Conquistas da categoria docente foram possíveis graças às ações da Adufes e de outros Sindicatos. Contudo, as pautas são mais amplas compondo uma história de lutas para construir uma universidade popular, socialmente referenciada, gratuita, laica, de qualidade, com acesso e permanência, e em defesa de uma sociedade mais justa e livre de opressões
Foi realizada na noite desta quarta-feira, 31 de maio, uma Solenidade de comemoração pelos 45 anos da Associação dos Docentes da Ufes, a Adufes. O evento aconteceu na sede do Sindicato, no campus de Goiabeiras, em Vitória-ES. Estiveram presentes a atual diretoria, ex-diretoras/es e presidentas/es, assim como diretoras/es de centros, autoridades e inúmeras/os representantes dos movimentos sociais, e também do Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes) e Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE-Ufes).
Durante a Solenidade, que teve como mestre de cerimônia a secretária-geral da Adufes, Aline Bregonci, foi feito o lançamento do painel em homenagem póstuma ao professor Cleber Maciel, cuja história de luta contra a opressão do povo negro está marcada na Ufes, assim como da bandeira antirracista da Adufes, além de homenagem às/aos ex-presidentas/es.
A presidenta da Adufes, Junia Zaidan, fez uma fala de agradecimento às/aos funcionários do Sindicato e às/aos prestadoras/es de serviço e à diretoria que atua junto com ela, lembrando o momento pelo qual a Ufes está passando, com protestos de suas/seus estudantes por uma política de permanência capaz de verdadeiramente garantir a permanência de todas/os para que concluam seus cursos.
Desde segunda-feira, 29, o movimento estudantil legitimamente protesta contra as condições precárias do Restaurante Universitário (RU) e a crescente exclusão de alunas/os que não têm condições de pagar pelas refeições e não são enquadrados nas atuais políticas de isenção. Junia Zaidan lembrou que a luta pela Universidade pública de qualidade é de todos os segmentos e compartilhou com os presentes a informação de que a Solenidade poderia ter sido feita na barricada do Portão Norte, caso as/os estudantes decidissem manter o fechamento, o que não ocorreu.
“A nossa luta é unificada, apesar das nossas diferenças. A Adufes segue na luta por recomposição salarial, mas também do orçamento das universidades e pelo fim da lista tríplice na escolha de reitoras/es, para que o processo comece e termine aqui dentro, sem que dependamos da nomeação por qualquer presidente da República. A presencialidade no ensino é inegociável e rechaçamos a Reforma Administrativa, que continua a ameaçar o serviço público”, frisou.
A reitora eleita e não nomeada da Ufes, Ethel Maciel, primeira mulher eleita para o cargo, também esteve presente e falou sobre o apoio que recebeu da Adufes durante todo o processo que vivenciou de intervenção do Governo Federal anterior na gestão da Universidade. Ela lembrou que não se tratava de um apoio à Ethel “pessoa física”, mas à comunidade universitária, que assistiu o presidente da República desrespeitar a decisão democrática de uma comunidade de milhares de pessoas que a escolheram para o cargo.
Homenagem
Durante o evento, foi realizada uma homenagem a todas/os as/os 23 ex-presidentas/es da Adufes. Dentre elas/es, estiveram presentes: Ana Carolina Galvao; Edson Pereira Cardoso; Elisardo Corral Vasquez; Eugenia Celia Raizer; Fabio Correa Dutra; Joao Baptista Herkenhoff; Jose Antonio da Rocha Pinto; e Marlene de Fatima Cararo Pires. Todas/os foram representadas/os em uma fala feita pela primeira mulher eleita presidenta da entidade, a professora Eugenia Celia Raizer. Além disso, um vídeo com o professor aposentado do Departamento de Direito, João Baptista Herkenhoff, primeiro presidente da entidade, foi transmitido.
A vice-presidenta da Adufes, Jacyara Paiva, também dirigiu uma homenagem, dessa vez ao professor Cleber Maciel e saudou lideranças históricas do movimento negro que estavam presentes lembrando que elas “arrombaram” portas para que professoras como ela pudessem hoje compor o quadro de docentes da Ufes, frisando as dificuldades enfrentadas pelo homenageado na década de 70 integrando o corpo docente da universidade enquanto homem negro.
“Obrigado a cada um/uma de vocês pelas portas que vocês arrombaram para que eu pudesse estar aqui. E porque vocês ‘arrombaram’ portas eu tenho a obrigação de seguir ‘arrombando’ outras portas porque vivemos em uma sociedade racista e nossa universidade não está salva disso. Nossa universidade é atravessada pelo racismo estrutural e institucional. Durante esse período de manifestação das/os estudantes fico ao lado delas/es porque a maioria das/os meninas e meninas que dependem da assistência estudantil e do RU tem o rosto preto”, disse.
Ela lembrou que a Ufes tem apenas 15% de professoras/es negras/os e que esta porcentagem, além de incerta, é absurda, defendendo que a Universidade cumpra a Lei 12.990/2014, que estabelece cotas para concursos de docentes, legislação que é descumprida há nove anos .
Recentemente a Reitoria enviou uma proposta de Resolução sobre cotas para o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) sem discuti-la com a comunidade acadêmica e os segmentos da universidade. A minuta foi apresentada pela Universidade após intensa pressão dos movimentos sociais e da Adufes, que continuam reivindicando que a Ufes dialogue antes de uma decisão definitiva.
Após a fala da vice-presidenta, as/os presentes foram até o gramado na frente do prédio da Adufes e participaram da inauguração do painel com a pintura do professor Cleber Maciel.
Ditadura
A professora Ana Heckert, diretora da Adufes, lembra que a memória das lutas por uma universidade pública, como direito de todas/os/es e qualquer um/uma que cultiva o exercício da autonomia e da ética, semeou a criação da Adufes há 45 anos, no contexto da ditadura militar.
“Se temos uma carreira docente e condições mínimas de trabalho, é porque no meio do caminho existe a Adufes. Nosso sindicato é o espaço das perguntas incômodas, das defesas intransigentes, das apostas em vidas dignas, dos debates intermináveis, das alianças contra o racismo, a desigualdade social, a lgbtqiap+fobia, o machismo e a misoginia. As lutas mudam, as pautas variam, os modos de vida se diversificam, e a Adufes permanece como o território de defesa da educação pública e de uma universidade plural. Que a Adufes continue como espaço potente de lutas!”, defendeu.
A ex-presidenta da Adufes, Marlene de Fátima Cararo Pires, ressaltou que a Adufes exerce papel fundamental na Ufes. “No início estávamos construindo a saída da ditadura e a luta não ficou restrita às questões dos direitos das/os docentes. Participamos desde a Constituinte de 1988 até as lutas históricas pela consolidação da Universidade, funcionando como espaço democrático para o debate sobre políticas de educação, defesa da universidade pública e também da luta sindical. Participei de greves enormes, longas. A gente estava lutando por salário e carreira, mas também promovíamos atividades para as/os estudantes, debatíamos reposição de forma a proteger a formação das/os discentes. É a Adufes que faz a pressão em defesa da própria Ufes e dos espaços democráticos, ajudando a construir a universidade”, disse.
O professor Edson Cardoso, também ex-presidente da Adufes em várias gestões e integrante da atual diretoria, explica que a Adufes tornou-se sindicato em 1993, somando forças com o Andes-SN, criado em 1988, para as lutas por salários, condições de trabalho e carreira. “Temos as pautas da categoria. Nesses muitos anos tivemos perdas e ganhos, mas se hoje temos uma carreira consolidada e valorização, isso é fruto das lutas históricas que continuamos fazendo. Contudo, nossas frentes são muito mais amplas. O nosso debate é sobre as questões da universidade pública e gratuita, sobre justiça social. Desde as origens, nos debruçamos e lutamos a partir de uma perspectiva popular de universidade e de sociedade, contra injustiças, desigualdades e em defesa de uma sociedade menos discriminatória. E é assim até hoje. Há conflitos internos e é assim que deve ser. Se não for assim, não é universidade pública”, disse.
Fundação
A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo, a Adufes, completou 45 anos nesta quarta-feira, 31 de maio, de muita história de luta pela classe trabalhadora, sobretudo pela categoria docente, mas também de contribuição para a construção da educação pública no Espírito Santo e no Brasil.
Fundada em 1978, em plena ditadura militar, a Adufes chega aos 45 anos com uma história de valorização dos serviços públicos, direito da população brasileira. A luta, que já dura mais de quatro décadas, vai continuar sempre em busca da universidade que queremos: com financiamento público, laica, socialmente referenciada, democrática, acessível para todas e todos e, mais do que nunca, presencial, de qualidade e com garantia de permanência para as/os estudantes.
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Adufes