Durante reunião, um representante da Reitoria disse que as/os presentes não estavam ali para brincar de casinha, se reportando a professoras; tentou colocar alunas/os contra professoras/es; afirmou que alunas/os em greve são os que não têm ocupação; e que movimento grevista nunca beneficiou discentes. Reitoria já havia se comprometido a não judicializar a greve
A Associação dos Docentes da Ufes (Adufes) recebeu na tarde desta quarta-feira, 17, uma notificação extrajudicial do Gabinete da Reitoria da Ufes para a desocupação dos portões de acesso à Universidade. O compromisso feito pelo reitor Eustáquio de Castro na segunda-feira, 15 de abril, quando os portões já estavam ocupados, era de não judicializar a greve, mas o teor do documento enviado, repleto de argumentos jurídicos, é o passo que antecede a ação judicial. Diante dessa intimidação ameaçadora e criminalizante, a plenária deliberou pela abertura do Portão Norte do campus de Goiabeiras e dos portões de pedestres.
Durante a primeira reunião da Comissão de Interlocução entre a Administração Central e o Comando de Greve Docente da Ufes, realizada na terça-feira, 16 de abril, foram proferidas ofensas machistas, antissindicais e com preconceito de classe contra integrantes do movimento grevista. Além disso, a sinalização de que haveria uma quebra de compromisso já havia sido dada. A presidenta da Adufes, Ana Carolina Galvão, e as professoras Lívia Moraes e Patrícia Martins, integrantes do Comando de Greve, estiveram no encontro, assim como representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), discentes da base e integrantes da Administração Central da Ufes.
Na ocasião, as falas das/dos representantes da Reitoria já contradisseram o discurso oficial de que a Ufes não judicializará a greve, apresentando a liberação dos portões como condição para o avanço do diálogo e citando, por nota, posteriormente, que não seriam lenientes com o que chamaram de “atitudes ilegais”.
A notificação enviada pela Ufes pede a desocupação dos portões de todos os campi da Ufes, entretanto apenas o campus de Goiabeiras tem ocupação em andamento. Além disso, o documento diz que “Gestão da Ufes buscou estabelecer o amplo diálogo com o movimento”, o que é uma inverdade.
Ofensas e preconceitos
O “amplo diálogo” realizado pelos representantes da Reitoria foi o seguinte: durante a reunião desta terça-feira, 16, a Administração Central partiu para um confronto que surpreendeu as professoras presentes. Um representante da Reitoria tentou colocar as/os estudantes presentes contra as/os professoras/es, afirmando que sindicato nunca se preocupou com estudantes, que ele nunca viu greve beneficiar alunas/os, e que as pessoas presentes não estavam ali para brincar de casinha, se reportando a três docentes mulheres que representam a categoria em greve. Além disso, ele afirmou que as/os estudantes que fazem greve são os que não são ocupados e que são manipulados por professoras/es que atuam na Ufes.
Como a nota no site da Ufes noticiando a reunião não traz essas informações imprescindíveis sobre o teor e o nível da conversa realizada dentro da sala de reuniões da Reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a Adufes e o Comando de Greve avaliaram a importância de cumprir o papel de trazer isso a público para que a comunidade universitária possa avaliar a situação com todos os elementos possíveis e toda a transparência.
As falas foram rechaçadas pelas representantes da categoria na mesa da reunião. Elas apontaram o teor machista e antissindical do que foi dito, além do evidente elitismo e preconceito de classe, uma vez que as/os estudantes que optaram pela paralisação são trabalhadoras/es e/ou atuantes em estágios e atividades diversas dentro da Ufes e têm o direito de deliberar sobre as melhores ações para suas lutas, como têm feito em suas assembleias. Além disso, acrescentaram que há nas falas uma evidente criminalização da luta dos segmentos e uma visão preocupante por parte da Administração Central da Ufes sobre sua própria comunidade.
Serviços Essenciais
A reunião tinha como pauta o funcionamento dos serviços essenciais na Ufes. Entretanto, os representantes da Administração Central mostraram resistência para informar quais são esses serviços, insistindo que tudo era essencial e que a ação grevista nos portões deveria ser encerrada, interditando a negociação. Posteriormente, informaram uma lista dos serviços que precisam ser mantidos e destacaram alguns itens prioritários que, rapidamente, avaliados pelo movimento grevista.
O Comando de Greve ressaltou que o Restaurante Universitário (RU) está funcionando normalmente e que o acesso à Escola Experimental, sob responsabilidade da Prefeitura de Vitória, também está aberto. Além disso, o evento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) que aconteceu nesta quarta-feira, 17, no Teatro Universitário, também transcorreu normalmente.
O Comando de Greve reafirma que as ações de greve são pautadas pelas/os trabalhadoras/es e não pela Administração Central da Ufes, sem que isso impeça o diálogo com a direção da Universidade. A decisão pelo piquete, que é ferramenta histórica dos movimentos grevistas, também se baseia nos inúmeros relatos de assédio a docentes que deflagraram greve, assim como contra estudantes, o que protege as pessoas que estão sob ameaça.
Compromisso
Na reunião, o Comando de Greve se comprometeu a registrar que a Administração Central fez um apelo ao movimento grevista para que os acessos sejam liberados para circulação normal de pessoas e veículos. O apelo foi repassado durante a plenária da terça-feira, 16, realizada no início da noite, de acordo com o compromisso feito na reunião. O Comando de Greve reafirma que cumpre seus compromissos e espera que a Administração Central da Ufes cumpra com os seus ao invés de partir para a judicialização, intimidação, obstrução de negociações e ofensas gratuitas dentro das dependências da única universidade pública do Estado.
Adufes