ana Carolina Galvão e André Ricardo Pereira.

Dados

Atualmente, o Brasil conta com 69 Universidades Federais, sendo que seis delas são recentes e não possuem estatutos aprovados pelo MEC, o que faz com que a direção seja entregue a um/uma reitor ou reitora pró-tempore. Durante a presidência de Bolsonaro (dado obtido até fevereiro de 2022), 55 universidades fizeram consultas às suas comunidades acadêmicas e formaram listas tríplices. Duas delas estão com suas listas no MEC aguardando o decreto de nomeação: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Deste universo, 22 entidades sofreram intervenções. Uma delas, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), foi submetida duas vezes, totalizando 23 casos no país. Somados às intervenções nos institutos (três casos no CEFET/RJ, um no IFSC e um no IFRN), sobe para 28 o número de interferências.

A pesquisa demonstrou que em 10 episódios, influências externas às comunidades acadêmicas foram determinantes. Outros 10 casos foram classificados como de alinhamento ao governo, ou seja, a razão principal para nomear a pessoa foi a de uma proximidade política e, até, religiosa com o executivo federal. Outras oito indicações não podem ser enquadradas na categoria do alinhamento ao governo, ocorrendo por diversas razões, como foi o caso da Ufes.

Relações espúrias

O professor do Departamento de História da Ufes André Ricardo Pereira, que coordenou o dossiê, ressalta a relação do documento com o momento atual do Brasil. “Temos um dossiê que mostra como lideranças da extrema direita, da direita tradicional e religiosas se imiscuíram no processo de indicação de dirigentes de instituições federais de ensino. O que se consolida é a percepção que se trata de um projeto, conforme está dito no dossiê. Não é pura e simples ‘corrupção’. O que acontece com o MEC em todos os sentidos (escolas cívico-militares; Future-se, projeto que desfinancia o ensino superior público e coloca as instituições a serviço dos interesses do mercado e não da população; homeschooling, que é a educação domiciliar com metodologias e conteúdos definidos pelos pais; censura no Enem; corte drástico de verbas) é coerente com as intervenções”, disse.

Além disso, o professor explica que o projeto do Governo Bolsonaro para o MEC passa pela apropriação do Estado com o propósito de destruir definitivamente qualquer possibilidade de uma educação pública, democrática e de qualidade por uma educação dirigida pelo capital, voltada à formação para o mercado (empreendedorismo cultural), elitista (Reforma do Ensino Médio e a nova Base Nacional Comum Curricular – BNCC) e autoritária.

“Acabar com a autonomia das instituições, com o pouco que se conseguiu de estruturação de pesquisa, demonizando o saber, colocando docentes e discentes na posição de criminosos, com discursos como o da ‘maconha nos campi’ e os supostos perigos à moralidade tradicional. Tudo isso é um combo, do qual o ataque à autonomia é um dos componentes”, explicou André Ricardo.

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